Filho de agricultores, foi o único, entre seis irmãos, que continuou os estudos.
O atual prefeito de Renascença é natural de Renascença. Nasceu na comunidade do Buriti dia 10 de dezembro de 1954. É o quarto de uma família de seis filhos. O pai, descendente de ucranianos, chamava-se Basílio Kresteniuk. A mãe, conhecida por Miguelina, era Michalina Wisnoski, de descendência polonesa. A família migrou de São Mateus do Sul para Renascença no final dos anos 40. Eram agricultores.
José trocou a roça pelo magistério. Formou-se em Ciências Contábeis, Matemática e Ciências, Esquema I Ensino Profissionalizante e fez pós-graduação em Matemática.
Lecionava Matemática, Ciências e áreas profissionalizantes quando iniciou sua carreira política. Em 1982, elegeu-se vereador, reelegendo-se em 1988. Neste período foi secretário municipal de Educação. Em 1996, elegeu-se prefeito e se reelegeu em 2000. Neste período foi presidente da Amsop (Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná) e também do CRE (Consórcio Regional de Especialidades). Em 2008, voltou a eleger-se prefeito de Renascença.
Casou com a também professora Elza de Oliveira (filha de Juvenal e Laurentina), com quem teve dois filhos: Karize e Karisson (falecido aos três anos de idade).
Nesta entrevista para o Jornal de Beltrão, José Kresteniuk fala de sua vida, desde os tempos de garoto.
JdeB – Por ser filho de ucraniano, numa terra de descendentes de italianos, alemães e portugueses, sentia-se diferente dos outros meninos ou já cresceu enturmado?
José – Nós crescemos já enturmados. Nós somos descendentes de povos imigrantes que vieram da Áustria. O meu pai é ucraniano, minha mãe, polonesa, e eles vieram na imigração em São Mateus do Sul, na leva da colonização. Meus pais nasceram em São Mateus e tiveram toda a infância e até a idade de jovem falando ucraniano, polonês, embora morando no Brasil, frequentavam escola que também ensinava esses idiomas. E a minha mãe só aprendeu falar português quando ela veio onde nós moramos, onde eu nasci, que é o Buriti; com 25 anos que ela aprendeu falar português. E nós, na verdade, já passamos a conviver com as famílias italianas, famílias de bastante brasileiros de origem mais morena. Nós começamos frequentar a escola normalmente, a parte religiosa também, na igreja católica, seguimos essa tradição, nós nos criamos trabalhando na roça, na zona rural. Meu pai era balseiro no Rio Iguaçu, e quando eles vieram aqui pro Sudoeste, ele veio trabalhar em serraria, posteriormente ele passou a ser funcionário do DER, foi um dos desbravadores dessas estradas. E teve toda sua vida, até o falecimento, como funcionário do DER.
JdeB – E a educação que vocês receberam deles?
Kresteniuk – Uma coisa importante. Meus pais ensinavam muito pra gente a questão da honestidade, a questão da pessoa, sempre recomendavam pra não brigar, pra não fazer coisa errada, mas pelo fato deles terem uma vida sofrida, pra eles, o importante era completar o ensino primário, tanto é que quando eu fiz a 4ª série, minha mãe e meu pai diziam “esse menino é muito inteligente, ele sabe fazer contas e sabe ler, então, ele é um cara muito inteligente”, mas que não havia necessidade de estudar mais… não culpo eles porque era uma tradição, saber ler e escrever era o máximo.
JdeB – Ninguém da família estudou?
Kresteniuk – Ninguém estudou. Eu tenho uma lembrança que eu repeti a 4ª série, mesmo pra reforçar, eu tinha passado, mas estudei mais um ano na 4ª série, porque não tinha perspectiva de estudar, naquele tempo as dificuldades eram imensas. Os pais, pra eles era o suficiente, e as condições também, isolamento, não tinha estradas, não tinha transporte, a dificuldade era imensa. Mas um belo dia, quando eu tinha uns 16 anos, foi uma decisão minha, eu me recordo que me deu uma luz e eu disse pra mim mesmo: eu vou estudar. E passei 20 anos estudando, naquele dia que eu disse, foi uma decisão minha e acho que a coisa mais maravilhosa da minha vida foi aquilo, porque eu passei a entender o mundo.
JdeB – Teve influência de alguém, um amigo, um amigo do teu pai?
José – Teve uma influência, pelo seguinte. Quando o cara completasse a 4ª série, pra entrar na 5ª série tinha que fazer um exame de admissão, e aí o meu amigo, até foi uma família dos Daroit, o Valdir Daroit, ele disse o seguinte: “Você sabe que caiu a lei e com o boletim da 4ª série você pode se matricular na 5ª”. Quer dizer, houve uma certa influência, porque na 5ª série, aquela admissão que tinha que estudar fora, era complicado. E aí nós começamos a estudar, foi a única influência, mas o resto foi uma decisão pessoal.
JdeB – E os outros irmãos não estudaram?
José – Não. Todos meus irmãos o máximo que chegaram foi à 4ª série.
JdeB – Que idade o senhor tinha quando saiu de Renascença?
José – Olha, eu comecei estudar quando tinha 16 anos, fazer a 5ª série. Fiquei um bom tempo morando em Renascença. Na sequência, a primeira profissão eu estava fazendo ainda a 8ª série e, naquele tempo, isso já era bem considerado. Então, eu passei a ser professor do primário e comecei dar aula lá no Buriti, dava aula pro 3º e 4º ano, isso quando eu tava na 8ª série. Minha primeira profissão foi de professor, depois, com o tempo, quando eu iniciei a faculdade de contabilidade, passei a lecionar no Colégio de Renascença, daí foi uma sequência, eu fiz os concursos, passei em dois concursos do Estado. A minha área especifica é matemática, mas eu lecionei física, química, biologia, ciências, como eu sou formado em contabilidade, também no tempo que tinha o ensino profissionalizante, administração de empresa, lecionei em administração, em contabilidade, bem polivalente nessas áreas.
JdeB – Que lembrança o senhor tem da época de menino, trabalhava muito, tinha tempo de brincar também?
Kresteniuk – Olha, a gente se contentava naquele tempo com pouco, as pessoas, a felicidade. Nós vivemos num momento completamente diferente, parece que a gente precisa ter coisas, naquele tempo a gente era feliz com pouca coisa. Veja bem, como nós era de uma família humilde, de pequenos agricultores, a gente trabalhava na roça, olha, desde os 7 anos eu trabalhei na roça, eu peguei no cabo na enxada, eu tenho uma visão a esse respeito. A diversão de uma criança naquele tempo era caçada, pescada e futebol, mas era uma miséria tão grande que nós não tinha bola, nós chutava bola de pano, quer dizer, quando você conseguia uma bola de borracha daquelas era o máximo. Era uma dificuldade imensa, e era todo mundo assim, mas a gente se divertia muito. Jogava pelada o dia todo, a gente esperava um fim de semana, um domingo, sábado. Quando chegava sexta-feira a gente já ficava alegre, mas era sábado à tarde, porque até meio-dia você trabalhava. Sábado e domingo era sagrado a pescaria, caçada e futebol, e era comum todo o pessoal. A gente tem uma lembrança bonita nesse tempo, eu acho que era uma coisa agradável, uma diversão sadia. Hoje é uma outra realidade, mas naquele tempo não tinha outra opção pra gurizada.
JdeB – Antes dos 16 anos, quando retomou os estudos, o que imaginava ser na vida?
José – Olha, eu vou contar uma coisa pra vocês, que até eu rio, sabe, o que eu sonhava quando eu era pequeno? De ser um empregado, assim, digamos, do DER, naquele tempo eles diziam arigó, eu achava que era um baita de um cara esse arigó. Veja bem, eu acho que o mundo me deu muito mais, não que a gente vai menosprezar a profissão, que todas as profissões são dignas, eu acho que o meu pai exerceu e que todas as pessoas que exercem, mas o meu sonho era pequeno e eu jamais imaginava ser prefeito um dia, porque a gente veio de uma família humilde. Eu vejo uma coisa nos dias de hoje que a pessoa, por mais humilde que ela seja, por mais que não tenha condição, se ela tiver força de vontade e estudar, ela pode assumir os cargos mais importantes da nação brasileira, quer dizer, nós nunca podemos menosprezar uma criança, porque a criança nós temos que incentivar pra que ela possa se tornar um grande cidadão. Eu acho que o mundo me deu, mas foi a partir dessa vontade de aprender, de conhecer o mundo, e eu vejo que não é só fazer uma faculdade, embora eu tenha feito três, que eu acho que é importante, mas eu acho que é o despertar e eu tenho um lado muito positivo, eu sou uma pessoa que estudou muito, eu leio bastante, eu leio em média de três a quatro livros por mês, eu gosto muito da cultura, vou a Curitiba, tô sempre em cinemas, eu adoro cinema, gosto de teatro, de música. Mas eu vejo que a leitura é o conhecimento do mundo, eu leio bastante, eu vejo que aí você passa a ter noção de tudo um pouquinho, porque a pessoa pra poder estar sintonizada no mundo tem que ter conhecimento, e é através da leitura, na internet temos meios de pesquisas ao nosso alcance, facilita enormemente. Seguidamente ou quase todas as noites eu fico até horas da noite sempre pesquisando, lendo para que a gente possa adquirir o conhecimento. Uma coisa que até faço questão de dizer é o seguinte: com a morte do meu menino no ano de 95, eu passei a ser uma pessoa sedenta de entender o mundo muito mais.
JdeB – Que experiência o senhor tirou, sendo professor aos 19 anos, de alunos do primário?
Kresteniuk – Eu acho que foi uma experiência que mostrou que eu tenho o dom, uma das coisas que a gente na vida tem que buscar fazer é o que a gente gosta e aquilo que a gente tem talento. Eu, talvez, escolhi a coisa certa. Primeiro, como professor eu sempre me dei bem, foi uma experiência maravilhosa. E também eu digo que ser prefeito duma cidade, você tem também que ter uma certa liderança, também essa capacidade de aglutinação, de resolver problemas no dia a dia. Eu acho que as duas coisas que eu fiz nesses últimos tempos, lidando na vida pública, é uma coisa que talvez eu tenha o dom de entender e compreender, porque ambas as profissões são complicadas. Lidar com o aluno e lidar com o povo.
JdeB – Muitos falam que pra entender o mundo é preciso entender matemática. É isso mesmo?
José – É, na verdade, eu vejo mais a física. No fundo, se usa todos os cálculos de matemática dentro da física, mas, por exemplo, as cores são vibrações, digamos, ela tem a questão da energia, o ser humano é energia. Você tem que entender, isso é uma coisa da física, estudar a matéria, a energia, a velocidade, a propagação do som, toda essa coisa é um universo que está aí e que se usa. Hoje os engenheiros trabalham bastante, por exemplo, falam em acústica hoje em um ambiente, é um ramo da física que faz com que esse ambiente fique mais agradável, pra que possa ser usado de forma adequada. Então a matemática, a física principalmente, é um fator importante para entender o mundo, realmente contribui muito.
JdeB – Quais livros gosta de ler?
Kresteniuk – A minha leitura é vasta, eu procuro não me ater, mas eu gosto de ler coisas que falam, digamos, do enigma, da transcendência, gosto muito desse gênero de livro, e hoje existem muitos, muitos autores. Não vou dizer que é o autoajuda, não nesse sentido, mas livros que mostrem, assim, o curioso de ver, por exemplo, seres que viveram em outras épocas, leio muito sobre os maias, os incas, de raças que viveram e foram evoluídas, do ponto de vista, tem muito acervo e dessa gente eu aprendi muita coisa. Recentemente eu fiz psicologia transpessoal, uma pós-graduação, mais uma etapa de estudo, e a gente viu que os professores mostraram bastante coisa da sabedoria dos índios e que a gente muitas vezes tira por chacota os rituais deles, mas que tem um sentido de vida profundo de conhecimento e que o branco dizimou essas culturas. Hoje, quando você pega e começa a ler todo esse universo que tem desses povos, meu Deus do céu. Eu leio bastante coisas assim pra procurar entender essas civilizações, a contribuição que elas deram, o grau que elas chegaram, e também aquilo que está oculto, digamos, ainda por descobrir, é um mundo fascinante chegando à transcendência, ir além.
JdeB – E como começou a vida de político?
Kresteniuk – Eu comecei a militar politicamente no ano de 80, eu fui convidado a me filiar no PMDB, e passei a ser o secretário do partido, e aí eu acabei sendo convidado pra ser candidato a vereador. Fui candidato no ano de 82 e fiz uma grande votação, fui o terceiro vereador mais votado em Renascença, aí me reelegi vereador. O mandato de 82 foi até 88 porque eram seis anos, daí eu fui reeleito e fiquei até 92. Fui presidente da Câmara duas vezes, e aí eu não quis mais disputar a reeleição, fui desafiado e vim em Francisco Beltrão, e fui um dos idealizadores do Colégio Agrícola – que foi estadualizado. Fui o primeiro diretor do Colégio Agrícola aqui em Francisco Beltrão. Vim pra administrar, foi um desafio muito grande porque o colégio era remanescente de um colégio antigo que tinha, mas com as estruturas completamente deterioradas. Foi um desafio grande, porque nós trouxemos muitos alunos que eram filhos de agricultor sem a mínima condição, não tinha nem o que comer, nós sofremos muito com os professores, pra dar conta do recado, mas graças a Deus hoje a gente vê com alegria o Colégio Agrícola sendo consagrado, digamos, sedimentado com prédio e tudo, e a gente ajudou com a sementinha inicial, nós ficamos por três anos no colégio, fiquei administrando. E aí o desafio pra ser prefeito em Renascença, no ano de 95 começou a cogitação. E eu tive uma coisa muito difícil no ano de 95, porque o meu menino, que é o Karisson, faleceu, e a família teve um baque muito grande, houve um desânimo muito grande, passamos dois anos muito difíceis, a família sofreu muito, porque foi uma perda, uma criança sadia, mas deu meningite. Ele tinha 3 anos. Aí eu vivi um drama muito grande, e eu não queria ser candidato, não tinha mais motivação nenhuma, mas quando é pra ser, não adianta. A minha esposa não queria de jeito nenhum que eu fosse candidato, e eu não queria contrariar ela, mas um belo dia, não sei, alguém convenceu ela que a gente tinha uma missão pra Renascença, e ela disse “tá, se você quiser, vamos, se o povo quer, vamos ver o que que é”.
JdeB – Voltando pra sua família. Como é que a dona Elza entrou na sua vida?
Kresteniuk – A Elza é o seguinte: nós nos encontramos estudando juntos, quando fizemos o ginásio. E fui eu que tirei a Elza pra área de professora, porque ela tinha mais um talento, o pai dela lidava com o comércio, tinha mais jeito de bodegueiro, com um termo mais brincalhão (risos), mas daí ela acabou sendo professora. E uma coisa engraçada, quando eu lecionei lá no Buriti, a minha experiência, daí eu dei a minha vaga pra ela, foi uma troca, e ela passou a ser professora, e eu vim estudar em Beltrão, e ela a partir dali passou a ser professora. A Elza é formada em Letras, é professora há muitos anos no município, mas nós nos encontramos na escola.