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Francisco Beltrão
sexta-feira, 13 de junho de 2025

Edição 8.225

13/06/2025

João Luiz é o ex-delegado que foi preso na revolução

 

João Lui e a esposa Íria têm sete filhos e sete
netos e aguardam o primeiro bisneto.

 

João Francisco Lui nasceu em 31 de outubro de 1931 em Carazinho (RS). Com três anos de idade, mudou-se para Soledade (RS). Chegou ao Sudoeste em 1952, ainda era solteiro. Foi trazido pelo irmão Luiz Lui, que já morava em Renascença. Casou-se com Íria Pastório Lui no dia 7 de novembro de 1952. Ela é natural de Espumoso (RS) e nasceu em 1941. Os dois tiveram sete filhos e sete netos. Aguardam ansiosos o nascimento do primeiro bisneto. 

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Um dos pioneiros de Renascença, João Lui tem muitas histórias interessantes para contar. Foi delegado no município por muitos anos e, por conta disso, teve que enfrentar muitos bandidos que andavam armados pelas estradas de chão da região Sudoeste. Na época da Revolução de 1964, João Lui conta que chegou a ser preso em Pato Branco por defender Leonel Brizola (PTB). “Fui preso mesmo sendo delegado”, lembra-se.

“Eu vim pra cá porque pra lá nós não tínhamos terra. Era só um pedacinho para seis irmãos. Eu tinha trabalhado muitos anos aqui com meu irmão e ele me prometeu terra para trabalhar. Me deu também um moinho velho pra cuidar. Aí fiquei cuidando daquele moinho  um tempo, arrumei um dinheirinho, botei a mercearia aqui em cima, armazém meio reforçado. Comecei a vender fiado e me quebrei. Com aquela revolução me prenderam, eu era delegado na época, era a favor da revolução, mas eu nada tinha que ver com a revolução porque trabalhei pro Brizola. Mas perseguiram o Brizola aquele tempo, ele até saiu do Brasil. Eu tinha o armazém, chegou o delegado que tava em exercício, que eu tinha passado pra ele aquela semana, o delegado oficial mesmo. Eu era o segundo. E quando ele saía, cuidava da delegacia. Aí ele veio e disse pra eu acompanhá-lo até Pato Branco. Disse a eles que eu provaria o quanto eles quiserem que eu não tinha nada a ver com revolta. Mesmo assim tiver que ir. Chegando lá, estava o Exército, tinha 160 pessoas na frente da delegacia”, recorda-se João Lui, antes de comentar sobre o delegado: “Lá em Pato Branco, na delegacia regional, o coronel pediu o que eu tava fazendo ali. O capitão responde que era tudo gente denunciada, que era para fechar todo mundo. Nós fomos presos em 64, fecharam nós lá tipo porco. Fui procurar meu advogado, que era o Jacinto Simões, um excelente advogado. Ele tava preso também. Aí me informaram um outro advogado e naquele tempo o advogado não mandava nada. O outro advogado me pediu 40 mil pra me tirar da cadeia. Assinei o cheque, levaram o cheque e o armazém que eu vendia fiado pra turma. O que me deviam aqui me descontaram tudo e perdi tudo. Consegui sair.”

João Lui diz que ainda se impôs diante dos militares. “Eu tinha distintivo no bolso e mostrei pra ele: ‘olha com quem tu tá falando. Não me bata, rapaz, que não sou cachorro. Marque bem esse rosto, que dia é hoje, que tu vai me pagar. Tu fica poucos dias aqui dentro da delegacia. Vou pra Curitiba e te arrumo uns lá pra bater nos freguês aqui”. O coronel viu que nós táva brigando e me chamou. Disse a ele que levei um coice na perna e me machuquei. Ele atropelou o cabo dali. Disse a mim que a minha nomeação iria ficar na mão dele. Era para eu buscar mais tarde. Então, como eu tava exonerado, parei de trabalhar. Depois a política virou, me nomearam de novo, me nomearam três vezes, mas aí entrei na prefeitura como fiscal geral, na viação de obras públicas. Meu cunhado, Mário Nardi, era prefeito e me colocou lá porque tinha que ser de confiança. Fiquei quatro anos e pouco de fiscal. Correu outra eleição e perdemos de novo. Me tiraram de novo. Nunca desanimei”, conta.
João Lui está aposentado. “Estou encostado até hoje, temos um processo que faz 20 anos que está em andamento. Não sei o que vou fazer. Ficou tudo sempre na mão de um advogado, que entregava pra outro. Nunca dava certo, agora esses dias  o processo entrou na Justiça Federal. Eu ia ligar, mas perdi o número do advogado. Porque eu trabalhava e ganhava até três salários, me aposentaram com um por invalidez e o resto ficou tudo pra trás. Eu quero reajuste daquele tempo que eu trabalhei. Então vamos ver se sai alguma coisa. Ele me garantiu que sai, mas advogado é sempre assim, sempre garante.”

Mário Nardi
Mário Nardi, já falecido, era prefeito de Renascença e cunhado de João Lui. Hoje o ginásio municipal leva seu nome em homenagem aos serviços prestados como prefeito. João lembra-se muito bem de Mário Nardi. “Quando vim pra cá, o pai dele (Mário) tinha um hotel aqui, ele se criou por ali, naquele hotel. Prosa vai, prosa vem, eu tinha aquele moinho lá em baixo e eles gostavam volta e meia de fazer um risoto. Iam pra lá comer galinha com arroz e prosear, jogar um três-sete. Fomos ficando amigos mesmo. No fim tocava viola e cantava, ele e o irmão dele. Pena que morreu miseravelmente, deu um negócio na cabeça, morava aqui atrás. Foi embora lá pra Curitiba. Diz que tinha 12 no enterro dele. Mas foi um pecado, ele era gente boa.”

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