Desde que fossem cartas datilografadas, porque as manuscritas eram “intraduzíveis”

Jorge Baleeiro de Lacerda, o maior estudioso do Brasil, de norte a sul e leste a oeste, estaria completando nesta semana 71 anos. Paraense de nascimento, beltronense de coração, residiu aqui por mais de quatro décadas, entre 1975 e 2016, quando faleceu.
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Nesta semana, o Jornal de Beltrão recorda Baleeiro com cartas que ele recebia de ilustres personalidades brasileiras, como Alaôr Eduardo Scisínio, Murilo Melo Filho, David Carneiro e Vilas Bôas Corrêa. A carta de hoje é do ex-ministro Jarbas Passarinho.
Brasília, 5 de abril de 2006
Meu caro Baleeiro
Estou preparando o caixote de livros. Gosto de ler-te. Mas assinei o AI-5 consciente de que, sem ele, o Exército não venceria as guerrilhas comunistas. Teve que aprender a combatê-las.
Meus escrúpulos provinham de que, em 31 de março de 64, entrei nele para defender a democracia ameaçada (ver o livro Gorender, Combate nas Trevas. Honesto marxista) e em 68 enveredava pela ditadura. Foi assim, ditadura, que referi no meu voto. Fui contestado na reunião. Lê, na internet, todos os votos e tira tuas conclusões. Nada tenho de que arrepender-me, entretanto, não usei o AI-5 contra ninguém.
Ao contrário, defendi pessoas e até consegui evitar cassações. Prefiro quando me mandas cartas datilografadas. Tua letra é quase intraduzível. Dá saudades do Pero Vaz no quinhentismo dele. Saudades também tenho da D. Dita, apesar de achar-me meio vaidoso. “Meio” é pouco…
Abraços
Jarbas Passarinho