
A inadimplência continua alta no país. O número de consumidores com contas em atraso e com CPFs negativados atingiu 59,25 milhões em maio, conforme informação da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Isso significa que 39,91% da população brasileira com idade entre 18 e 95 anos estão inadimplentes e com o nome registrado em serviços de proteção ao crédito. Entre os adultos de 30 a 39 anos, a proporção é ainda maior: mais da metade (50,32%) se encontram negativados, o que totaliza 17 milhões de consumidores enfrentando dificuldades para realizar compras a prazo, fazer empréstimos, financiamentos ou contrair crédito de modo geral.
Apesar do cenário de crise, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Francisco Beltrão, Ladi Dal Bem, observa que a região Sudoeste tem o diferencial de ter sua economia baseada no agronegócio. “Além disso, mesmo as pessoas que estão sendo demitidas, elas possuem uma reserva e ainda tem o seguro-desemprego, que ajuda momentaneamente até surgir uma nova vaga no mercado de trabalho.” Na prática, Ladi observa que o comércio local ainda não está sofrendo tanto com a crise. Até a primeira quinzena de junho, a Caixa Econômica Federal pagou aos trabalhadores do Sudoeste do Paraná que acessaram o seguro-desemprego R$ 47, 2 milhões. Neste período, 43.619 pessoas obtiveram o benefício. “Agora, se não reverter logo a situação do país, a coisa pode piorar”, pondera o dirigente.
A secretária executiva da CDL, Syrlei Zapellini, ressalta que as pessoas estão sendo demitidas, mas não estão deixando de trabalhar. “Estão indo para informalidade, ou tentando um novo negócio, o fato é que estão buscando seu sustento.” A tese dela faz sentido, pois, em 2014 Francisco Beltrão contava com 1.744 MEIs, fechou 2015 com 2.328 (+33,49%) e em abril já tinha 2.517 microempreendedores individuais. Muitos deles, são trabalhadores que foram demitidos recentemente e decidiram trabalhar por conta própria, mas de uma maneira legalizada. Syrlei reforça que o povo brasileiro é trabalhador e consegue sair rápido de crises.
Redução no sistema da Acefb
Segundo o técnico em relações com o mercado da Associação Empresarial de Francisco Beltrão (Acefb) Pedro Filippi, se comparar o primeiro semestre de 2016 (embora ainda não tenha fechado) com o mesmo período de 2015 houve uma redução de novas inclusões (pessoas negativadas), no serviço de SPC, de 17,82% no município. No mesmo período, ressalta, ocorreu amento de 61% de exclusões do sistema, ou seja, consumidores que renegociaram suas dívidas. Adriano Polla, também técnico da Acefb, enfatiza que o sistema foi lançado em 2014, por isso, no primeiro e segundo ano, as empresas foram motivadas a incluir seus devedores no serviço, fator que pode distorcer as estatísticas. “Houve um aumento natural no começo, agora o sistema vai se regulando aos poucos.” Ele frisa que a entidade está com um novo sistema, que possibilita a terceirização da cobrança, e em poucos meses já tem R$ 800 mil em dívidas do comércio para serem cobradas.

Hora de renegociar
O presidente da Associação Empresarial, Marcos Guerra, entende que neste momento de crise, as empresas precisam tem bom senso e saber negociar com seu cliente, principalmente aqueles que sempre foram fiéis. Na opinião dele, a situação do país também pede condições especiais para recuperar dívidas antigas. “As pessoas precisam ter seu nome limpo e é propício para essa atitude. Até receber apenas o capital ajuda no caixa e os clientes pendentes limpam seu nome para ter acesso ao crédito novamente.” Ademais, os empresários devem saber lidar com a inadimplência, para não fechar as portas. “É importante cuidar do fluxo de caixa como por exemplo agilizar estoque, trabalhar com estoque mínimo, evitar pagar juros com estoque alto, diminuir despesas acessórias, limitar ao funcionamento básico, porém não deixando de acreditar no seu negócio.
Jovem inadimplente
O professor Edson Melo, do curso de Ciências Econômicas da Unioeste, diz que chama a atenção o grau de inadimplência elevado entre os jovens (19-25 anos). “Muito jovens estão tendo dificuldade de entrar no mercado de trabalho, não tendo, assim, uma renda permanente. Ainda há o fato de muitos destes jovens realizarem suas compras sem planejamento, muitas vezes motivadas por impulso, o que é característico de pessoas que não tiveram acesso a uma educação financeira apropriada. Isso pode contribuir para comprometer não apenas a renda do jovem como também a da própria família, que muitas vezes acabam assumindo a responsabilidade de pagar essas dívidas.”
Dicas para os consumidores:
1 – Faça um controle rigoroso de todas as contas: o objetivo é confrontar a renda pessoal ou familiar mensal com todas as despesas. Diante da renda mensal, avalie o que está comprometido com despesas que não podem ser cortadas ou reduzidas. Com isso, você vai descobrir o valor disponível mensalmente passível de ser utilizado no pagamento das dívidas. Este procedimento pode ser feito facilmente num caderno, por exemplo.
2 -Caso esteja muito endividado, tente renegociar a dívida: ao renegociar uma dívida a pessoa estará contraindo um novo débito, com um novo valor e prazo. O consumidor deve ouvir a proposta e, se não estiver de acordo, fazer uma contraproposta. O importante é que, depois de renegociada, a dívida caiba no seu bolso e você consiga honrá-la sem comprometer o pagamento das demais despesas. Tome muito cuidado para não contrair uma dívida maior para saldar uma dívida atrasada!