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Francisco Beltrão
sábado, 31 de maio de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

João Maria Dutra aprendeu a dirigir nos caminhões do sogro

Ele foi motorista de caminhão, dono de sítio e atualmente tem uma rotina mais tranquila em Francisco Beltrão.

Esmeralda e João Maria Dutra estão casados há 60 anos.

João Maria Dutra, 85 anos, está aposentado e reside com a esposa, Esmeralda, no Bairro Nossa Senhora Aparecida, em Francisco Beltrão. Trabalhou muito de motorista de caminhão e, durante alguns anos, teve seus próprios caminhões. Já tomou as duas doses da vacina contra a Covid e da gripe, faz as suas caminhadas diárias e também ouve rádio. Esmeralda e João tiveram três filhos: Ademir, que tem caminhões no Mato Grosso; Adair, dono de indústria de bolas em Santa Tereza do Oeste (PR), e Ailson, que trabalha na Autoelétrica Gagliotto, em Francisco Beltrão.A família Dutra vai para a terceira geração na boleia porque o Bruno, filho do Ademir, já está trabalhando com um caminhão da empresa. Embora tenha caminhões, Ademir também é motorista e puxa cargas no Mato Grosso. O filho Bruno dirige um caminhão bitrem, de nove eixos. 

40 anos de boleia
João largou a profissão há dez anos, quando tinha 75, depois de mais de 40 anos de boleia. “Ah, não quero mais, a maior parte não respeita”, diz, sobre o trânsito nas estradas. Ele começou na profissão transportando madeira para a empresa Camilotti. Depois passou a transportar soja, milho e outros tipos de cargas. O motorista puxou muitas cargas de portas e compensados de Beltrão para São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Fez algumas viagens do Mato Grosso para Beltrão, trazendo toras. Seu João diz que “queria bem” seu Ângelo Camilotti, proprietário da empresa. Do tempo em que trabalhou para Adolfo Ferronatto, que atuava no segmento de compra e venda de feijão e armazém, seu João lembra de uma situação ocorrida no Rio de Janeiro. A empresa enviou 13 caminhões carregados de feijão de Beltrão para um comprador do Rio de Janeiro. O último a descarregar foi o caminhão de seu João. O diretor da empresa chamou seu João e lhe repassou um saco de dinheiro que foi entregue para o proprietário em Beltrão. Hoje, uma situação destas é impensável devido à criminalidade nas rodovias e porque os sistemas bancários evoluíram bastante em novas tecnologias que facilitam as transações de dinheiro. Hoje se transfere valores de uma conta para outra em questão de segundos. 

Anos difíceis
Seu João Maria conta que gostava de trabalhar de motorista de caminhão. “Mas era coisa boa, hoje não tem nem como pensar…”, opina. O motorista pegou os anos difíceis da estrada de terra entre Beltrão e Pato Branco. Se chovia, os caminhoneiros não conseguiam seguir viagem porque tinha os “topes” e serras que dificilmente eram superados sem a ajuda de tratores ou da melhoria do tempo.O motorista está aposentado e lembra com saudades do tempo em que trabalhou para a Transportadora Solasol, que puxava cargas para a Camilotti. O único acidente que sofreu foi num trecho da estrada de União da Vitória/Porto União, na região Centro-Sul.

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A carga estava meio alta, num determinado momento o caminhão entrou num buraco e foi tombando. João cita este acidente para ilustrar como os colegas de profissão eram solidários, na sua época. Depois do tombamento, vários motoristas pararam e ajudaram seu João, a carga e o caminhão. No outro dia, próximo do meio-dia, a carga já tinha sido carregada em outro veículo e o caminhão dele retirado do buraco. “Hoje não tem mais isso”, argumenta o condutor aposentado, ao falar da solidariedade entre os companheiros de profissão.
Não excedia o pesoNo volante, seu João não era de pisar fundo no acelerador e também de colocar carga demais na carroceria. “Nunca fui provalecido de botar excesso [de carga]”, conta. Na sua carreira de motorista, ele trabalhou com vários tipos de caminhões: Chevrolet, Mercedes Benz, Scania. O Chevrolet, com reboque, ele puxava toras para a empresa Camilotti. Mas gostava mais de dirigir os modelos Scania pela maior potência do motor e comodidade. “É um caminhão bom, confortável”, afirma.

Empresa de transporte
O motorista não trabalhou somente de funcionário, teve seus caminhões também. O primeiro deles foi um Mercedes Benz 1113, trucado. O gosto pela profissão surgiu na empresa do sogro, que tinha serraria e caminhão. De vez em quando ele ia para o interior buscar toras e os motoristas lhe ofereciam o volante pra conduzir o “bruto”, ele gostou e foi aprendendo a dirigir. João Maria se orgulha de nunca ter logrado ou furtado valor de qualquer empresa. “Graças ao bom Deus, nunca me aconteceu de roubar um pila”, rejubila-se o motorista. Sempre foi uma pessoa que se esforçou para progredir economicamente.

Ele teve caminhões, foi caminhoneiro e aos 75 anos decidiu parar de viajar. “Uma vez eu cheguei em casa e falei pra esposa que ia vender os dois caminhões”, relata. Comprou um sítio e passou a plantar milho e feijão por quase quatro anos. Mas ele percebeu que a propriedade rural não era o que queria pra si, vendeu-a e comprou algumas casas na cidade, que estão alugadas. João e Esmeralda estão casados há 60 anos. Hoje a rotina dele é ficar em casa, dar umas caminhadas, ouvir rádio, ver novela, jornais e tomar os remédios. 

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