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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Ilda Schmitz: Uma vida dedicada à educação física e ao vôlei

A condutora da Tocha Olímpica que irá descer o Morro do Cristo, neste sábado, é uma atleta de vôlei e professora de Educação Física há 24 anos. A “sacada” de 230 metros de hoje representa, para ela, o auge, “não tem o que você conseguir mais do que isso”.

 

A professora Ilda Schmitz visitou o Jornal de Beltrão no dia desta entrevista.

 

Ela está entre os 22 condutores da Tocha Olímpica em Francisco Beltrão, neste sábado. Seu percurso, de 230 metros, é aquele que desce do Morro do Cristo. Ilda é uma das três pessoas indicadas pela Prefeitura, junto com Luiz Carlos de Oliveira Mendes, o Sarará, e o professor Almir Hugo Lopes.
Ilda tem seu nome marcado em Francisco Beltrão principalmente pelo vôlei, esporte que já lhe custou cirurgias nos dois joelhos. Além dos fãs da atleta Ilda, são incontáveis os seus alunos. Se todos forem prestigiá-la no evento de hoje, vai faltar lugar. Ela é professora de Educação Física em Francisco Beltrão desde 1992. É mais fácil falar dos colégios estaduais onde ela não lecionou, nestes 24 anos: Cristo Rei e Assentamento Missões.
Ilda nasceu na Barra Bonita, interior de Eneas Marques, dia 5 de março de 1967. É a sétima de dez irmãos, filhos de Idalino e Ibraina Warmling Schmitz: a Valdeci, Alvadi, Ademir, Edi (falecido), Laureci, Osni, Ilda, Sebilda, Regina e Augusta.
Quando estava com dez anos de idade, sua família mudou para Francisco Beltrão e ela estudou no Colégio Mário de Andrade. Destacou-se tanto no vôlei que recebeu um convite para atuar em Marília, São Paulo, onde cursou Educação Física.
Ilda é solteira e, mesmo não podendo mais atuar como atleta competitiva, continua ligadíssima ao esporte. É rotina, para ela, acompanhar as delegações que participam de jogos estudantis. 

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JdeB – Quando você percebeu que gostava de vôlei?
Ilda – Quando eu me conheci por gente, em Barra Bonita de Eneas Marques, meu pai, meus tios, meus irmãos já jogavam vôlei, mas naquela época jogar vôlei era bem diferente de hoje, eles se divertiam bastante. Eu já ficava observando e falei “nossa, que bacana que é isso aí, eu ainda vou conseguir jogar igual a eles”.

Quando veio para Beltrão, passou a jogar mais ou já jogava lá também?
Não, a gente brincava, porque eu tinha dez anos, quando eu vim pra cá a gente começou a estudar, no colégio fui começando a ter Educação Física, aí que eu fui começando a gostar mais e me apaixonando especificamente pelo voleibol.

Como que de Beltrão foi para Marília?
Eu treinei no Colégio Estadual Mário de Andrade, depois passei nas escolinhas municipais com o professor Almir e daí fui me destacando nos Jogos Escolares, surgiu o convite pra ir pra Cascavel, participei dos Jogos Abertos lá, participei dos Jogos Estaduais pela federação de Cascavel e depois, num Brasileiro que eu representei o Paraná em Santa Catarina, o pessoal de Marília veio chamar alguns atletas pra ir pra lá.

Jogou vários anos lá?
Joguei lá profissionalmente sete anos, onde eu consegui uma faculdade de Educação Física, onde me formei e depois retornei pra cá, pra trabalhar com Educação Física.

Quais são as posições no vôlei e em quais você atuou?
No voleibol tem as posições de levantador oposto, que é saída de rede, diagonal do levantador, tem dois ponteiros e dois centrais. Atualmente tem a posição de líbero, mas na época que eu jogava não tinha. Eu fazia central no time juvenil e ponteiro no time adulto em São Paulo. Quando eu retornei pra Beltrão, eu já comecei a ser levantadora, porque a posição de levantador é mais complicada, você tem que entender um pouco mais de voleibol, ver as outras posições e armar o jogo pros atletas fortes atacarem a bola.

Porque o sucesso de quem corta depende do levantamento.
Do levantamento, se não tem levantamento, o ataque também não vai sair. Ou não colocar altura suficiente, daí não vai sair o ponto que todo mundo gosta.

Foi paixão mesmo ou praticou outros esportes?
No colégio eu participava dos times de futsal, joguei futsal em Beltrão antes de ir especificamente pro voleibol, tentei handebol, basquete, mas não foi o meu forte, então, a grande paixão, que continua até hoje, é o voleibol, meu destaque é esse mesmo.

Quando teve uma oportunidade, voltou pra Beltrão.
É, quando eu me formei em 91, fiquei mais um ano jogando em São Paulo, daí apareceu a oportunidade de voltar pra cá e trabalhar com a Educação Física. E também pelos meus pais, que estavam morando sozinhos.
Qual é a dificuldade do professor de vôlei? O que mais tem que disciplinar no aluno?
Eu acho que primeiro a criança tem que gostar, porque eu acho que o esporte mais difícil de ensinar é o voleibol, que a bola está sempre no ar, você tem que se movimentar pra entrar embaixo dela pra fazer os movimentos, e os outros esportes você pode dominar, segurar ela pra depois continuar a jogada. No voleibol tem que ser tudo praticamente simultâneo, toque, levantamento, manchete. Se a criança tomar gosto pelo voleibol quando aprender pequeno, vai pro resto da vida continuar gostando de vôlei.

O percentual dos que gostam mesmo de vôlei é razoável ou muito baixo?
Não, a mídia ajuda bastante, a seleção brasileira faz com que haja um destaque grande no voleibol. Nas escolas hoje em dia tem bastante criança praticando, mas é tipo recreação. Pra depois gostar ele tem que participar de uma escolinha, daí vai aprimorando os fundamentos.

Não precisa levar tão a sério?
Não, não, pode-se jogar de várias maneiras, dois contra dois, três contra três, quatro contra quatro, depende da vontade da criança e ter uma bola, uma rede e jogar.

E pra quem leva muito a sério, como é o seu caso, pode acontecer desgaste. Os dois joelhos foram comprometidos?
Os dois joelhos; em um não tenho mais o menisco e noutro não tenho mais a cartilagem entre os ossos. Operei os dois joelhos e tenho problema sério na coluna, que é hérnia de disco devido ao impacto, porque o nível de rendimento de voleibol é desgastante, você salta num jogo de três sets mais de 200 vezes.

No vôlei, o que mais castiga é o joelho?
Joelho, tornozelo e os dedos das mãos, devido a tanta bolada que leva no bloqueio. Esses que são os mais prejudiciais.

Na mão não ficou sequela?
Não, o dedo da mão direita eu arrebentei o ligamento e quebrei o polegar também, mas isso não interferiu em nada, ainda consigo fazer os movimentos.

Como você vê Beltrão no cenário do vôlei?
Acabou ontem a fase regional dos Jogos Abertos, nós conseguimos o segundo lugar nas duas categorias, masculino e feminino. Pra nossa cidade, poderia haver mais incentivo pras outras modalidades, inclusive voleibol, mas no geral a gente vai se virando, ensina as crianças desde pequenas e estamos tendo resultados bons. Estamos participando este ano da Copa Oeste de Voleibol, categoria masculino juvenil e jogos oficiais, tem a Juventude agora no mês de julho também e os Jogos Abertos, infelizmente, não nos classificamos pra fase final, porque só classificaria primeiro lugar, e ficou a cidade de Palmas no masculino e a cidade de Dois Vizinhos no feminino.

Beltrão tem potencial pra mais?
Tem, um sonho ainda que eu gostaria de realizar é disputar o Campeonato Paranaense de Voleibol, fazer com que os atletas do nosso município tivessem essa oportunidade.

Você lecionou em praticamente todos os colégios estaduais de Beltrão. Tem preferência por algum? Quais são as características de cada um?
Cada colégio tem seus diferenciais, atualmente estou no Colégio Estadual Suplicy, é um colégio que eu trabalhei há muito tempo e retornei o ano passado. Preferência por colégio não tenho, a gente sempre tem preferência por aquele que está no momento. Hoje eu agradeço ao Colégio Suplicy, os alunos têm um grande conhecimento, todos eles me admiram também por eu levar bem a sério minha função, tanto como professora de Educação Física como técnica de voleibol atualmente.

O desafio é fazer as pessoas se exercitarem. Tem notado diferença, hoje em dia as pessoas estão realmente com dificuldade de se exercitar?
Atualmente, a criança não quer fazer atividade física, eles querem utilizar o celular, ficar na internet e a atividade física só em último caso. Eu comento com meus alunos que quando eles ficarem mais velhos, vão começar a aparecer as doenças nos corpos deles, aí eles vão ter que contratar um profissional de educação física, um nutricionista pra cuidar deles. Se eles conseguissem adquirir o hábito agora de pequenos, eles fariam atividade física por si só e se dariam muito melhor na vida, não teriam tanta doença. E vai acontecer que essa nossa geração agora vai ficar muito doente, não pratica atividade nenhuma.

O ideal seria começar a se exercitar desde quando?
No voleibol eu trabalho com crianças a partir dos sete anos, eu tenho escolinha com crianças de 7 a 13 anos um horário e depois de 13 a 17. Então se a criança gosta desde pequena de alguma modalidade, não especificamente o vôlei, ela vai adquirir aquele hábito, vai pro resto da vida e vai se sentir melhor também, com menos doença.

Não tem contraindicação de criança fazer exercício?
Nenhuma e tem várias atividades que a criança pode fazer desde pequenininha.

Hoje tem uma diversidade maior de esportes também, mas as pessoas não querem.
Não querem fazer, cansa, vai suar, é isso o que as crianças falam pra mim, mas é o bem pra eles, então eles têm que ter essa consciência e os pais precisam ajudar também. Se os pais começarem a falar mais sobre isso, que é importante pra eles, eles vão se dedicar mais e vai diminuir tudo o que está acontecendo hoje em dia.

Como recebeu a notícia da convocação para ser condutora da tocha?
Foi uma alegria imensa, porque eu fui indicada primeiramente pelos meus atletas do voleibol através do site do Bradesco, que é um patrocinador oficial das Olímpiadas, e depois também fui indicada pela Secretaria de Esporte, e eu fui escolhida pela indicação da Secretaria. Quando falaram que eu tinha sido indicada, eu não levei muito a sério. Aí começaram a chegar os e-mails pedindo o meu tamanho de uniforme daí eu “ah, acho que tenho chance”. Aí quando eu recebi a confirmação de que eu seria um condutor, eu fiquei muito feliz, nossa, não esperava. De tudo que eu já passei na minha vida esportiva, isso foi o auge, não tem o que você conseguir mais do que isso, conduzir a Tocha Olímpica.Então a gente pode passar pras pessoas que a melhor coisa na nossa vida atualmente é conduzir o fogo olímpico.

Para você, corresponde a um dos tantos títulos que ganhou?
É, mas é o último, eu acho, porque tenho bastante títulos como atleta, como professora, como técnica, conduzir a tocha aqui nos Jogos Abertos já aconteceu comigo, é uma emoção sensacional. Agora a Tocha Olímpica é indescritível a emoção, é uma coisa que não vai acontecer novamente comigo, então isso é o auge da minha vida como profissional da Educação Física.

Para quem não conhece Beltrão, que mensagem você acha que nós temos que tentar transmitir, aproveitando essa vinda da tocha?
Eu acho que as pessoas devem parar de falar que o Brasil tem tantas coisas ruins. Eu acho que a nossa cidade é maravilhosa, dá oportunidade pra muita gente em todos os sentidos, em todos os segmentos. E eu acho que nós poderíamos nos unir mais e começar a fazer coisas boas para a nossa cidade. Nós poderíamos começar dando exemplo aqui, nos ajudando e falando coisas boas. Quanto mais coisas boas falam, mais coisas boas se atraem. Nossa cidade é maravilhosa, uma cidade de povo hospitaleiro, gosta de receber as pessoas e eu acho que a gente tinha que continuar nesse caminho.

Qual é o percentual de crianças que querem fazer coisas positivas, como você acabou de falar?
Tem bastante. Eu tenho em torno de 150 crianças nas escolinhas municipais e a gente sempre procura passar que eles tratem bem as pessoas, que respeitem, que cooperem com as pessoas, então eu acho que nós podemos ainda fazer com que nessa geração que vem aí se tornem pessoas boas, que ajudem, principalmente os idosos, que ninguém mais respeita ninguém. A gente tem que passar essa informação pra eles, que quanto mais a gente propagar o bem, o bem vai acontecer na nossa vida.

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