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Francisco Beltrão
sábado, 07 de junho de 2025

Edição 8.221

07/06/2025

João Gabriel – O primeiro marceneiro da cidade

 
Seu João e dona Maria, no dia desta entrevista: “São 56 anos e nós somos os mesmos”.
“E outra coisa boa (da vida do casal) é a família, a família maravilhosa que a gente tem.”

O pai é Marino Gabriel, mas o avô, que veio da Itália com 13 anos de idade, era Antônio Gabrielli. Algum cartorário é o culpado pela supressão de um “l” e o “i” do final do sobrenome.

João Gabriel, que neste dia 27 de agosto comemora, com muita saúde, seus 80 anos, nasceu em Meleiro (SC). Lá ainda mora o irmão mais novo, Quintino, de 77 anos. O irmão Antônio é falecido. Tem a irmã Albina, de 84 anos, que reside em Ivatuba (PR). A irmã mais velha, Maria, é falecida.

Maria era casada com Jacinto Ghedin. Eles foram os primeiros a mudar para o Paraná. Quando Jacinto e Maria residiam em Vitorino, João veio visitá-los e, após morar 11 meses com eles, resolveu vir pra cá também, já em 1954, mas escolheu outro lugar: Marrecas.

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Para sua surpresa, quando chegou aqui, disseram-lhe que Marrecas tinha mudado de nome, era Francisco Beltrão. Ele preferia Marrecas, mas esqueceu tudo quando conheceu Maria de Jesus, a filha mais bonita do seu Graciliano Antunes de Souza e dona Maria França Weber de Souza.

João era um desconhecido na cidade, mas conquistou a confiança dos futuros sogros porque era trabalhador e empreendedor. Estava construindo uma marcenaria, que acabou sendo sua principal atividade até se aposentar.

Do casamento, oficializado por Frei Deodato em 11 de fevereiro de 1956, nasceram cinco filhos: Elizabeth, Elton (falecido com um ano e meio), Mara, Júnior e Edoin. E já nasceram sete netos.

O esporte preferido de João Gabriel era o futebol. Formou vários times. Depois que deixou de jogar bola de couro, passou a jogar bola de madeira – que hoje é produzida com material sintético de alta resistência -, a bocha. Ele possui uma cancha de bocha ao lado de sua casa, na Rua Sergipe, bairro Nossa Senhora Aparecida. É lá que ele reúne os amigos e passa longas horas, principalmente nas sextas-feiras e sábados.

É onde ele também dá comida e água, todos os dias, para os passarinhos – canarinhos, pombas, pardais… Foi neste local que João Gabriel concedeu esta entrevista, acompanhado da esposa, dona Maria.

 

JdeB – Por indicação de quem, o senhor veio parar aqui?

João – Eu trabalhei três anos e meio em Caxias e vim visitar essa minha irmã e sempre tive vontade de vir pôr uma marcenaria no Paraná, só que eu não tive estudo nenhum, por isso eu não sabia onde ela estava, morava em Vitorino, mas não sabia se era pro sul ou pro norte. Chegando aqui, vendo que tinha muito caminhão trazendo mudança, eu perguntei pro meu cunhado “onde é que vai?” “Vai pra Marrecas, né, de Vitorino pra cá”, daí eu falei pra ele “você conhece Marrecas?” “Não, não conheço”. Eu falei “então vamos lá conhecer”. Viemos num onibuzinho, chegamos aqui, não tinha nada. E não voltava mais o ônibus. Ali onde é a Caixa Econômica hoje, num barranco, tinha o João Micuanski com uma pensão. Lá nós encontramos o Gumercindo Palage e pousamos ali. No outro dia fomos embora, em cima da porta do ônibus, agarrado pra não cair porque era muita buraqueira na estrada, aquilo ali era um carreiro.

 

JdeB – Em cima do ônibus porque estava lotado?

João – Em cima do ônibus, tava lotado. Perguntei para um senhor, aqui bem no centro, que preço era os terrenos ali. Eu sabia que não tinha escritura, não tinha nada, que só valia uma assinatura. Ele disse “se você quiser não bem na esquina é 3 (mil)”. E se fosse bem esquina, no caso do Banco do Brasil (de hoje), era 5 mil, mas tudo escrituradinho. Eu falei “não, aqui vale, sim”. Eu fui em Caxias para me aprimorar em marcenaria. Fui lá e comecei a pensar “eu quero voltar pra Marrecas”. Fui trabalhar numa talnoaria, sabe, de fazer barril. Assim que eu cheguei em Caxias, eu não achei um serviço rápido de marcenaria. Aí tinha um rapaz que cuidava lá da firma, eu falei “olha, eu vou ser bem franco, eu vou ficar aqui, vou trabalhar e coisa, mas eu quero aprender marceneiro, eu quero por uma marcenaria lá no Paraná, e até vou pra lá pra conhecer”. “Mas rapaz, então tu faz o seguinte, tu não vai pra Pato Branco, tu vai pra Marrecas, porque lá que é bom, vim essa semana passada” ele falou. “Fui com esse caminhãozinho aí, ó, levei a mãe e tal, eu tenho parente lá, o Zanatta. Ele tem bar na esquina lá…”. E realmente ele tinha.

 

JdeB – Quando o senhor chegou pela segunda vez, quem encontrou aqui?

João – Encontrei o Pedro Brusamarello, comprei dele os terrenos e fui trabalhando. Não tinha nada, rocei, aqui era tudo mato. Onde eu moro hoje tinha uma delegaciazinha de tabuinha, toda quebrada. E assim foi indo, muito trabalho, eu fui um cara que trabalhou muito.

 

JdeB – Logo que chegou, montou a marcenaria?

João – Já comecei a montar uma marcenariazinha, desses 11 meses que fiquei em Vitorino mandei serrar umas madeiras lá, o cara não serrava, era tudo difícil, daí arrumei umas tábuas aí e comecei num cantinho.

 

JdeB – E quem tinha serraria aqui quando o senhor chegou?

João – Aqui quem tinha era o Camiloti, já tinha uma firma boa. Eu comprava no interior, vinham me vender, na Santa Rosa tinha uma serraria que era da Cango. Enfim, eu gastava pouco, a marcenaria era pequena, poucos funcio-nários, um, dois no começo, mas depois sim, foi crescendo, muito serviço.

 

JdeB – Era tudo madeira maciça.

João – Tudo madeira maciça. E não tinha energia, comprei o motor, o Pedro Marcon morava aí, e fui fazendo, mas foi com muita dificuldade, criei cabelo branco.

 

JdeB – Que madeira o senhor usava,? Só pinheiro?

João – A maioria era pinheiro, cedro, depois comecei a fazer esquadrias e tal e daí foi indo, graças a Deus.

 

JdeB – E o senhor vendia tudo aqui na cidade?

João – Sim. Depois, quando comecei a fazer porta, foi lá pra São Paulo, daí foi indo.

 

JdeB – Quem foi o primeiro cliente pra quem o senhor vendeu?

João – Eu vendi um guarda-roupa pro seo Aristídes Silvério, um vizinho. A sogra dele veio aqui e disse “ó, João, eu quero que o primeiro serviço que tu faz, um guarda-roupa, quero que saia pra mim“. Daí eu fui no Salvatti, ele já tinha uma loja pequena, comprei as dobradiças, só o que precisava, eu comecei sem nada aqui. Fiz o guarda-roupa pra ela, foi o primeiro serviço.

 

JdeB – E já era envernizado ou pintado?

João – Já envernizado, eu já era um marceneiro formado. Saí com 16 anos de casa e fui trabalhar numa cidadezinha em Santa Catarina, em Jacinto Machado, trabalhei dois anos, e de lá que eu fui pra Caxias.

 

JdeB – E o dinheiro guardava aonde, se não tinha no banco?

João – Mais era no cofre, e no bolso. Você chegava aqui e dizia “eu quero um guarda-roupa”, então eu te mostrava o guarda-roupa e tal. “Tá, eu vou carregar.” Puxava o dinheiro do bolso, dava uma notinha se queria, se não queria “ah, então é pra tal dia, vou fazer um pedido”. Já pagava, dinheiro no bolso, era tudo dinheiro. Tinha que fazer uma nota fiscal, eu fazia na hora e pronto.

 

JdeB – O senhor não vendia em vários pagamentos?

João – Não, muito pouco, mais era à vista.

 

JdeB – Não perdia conta, vendia tudo em dinheiro?

João – Tinha muita procura, sempre tive muito serviço. Tinha uma firma lá, foi e foi, terminou, daí outra começou lá em cima, tinha outra mais velha ali, terminou, todo mundo queria falar comigo, depois tinha telefone, “quem tá falando?” “É o João?” “Ah, é bem com ele.”

 

JdeB – E qual era a sua jornada de trabalho?

João – Eu levantava às 6h e ia dormir às 11 da noite. Trabalhei muito na minha vida, e graças à mulher também, que me ajudava a segurar o lampião pra eu pintar.

 

JdeB – O senhor contratava gente pra lhe ajudar?

João – Ah, eu já tava com 17 pessoas, me lembro bem, depois, numa época, dividimos a sociedade, eu com meu cunhado Jacinto, e pra eu poder pagar, achei que eu devia dobrar, depois mais 17 empregados, foi pra 34, aí eu fiz a casa aqui, um ano tinha pra pagar, e paguei.

 

JdeB – Fabricava que tipo de móveis?

João – Fabricava guarda-roupa, guarda-louça, de tudo. E tinha bastante pedidos, bastante depósito. Eu empreitava e comecei a pegar marceneiros bons, dava uma empreitada, uma pessoa fazia, digamos, “vou fazer uma dúzia de guarda-roupa”, outro fazia outros diferentes. Não era tipo empregado tem que fazer assim, tinha uns assim e outros faziam por peça.

 

JdeB – O senhor atendia mais classe alta, média ou baixa?

João – Tudo. Eu trouxe esse rapaz de Caxias, que nós era amigo, ele era estofador profissional. Coloquei uma estofaria, aí vendia, mas tinha pouca gente. Fazia muito colchão, aquele colchão de crina, móveis e estofados muito bonitos.

 

JdeB – Logo que o senhor chegou foi instalada a Comarca de Francisco Beltrão, lembra?

João – Sim. Bom, eu fui pro Rio Grande, quando eu voltei de lá falaram que não era mais, 16 meses que eu fui pra lá, quando eu vim morar aqui, no ônibus um camarada falou “não é mais Marrecas, é Francisco Beltrão”. Passou pra município, mas a comarca foi depois, até achei o nome muito feio aquela vez.

 

JdeB – O senhor preferia Marrecas?

João – Eu sim. Marrecas, Rio Marrecas.

 

JdeB – Trabalhava bastante e qual era a diversão?

João – Eu sempre tive um time de futebol, sempre gostei muito de futebol, outras coisas não, não participava em bar, nunca fui.

 

JdeB – Desde que chegou tinha time de futebol?

João – Logo, logo, assim que a gente começou, teve pessoal aqui, trabalhando na firma.

 

JdeB – O seu time jogava contra quem?

João – Entrava no Campeonato Varzeano, ficamos campeão no amador uma vez, e fazia amistoso até contra o União, ganhamos de 4 x 2. Daí montamos o Real, da marcenaria saiu o Real.

 

JdeB – No futebol era uns de chuteira, uns descalços, o senhor sempre jogou de chuteira ou de pé no chão?

João – Não, pé no chão não. De pé no chão quem jogava era o velho Marçal. Ele jogava de pé no chão e dava na chuteira do adversário assim, daí ele levantava e dizia “desculpa” (risos), é verdade.

 

JdeB – O senhor sofreu acidentes no seu trabalho?

João – Não, isso aqui é porque eu bati o caminhão uma vez só, mas me cortar não.

 

JdeB – Dona Maria, esta foto lhe faz lembrar o tempo da 1ª Fenafe. E o namoro de vocês como é que foi?

Maria – (risos). Nosso namoro foi bonito. Nesse canto aqui ele começou um barracão pequeno e eu morava na rua de lá, de frente ao Real, com os meus pais, mas a minha família era muito pobre. E minha mãe dizia sempre “lá vai sair uma igreja”. Do lado de lá a gente olhava que não tinha casa, não tinha nada, a mãe achava que era uma igreja, aonde ele estava construindo a marcenaria. Depois ela disse “não, é uma olaria”. Nós passamos ali, não tinha placa nem nada. Dali uns dias ele e um amigo passaram na frente da minha casa e eu costurava com a minha mãe, numa casinha bem pequenininha que nós morava. Ele passando, dia de chuva, frio que nossa, e ele todo empacotado. Eu lembro que eles passaram olhando. Os homens eram muito curiosos de olhar as coisas na cidade. Ele olhando, cidade pequena que nossa, e eu fiz assim, eu me lembro tão bem, o amigo dele olhou bastante pra mim e eu ainda disse pra minha mãe “olha aquele baixinho, que assanhado, se fosse o outro que me olhasse, ainda, mas não, é aquele baixinho”. Pronto, passou. Acho que era um domingo, ou eles estavam vindo de Caxias, não sei, só sei que estava bem arrumado, não estava trabalhando. Dali alguns dias nós fomos dançar, ele estava. Novo no lugar, as moças davam em cima que nossa, parece que o destino puxa a gente, né. Fomos dançar. Ele veio me encontrar na dança. Dançamos, conversamos… Começou nosso namoro ali. Nós namoramos um ano e meio, aí casamos. Eu com 21 anos e ele com 23.

 

JdeB – Então, quando aparecia uns rapazes diferentes, as moças davam em cima?

Maria – Ele era muito namorador, paquerador. Um dia eu disse pra ele “você quer namorar comigo ou o quê? Senão, não quero mais”. Eu era uma moça muito bonita, não é pra falar, mas eu era bonita, assim, pra cidade, não era tão bem arrumada, mas… Não tinha quase moça igual eu. Eu era loira, cabelo bem comprido, agora que a gente pinta os cabelos, os fios brancos, mas tinha um cabelo bonito.

 

JdeB – E no tempo de namoro, vocês iam nos bailes e o que mais?

Maria – Ia nos bailes, era só baile que tinha aqui, domingueira passear, não tinha em Beltrão outras coisas, só barro nessas ruas, mas era bom.

 

JdeB – Foi o frei Deodato que fez o casamento de vocês?

Maria – Foi o frei Deodato. Lembro tão bem do casamento, na hora que terminou, que a gente estava saindo do altar, na saída da igreja veio uma senhora com uma criança e pediu se eu não queria batizar esse neném, era um menino, eu olhei pra ele “vamos batizar, né”.

João – É, batizamos a criança na saída do casamento.

Maria – Exatamente. Antônio parece que é o nome, depois ficamos sabendo, deve ter uns 56 anos já o rapaz.

 

JdeB – Era uma família que vocês não conheciam?

Maria – Não, não conhecia, acho que ela fez uma promessa ou sei lá o que foi.

 

JdeB – E a festa do casamento?

Maria – A festa foi lá no hotel do Vandresen.

João – Hoje do dr Kit Abdala, onde tem o Hospital São Francisco.

Maria – Vieram os pais dele. Só teu pai e tua mãe, né?

João – É.

Maria – Do meu lado, meu pai e minha mãe também, e os amigos que a gente tinha, os compadres deles. Deu mais ou menos umas 50 pessoas. Teve janta.

 

JdeB – Depois baile?

João – Não, não.

Maria – Daí viemos pra casa (risos), a gente casou e veio morar ali naquela casa do lado daquele prédio azul, a gente fez uma casa pra nós ali.

 

JdeB – Não teve viagem de núpcias?

Maria – Não, naquele tempo não usavam. A viagem de núpcias dele era só serviço.

 

JdeB – Qual foi a melhor coisa que aconteceu pro senhor nestes anos todos de Beltrão?

João – A melhor coisa mesmo foi eu casar com ela.

Maria – (risos)

João – É, porque ela foi uma mulher pobre, filha de gente pobre, e não é que eu fosse rico, mas eu tinha, pelo menos o meu pai tinha um capital muito grande, eu saí trabalhar de marceneiro porque eu quis, mas eu tinha muito o que ficar lá e não precisava de nada, então eu sou filho de gente humilde, e ela também.

Maria – Ele é filho de italiano e eu sou descendente de alemão.

João – O nosso casamento deu tão certo, que à noite, até as onze horas ou até meia-noite, eu pintava e ela segurava a lamparina, porque não tinha energia, não tinha luz e ela me ajudava.

Maria – Ele não pode me magoar, nem pode me deixar, né? (Risos).

João – São 56 anos e nós somos os mesmos, e é uma das coisas melhores, e você sabe que muita coisa boa e muita coisa ruim se passa nessa vida.

Maria – E outra coisa boa é a família, a família maravilhosa que a gente tem.

João – Perdemos um filho aqui, tanta coisa ruim, mas mais mesmo foi coisa boa, amizade, muito amigo, nós trabalhamos muito, mas faz tempo que nós estamos com uma vida tranquila, graças a Deus, não tem nada que pedir pra Deus. O que passou de ruim passou, o que passou de bom passou, mas passou muita coisa boa. E hoje mesmo eu me sinto muito satisfeito, pela idade que a gente tem, a amizade e, graças a Deus, tranquilo com uma saúde enorme, tudo de bom.

 

JdeB – E a dona Maria, o que diz?

Maria – Ah, eu me sinto feliz pelos filhos que a gente tem, filhos maravilhosos. Tivemos cinco filhos e ficamos com quatro, mas não posso me queixar da vida, não, a vida que Deus deu pra nós é muito boa. A gente tem uma vida feliz, a gente sai passear, viaja, não tem explicação. Olha, pela família, pelas coisas boas que a gente tem na vida, eu não posso me queixar.

João – Só agradecer.

Maria – Só agradecer a Deus.

 

JdeB – Fala-se que antigamente os casais davam certo, hoje ainda é possível?

Maria – Não, hoje é mais difícil.

JdeB – Por quê?

Maria – Porque as pessoas não estão mais se entendendo tanto quanto uma vez. Uma vez, principalmente marido e mulher, se o marido falava qualquer coisa, a mulher, não é que não tinha autoridade, mas respeitava certas ocasiões, não respondia, ficava quieta, e ele também. Hoje em dia não, a mulher diz uma coisa, o homem diz outra, daí começa… Nem todos, claro, a maioria dos casais, pelo que eu vejo na televisão também, mas é o mundo, pra todo mundo é assim, acho que em todas as partes é igual.

 

JdeB – Quando vocês casaram já existiam casais que não tinham dado certo?

Maria – Nossa, existiam, meus pais contavam sempre, era tudo escondido, eles não contavam pra gente, mas a gente ouvia falar, existiam essas coisas, sempre existiu, desde o começo do mundo.

 

JdeB – Então, assim como no seu tempo teve casais que não deram certo, hoje também tem casais que dão certo?

Maria – Claro que tem casais muito felizes, nossa, tem muitos, e como tem os felizes, tem os infelizes também, mas a maioria é feliz. Eu acredito porque, se não dá certo de um jeito, a gente entende, se acerta, tem que existir compreensão.

João – É que na época era pouca gente aqui, pouco pessoal, ou seja, ia falar pouco aqui de se separar porque eram poucos casamentos. Era a mesma coisa hoje, essa doença câncer, morre todo mundo, é porque tem mais gente, quem sabe que é a mesma coisa, mas morre mais gente – tem mais, morre mais; batida de carro, porque tem mais carro, aquela vez não tinha, assim são as coisas.

 

JdeB – Sobre Beltrão, o senhor que viveu todo este tempo, qual foi o melhor?

João – O melhor tempo? Sempre foi mais ou menos bem. Quando vim aqui, eu trabalhei muito. Na cidade, se saía de lá da Praça da Liberdade pra subir lá em cima na igreja, tinha que ir de quatro pé quando chovia. Hoje é muito melhor, porque você tem tudo na mão, vai a pé se quer, senão vai de carro, telefona, tem isso, tem aquilo, e aquela vez tinha dificuldade, mas era bom. Beltrão sempre foi bom, hoje hospitaleiro.

 

 JdeB – Agora o seu esporte é com bola ainda, mas não é mais a bola de chutar, é bola de empurrar com a mão.

João – É, quando eu parei de jogar bola, com os meus 55 que brincava por ali, comecei a jogar bocha. E faz bem pro corpo, pra saúde.

Maria – Faz bem pra saúde, para uns amigos que todo mundo adora, uma amizade ali que precisa ver como é que são, uma maravilha, como diz o caso: é só alegria!

João – É muito bom. E são 30 e poucos anos que eu tenho essa cancha.

 

JdeB – Quando o senhor chegou, o prefeito era o dr. Rubens?

João – Acho que era o dr. Rubens, sim.

Maria – Sabe aonde que era o posto de saúde? Era em frente à prefeitura, mas era um barranco enorme, era bem no alto, eles tiraram tudo, eu lembro que a gente subia a escadaria pra ir ali, bem pequenininho o posto de saúde, em frente só a prefeitura. Atrás era o hospital do dr. Rubens, ele tinha um hospital bem grande, e ali do outro lado o posto de saúde. Eu lembro disso aí, eu levava as crianças ali.

 

JdeB – E da dra. Diva a senhora lembra?

Maria – Lembro, era minha médica, ela tratou muito esse meu filho.

 

JdeB – A senhora fazia pré-natal com ela?

Maria – Eu, pra falar a verdade, pré-natal não cheguei a me tratar com ela, era o dr. Aryzone, que era meu médico, dr. Walter, nós variava, sabe, se precisava de médico e não tinha um, atendia com outro.

 

JdeB – E como era a doutora Diva?

Maria – Era calma, mulher bem simpática, bem clara, alta, muito legal ela. Em Curitiba fui consultar lá na casinha dela, porque se separaram depois. Coitada, teve uma morte muito horrível, acidente de trânsito, mas ela era muito legal.

 

JdeB – E o Damásio Gonçalves, vocês conheceram?

João – Conheci.

Maria – Nossa, conheci tão bem ele, tenho até foto dele.

João – Eu fui numa janta, convidado, nesse Hotel do Damásio, fui jantar lá com o Lupião (governador Moisés Lupion), o velho Lupião, depois viemos ali na prefeitura, ele dizia “Lupião é o maior, Lupião é o maior” no meio da turma. “Lupião, nós precisamos de tal coisa.” E ele: “Põe ali”.

Maria – Vinha nada, ele só prometia.

 

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