O colunista começou a retratar o cotidiano e os casos pitorescos do meio rural nos anos 90 e agora a internet está impulsionando suas histórias.

Dado o conhecimento e a relação com os moradores do interior, o colunista Almir Girardi não tem dificuldade em achar uma história pitoresca. Na maioria das vezes, o pessoal é que o comunica sobre algum fato que possa render um espaço em sua página; em outros casos, as pessoas nem percebem que a história possa se transformar em algo que vai gerar interesse, até que Almir sugira colocar em sua coluna. Tem espaço para mostrar as carneações de porco, legumes com formatos estranhos, animais “artistas”, a relação do homem com a terra e os bichos.
Encontrar e relatar casos interessantes se tornaram uma especialidade do Almir. Ele começou trabalhar no JdeB como entregador, aos 13 anos, depois fazia o fotolito, no tempo da fotografia analógica. Quando surgiu uma vaga para ser cobrador no interior pelo Jornal, topou e aproveitava para levar uma câmera nas andanças pela área rural, aí ia registrando o que lhe atraía mais a atenção e publicando esporadicamente durante a semana. Em pouco tempo, ganhou um espaço exclusivo, a coluna semanal, aos sábados. E no próximo dia 30, a página do interior completa 22 anos da primeira publicação. “Calculo que já contei umas mil histórias”, estima.
Especialista em interior
Hoje Almir é responsável pelo setor de entregas do JdeB e também faz vendas. Como conhece bem o interior – da Barra do Cerne ao Rio Ligação – não tem muita dificuldade em encontrar conteúdo, ainda mais com as facilidades da tencologia. “Antes era mais trabalhoso, agora faço as fotos pelo celular, envio os textos já prontos para o jornal e a equipe revisa e diagrama na página.” Almir aparece pouco na redação; seu local de trabalho é a rua e as estradas do interior.
Histórias inesquecíveis
Das tantas histórias publicadas desde 1999, duas são marcantes. A do catador de recicláveis que adotou dois urubus (Cuco e Cuca) e andava com as aves no ombro e o caso do cão que uivava acompanhando o dono ao tocar gaita. Esta última lhe rendeu um Prêmio Amsop de Comunicação pelo registro da imagem, sem som, mas que traduziu perfeitamente a história.
Desde o ano passado, a Coluna do Interior passou a ser publicada na versão on-line do JdeB, já que para muitos moradores da área rural a internet é mais fácil de acessar que o jornal impresso. Isso ajudou a popularizar as histórias num momento especialmente delicado. Em meio à tensão da pandemia, foi uma forma de levar conteúdo mais leve e descontraído para as pessoas. O resultado: muitas vezes, a Coluna do Almir figurou entre as matérias mais acessadas da semana. O caso do sítio, no Divisor, que tinha muitas cobras já está batendo os 170 mil acessos e situações como o inventor do tratador de galinhas, a porca que deu cria a 35 leitões, da égua que morreu de infarto e do eucalipto gigante superam as 50 mil visualizações.
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Coelho sapeca
Foi assim também com o coelho Tochinha, que viralizou nesta semana. O casal Nilson e Rosani Pelisser é asisnante do JdeB e possui uma panificadora, onde o Almir é cliente. Sabendo da linha editorial das matérias do colunista, comentaram sobre o temperamento do coelho, que virou personagem da página na semana passada. A publicação na internet foi vista de forma divertida e repercutiu nacionalmente. “A gente nem acreditava que teria toda essa abrangência, agora as pessoas vêm aqui ver o coelho, virou uma atração”, conta Rosani. Também pudera: um coelho estressado que ataca os donos e namora uma galinha.
O bom humor e a simplicidade são a cara da Coluna do Interior. “Às vezes, nem eu sei explicar direito porque as pessoas gostam tanto dessas histórias, mas acho que é porque muita gente se identifica e por serem assuntos mais leves e descontraídos, algo diferente do que nomalmente se vê nos jornais”, comenta o colunista. Quando chega sexta à tarde, a equipe do JdeB fica na expectativa e alguém da redação já solta a pergunta: o que que o Almir tá aprontando pra edição de amanhã?