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Francisco Beltrão
domingo, 08 de junho de 2025

Edição 8.221

07/06/2025

Idevaldo Zardo não queria ser prefeito, mas se elegeu três vezes

Quando jovem, quase não estudou porque começou a trabalhar com 8 anos. Foi safrista de porco, arrastador de tora, comerciante. Ao ser indicado para prefeito, não queria porque a experiência de seu irmão Arival não o animava, detestava as “sujeiras da política”. Acabou sendo prefeito de Clevelândia por 14 anos, somando duas gestões de quatro anos e uma de seis anos. Hoje ele não está filiado a nenhum partido e diz que, sobre política, não quer dar nem palpite.

 

Idevaldo Zardo no dia desta entrevista.
Foto: Ivo Pegoraro/JdeB

 

Em 1972, Idevaldo Zardo concorreu com outros quatro candidatos (Everaldo Pacheco Lustosa, Guilherme Domingos Camilotti, Jecir Brandalise e Nelson Eloy Petry) e se elegeu prefeito de Clevelândia com 1.043 votos; em 1982, concorreu com mais cinco candidatos (Ênio José Simonatto, José Guerreiro de Paula, Celso José de Lima Reis e Francisco Carlos Barbosa), e se elegeu com 2.876 votos; em 1996, concorreu pela terceira vez, e novamente foi eleito, com 5.170 votos, desta vez concorrendo com apenas um candidato (Marcos Antonio Loyola).
Por 14 anos ele ocupou um cargo que dizia não desejar. E ainda hoje afirma que não se considera político. “Político é aquele que faz da política uma profissão. Eu sou dedicado ao trabalho.” Aos 85 anos, reside em apartamento no centro de Clevelândia, curte sua aposentadoria, diz que não está filiado a nenhum partido e, sobre política, não quer “nem dar palpite”.
Idevaldo Zardo é catarinense de Videira. Nasceu dia 23 de julho de 1932. Desde 1957 reside em Clevelândia. Teve comércio (atacado, varejo e de cereais), junto com seu pai, Antônio Mariano Zardo, o irmão Arival Antônio Zardo, que também foi prefeito de Clevelândia (1963 a 1968) e César Luís Fantinel (seu primeiro vice).
Casado com Elza Zardo Zardo (prima), tem quatro filhos: Suzete, Idevaldo Zardo Júnior, Percy e Rodrigo; dois netos e um bisneto (Murilo).

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JdeB – Como foi a primeira campanha?
Idevaldo – Eu ia disputar pra vereador e começou aquela insistência “tem que colocar mais um porque os outros são fortes”, “eu não quero”. Conversei com meu pai, meu irmão e mais o César, e meu pai disse “quer dar uma mão, pra arrumar uns votos, sai você e sai o César de vice”. E assim foi. O pessoal do contrário saía pro interior, a colonada falava “os caras tiveram aqui e disseram que você não faz 150 votos” e eu dizia “melhor, se eu não fizer 150 votos, porque estou fora da política”. Quando se aproximou, o pessoal começou a falar “a peteca vai cair na tua mão” e eu disse “não, não tem jeito”. Nos comícios e nas reuniões eu pedia votos pro Petry e pro Jecir, eu não votei pra mim.

O senhor não queria assumir?
Não queria. Eu fiquei quase doente quando saiu o resultado.

É? Por que o senhor não queria?
Não queria porque o meu irmão tinha sido prefeito e achava que a política era muito suja, agressiva. Tinha uns coronéis que tavam contra. Por isso eu não queria ir. Aí fiquei triste.

Não comemorou?
Fui pra casa e falei pro pessoal “se vierem à minha procura, diga que não tô”. Não comemorei de jeito nenhum.

O senhor achava que ia prejudicar na loja também?
Não, por causa da loja não. Mas era minha intuição, porque não gostava daquele xingamento de comício e aquela coisa toda. Sempre fui contra isso. Na segunda vez fui por birra, porque você sempre tem que provar alguma coisa. 

Qual era o desafio da segunda eleição?
O Petry, na gestão de seis anos, foi bem durante três anos e acabou perdendo a eleição pra mim de novo. O pessoal vinha reclamar de estrada, enfim, vinham reclamar daquilo que tem direito. E dumas alturas em diante, aconteceu a mesma coisa com a eleição do Felippi, o pessoal vinha pedir pra consertar estrada, problema de escola e o meu assessor, o pessoal falava pra ele “olha, na próxima eleição vocês não vão ter voto nenhum. Vamos pôr o Zardo de novo!”. E esse meu compadre, que era assessor, dizia “não, o Zardo não se elege nem pra vereador”. Aí vem um e te conta estória, tem outro que vem e conta e um quinto e conta a mesma. Um dia liguei e pedi se ele tinha um tempo pra conversar comigo e fui lá: “Vim aqui conversar contigo pra saber qual a tua preocupação se eu for candidato ou não, ou se eu me eleger vereador ou não?” Aí ele quis se desculpar dizendo que não era assim e eu disse que pessoas idôneas me falavam isso e “se o partido achar que eu devo ser candidato, eu serei. Assim como tu diz que eu não me elejo vereador, eu vou me eleger e vou eleger sete vereadores, dos nove”. Ele ficou meio chateado e eu “só tenho uma coisa pra falar pra você: o dia que eu estiver subindo essa escada você esteja descendo”. E dito e feito! Ficou esperando na escada e se despediu. Às vezes, a gente pra provar que focinho de porco não é tomada, tem que aguentar o galo.

E a terceira vez que o senhor se elegeu, como foi?
A terceira eu fui meio desiludido pelo Rossoni. Eu não conhecia o Rossoni. Eu conhecia muito o Mozart, que era chefe de gabinete dele. Aí como o Rossoni e o Anibelli eram contrários, um dia ele ligou pra cá e eu “olha, deputado, não te conheço!” “Eu tô ligando porque quando você vier pra Curitiba eu e o governador queremos conversar com você”. Era o Lerner. E eu disse “se for questão política, não conversamos”. Ir pra Curitiba era só se eu fosse à praia e voltar por Curitiba. Cheguei na Assembleia e o Mozart já falou com ele. Entrei pra conversar com ele “deputado, estou aqui. Estamos com a loteria aí ou coisa parecida?” E ele disse “quase!” Contou a história e “eu e o governador queremos conversar contigo pra ti ser candidato a prefeito justamente pra provocar o Anibelli”. E eu disse que não tinha pretensão nenhuma e que ia pensar. Aí pedi qual seria o partido e, como não gostava do Brizola e ele disse que era o PDT, eu disse que não tinha conversa e nem disposição mais pra aquilo. Mas aí começou o pessoal daqui ligar pra lá e de lá ligar pra aqui “até posso ir, mas eu tenho umas condições aqui do que quero que aconteça em Clevelândia”. O segundo mandato do Lerner quebrou e o que eles cumpriram foi a questão de saneamento básico, tratamento de esgoto. Foi um investimento grande. Mas depois as emendas de orçamento também morreram pela metade.

O senhor que tem experiência mais longa como prefeito, qual é a receita para aguentar e não morrer e sofrer tanto como ele, que chegou à morte. O que o prefeito tem que fazer?
Não falar bobagem. Na política, há os adversários, não inimigos. Tem uns que levam como indenizado e isso é ruim. O cidadão tem que ser tratado com respeito, não interessa se é do A, B ou C. Temos todos os mesmos direitos. Foi isso que levou a confiança, muito embora tenha perdido muito com isso.

Perdeu porque os companheiros não queriam igualdade?
É, na primeira gestão, até marcaram uma reunião dos antigos do MDB. Cheguei na reunião, aí eu pedi pra um tal de Dario Lobo, que também foi funcionário da Prefeitura, qual era o assunto e um tal de Pedro falou “olha, nós estamos aqui reunidos porque somos teus companheiros. Estamos vendo que estão tratando os adversários”. “Mas não sou prefeito do partido, sou prefeito da população.” Não ganhei nenhum descontentamento por parte dos companheiros, mas na política os companheiros você tem que levar e os adversários você tem que conquistar. Acho que essa é a tônica da credibilidade.  

Tinha companheiros que não admitiam isso?
Esse pessoal mais antigo não admitia. Clevelândia teve iluminação própria com a Usina do Rio Chopim, que hoje é da Olvepar. E quem era amigo do prefeito que tava no poder, não pagava luz e nem nada. Uma parte desse pessoal se baseou nessa velha política. Não é assim, tem que ser tratado com igualdade

Quem orientou o senhor para agir assim?
Ninguém. O respeito que vem de berço. A honestidade. É aquele tripé, principalmente no interior, humildade, lealdade e trabalho. Acho que isso garante a confiança do povo.

Quando entregou a Prefeitura na última vez, qual foi o sentimento que o senhor teve, em 2000?
Olha, o que eu tive foi uma sensação de liberdade, porque deixei de ser peão da população e cabo eleitoral dos deputados, que às vezes vinham e queriam dinheiro pra campanha, em vez de ajudar os prefeitos, ainda queriam dinheiro. Então parei e não quero mais. O último que ajudei a eleger, o Álvaro Felippi, e o Ademir agora, votei nele e não fiz campanha. Agora, sou culpado porque o pessoal do Álvaro disse que perdeu a eleição por minha causa.  

Eles queriam que o senhor fizesse a campanha?
Mas eu me desfiliei, liguei pra ele e que precisava da assinatura dele. Aí ele disse pra eu subir lá, conversamos um pouco e aí disse “Alan, quero a assinatura tua, vou sair do partido”. “Vai se filiar em outro?” “Não, não vou me filiar em nenhum”. Aí ele disse “eu também vou sair do PSDB”. Chegou o pai dele e ele mostrou uma pesquisa, dei uma olhada na pesquisa e tal, mas sabendo que eles já estavam perdidos há mais de um ano e meio. E aí fui folheando e olhando, 52/54/60/65, dependendo a região até 80. Aí falei “com essa pesquisa, não precisava nem sair de casa”. Ficamos 30 anos juntos na política. Mas depois ele elegeu o companheiro, não consegui nenhuma carga de cascalho, nem pagando.

O senhor hoje está filiado a algum partido?
Não, nem quero. E em eleição não quero nem dar palpite.

O senhor lembra da criação da Amsop, quando seu irmão Arival era prefeito de Clevelândia?
Eu lembro de algumas reuniões, inclusive com o Gecir Brandalise, que era cartorário daqui. Era vereador no tempo dele o Gecir, o Dario Lobo…

Ele era do PTB. Não deu certo a primeira tentativa?
Não, mas daí ele voltou a conversar, no rolo aí. O de Dois Vizinhos, Jaime Guzzo, do Verê o Fedrigo, de Marmeleiro o Bandeira, um dos fundadores, e mais o prefeito de Santo Antônio, o Ari Furchin.

A Amsop foi criada em 68 e é o ano que seu irmão encerrou a gestão. Foi naquele ano que ele tentou ou foi um tempo antes?
Acho que dois anos antes de ele entregar a Prefeitura.

Ele tinha uma visão diferente ou será que alguém falou pra ele que era importante criar essa associação? 
Ele era formado em Bioquímica. E o meu irmão mais velho era advogado, o Írio Zardo, e foi prefeito duas vezes em Videira e uma no município novo que foi criado, Arroio Trinta.

Então na família o senhor tinha gente ligada à política?
Tinha, meu pai foi vereador em Videira. Ele foi candidato a vereador e fomos cabo eleitoral dele, mas se me chamarem de político eu digo que não sou político, sou um cara dedicado ao trabalho. Político é aquele que faz da política uma profissão. Eu não fiz isso, tive oportunidade na época que saiu o Lauro candidato, que eu tava na disputa aí, o Giacomini de Chopinzinho, o Ivanir de Coronel e o Lauro. Mas numa reunião ficou decidido o Lauro, mas ficou acordado que teria um candidato a prefeito dos pequenos municípios, fora de Pato Branco.  

Ah, o senhor era um dos indicados.
Eram doze municípios que atuavam.

O Lauro (Lobo Alcântara) foi em 86. Ele fez 19 mil votos e era MDB. O senhor também era MDB. O senhor poderia ter sido o deputado daquela vez?
Mais forte que o Lauro, mas é que eu também conheço minhas limitações. 

Limitações em que sentido?
Questão de representatividade, porque na verdade não sou formado em nada. Sou criado a laço, como diz o caboclo. 

Mas se criou num ambiente bom.
Sim, tive a escola primária. Depois, o caboclo, pra comandar alguma coisa, ele tem que ter vivido aquela situação. Ou ele entende de tudo ou entende de nada. No meu caso foi preciso, mas hoje não. Já fui safrista de porco nas caminhadas de Salto do Lontra, fui arrastador de tora quando meu pai tinha serraria. Comecei a puxar tora com caminhão de reboque quando tinha 15 anos e, pra falar a verdade, sobrava pouco tempo pra ir na aula e o Ginásio era só em Caçador, em Videira não tinha. Ginásio em Caçador dos Irmãos Maristas.

O senhor fala que as sugestões daqui, para a Constituição de 1988, não foram aproveitadas. Alguma coisa que não foi prevista naquele tempo faz falta hoje? 
Na verdade, o Ulisses, que era deputado, na época, não sei, acho que foi o Ubiraci, que veio me entrevistar um dia sobre a Constituição e o que eu achava da questão da Nova Constituição, e eu disse “o que eu acho é que já começou errado”. “O que, por exemplo, você acha que está errado?” “Pra não dizer que tá tudo errado, só vou dizer o seguinte: a Constituição jamais deveria ser elaborada por políticos e aí já está o erro”. Ele disse “o que você tem contra os políticos? Você não é político?” “Eu não, eu sou um trabalhador do povo, todo mundo quer tirar uma casquinha e não é por aí” e aí ele pediu como poderia ser feito. “O Estado deveria mandar um representante apolítico e um representante de cada pasta e esse pessoal que iria fazer a Constituição, e não os políticos”. O dia que foram lançar a Nova Constituição, a Constituição Cidadã e protetora da família brasileira e o Sarney era presidente, e falou “com esta Constituição o País vai ficar ingovernável”. A única coisa que o Sarney fez certo foi falar que o País ficaria ingovernável e está aí o resultado. Não existem deveres, só direitos. Criou uma vadiagem que pelo amor de Deus! Se você quiser achar um cidadão pra carpir um lote, tem que ser de 60 pra cima, porque dali pra baixo você não pega ninguém.

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