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O representante comercial Leandro Tartari iniciou a construção de uma área comercial há dois anos e esperava estar concluindo a obra agora, mas precisou rever o andamento dos serviços devido à alta de preços dos materiais. O espaço com 990 m² no Bairro Luther King está 60% concluído.
“Esse é um projeto que estou fazendo por etapas, mas nesse último ano foi preciso segurar um pouco devido ao impacto financeiro dos materiais. A ideia era estar concluindo a obra agora, mas está com pouco mais da metade”, conta.
A redução do ritmo é porque as planilhas de custos precisaram ser refeitas e aí se faz menos coisas com o mesmo dinheiro. Há também a expectativa de que os preços retraiam nos próximos meses. Leandro ainda planeja como irá executar as próximas etapas, que demandam instalações elétricas e hidráulicas, piso e acabamentos.
“Ainda consegui absorver uma parte dos aumentos porque a obra estava andando quando começaram os reajustes, mas o custo está cerca de 40% maior e isso torna a construção inviável para locação”, complementa.
Diversos itens sofreram reajustes ao longo do último ano. Os aumentos de preço começaram no segundo semestre: indústrias reduziram a produção para cumprir medidas de restrição ou pela perspectiva de falta de demanda. Mas o mercado da construção se aqueceu e faltou produto.
A desvalorização do Real também ajudou a elevar os preços, já que muitos materiais têm cotação internacional e são referenciados pelo dólar. Ricardo Almeida, da Pio-X Materiais de Construção, comenta que os reajustes têm sido sucessivos — em alguns itens, quase toda semana — e afetam mais alguns insumos que outros. “Pra nós é complicado porque é preciso encontrar uma forma de absorver parte dos aumentos, então tentamos sempre ter controle do estoque e fechar pedido o quanto antes”, comenta.
A escassez de produtos e o encarecimento dos custos afetam também as construtoras, que precisam se replanejar para cumprir os contratos. “Tem material, como louças, que compramos há seis meses e ainda nem entrou em produção. Chegamos numa altura, no ano passado, em que nem pesquisávamos preços, onde tinha comprávamos”, relata Odair Serraglio, da Construtora Sudoeste.
A empreiteira prevê que terá que pedir reequilíbrio dos contratos de obras públicas, como a construção do hospital intermunicipal de Beltrão. Já nos casos de obras privadas, Odair comenta que “nem sempre os reajustes de insumos estão contemplados nos contratos” e aí é preciso negociar com o cliente. Entram neste segundo item, por exemplo, imóveis vendidos na planta.
Inflação de 13% no setor
No Brasil, o Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi), principal indicador de custos do setor, acumula inflação de 13,22% entre fevereiro de 2020 e deste ano. Com isso, o custo por metro quadrado da construção civil passou a ser de R$ 1.319,18.
Juro menor compensa custo maior
A arquiteta Francieli Leonardo, especializada em financiamento imobiliário, aponta que a redução da taxa de juros tem sido duplamente uma das responsáveis pelo aquecimento da construção civil: com a poupança rendendo menos, muita gente constrói para investir e o juro menor torna a execução dos projetos que são financiados mais viável.
“Hoje tem taxas de financiamento a partir de 5,5% ao ano e isso representa cerca de R$ 200 a R$ 300 a menos de parcela em relação há cinco anos. Se por um lado o valor final do imóvel ficará maior devido à redução dos juros, compensa esse custo mais elevado”, explica Francieli Leonardo.