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Francisco Beltrão
quarta-feira, 04 de junho de 2025

Edição 8.219

05/06/2025

Josefina Krause: A primeira professora de Salgado Filho

A professora Josefina Krause recebeu em julho desde ano o título de cidadã honorária da Câmara de Vereadores e da administração municipal de Salgado Filho. Ela foi a primeira professora do município. Natural de Pedras Brancas, que pertencia ao município de Lageado (RS), Josefina é filha de Domingas e Daniel Titton, casal que teve 12 filhos. 
Com quatro anos de casados, Domingas e Daniel se transferiram para Chapecozinho/Ponte Serrada, no Oeste de Santa Catarina. Josefina conseguiu concluir o ensino primário em Chapecó (SC). E mudou para a comunidade de Salgado Filho em novembro de 1953.
Josefina já veio sabendo que iria dar aula no ano seguinte para as crianças da vila e arredores. Apesar da boa vontade e disposição, ela não tinha o curso de Magistério. “Cheguei a lecionar para 72 alunos”; era uma turma multisseriada.
Ela casou em 1955 com Fridhold e, com ele, teve sete filhos (um faleceu após o nascimento e outro posteriormente). Seu marido foi taxista e comerciante em Salgado Filho. Mas eles também moraram em Flor da Serra do Sul. Dona Josefina teve que abandonar o magistério após  dez anos por problemas de saúde. Depois de alguns anos residindo em Flor da Serra, a família voltou para Salgado Filho.
Josefina perdeu o marido em 2001. Foram 44 anos de casamento. Moradora da região central da cidade, ela passa o dia se dedicando às leituras, fazendo orações e crochê. (F.P.)

JdeB – Como eram os alunos aqui, muito bagunceiros?
Josefina – Olha, francamente, eu não dou aula agora, mas pelo que vejo hoje, eu não trocava setenta que eu tinha numa classe por uma classe de quinta de hoje. Ainda que agora estão grandes, mas esses tempos, meu Deus, essa aqui (olhando para a filha Vanda), se começa antes, sabe como que é, pro diretor, ele começo que faz anos que dá aula.

JdeB – O pessoal respeitava?
Josefina – E depois podia passar a vara, só que eu surrei dois alunos uma vez e nunca precisei, eu me mandava também, eu não mostrava tempo, eu tratava bem, conversava, ia na hora do recreio brincar com eles, mas na aula era silêncio, cada um podia pedir o que precisava de necessidade e pronto. Nunca tive problemas assim, eu sempre fui bem na aula só que depois eu comecei a ficar doente, e o médico me proibiu de dar aula. Era pra deixar de dar aula se eu quisesse me recuperar.

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JdeB – E como era ser professora, zeladora, cozinheira?
Josefina – Não tinha zeladora, não tinha nada. Quando era pra lavar a escola, a gente lavava uma vez por semana, às vezes cada quinze dias, quando chovia. Os alunos, os guris puxavam água aqui embaixo, aonde agora tem uma ponte (rio que passa próximo à casa dela), dali puxavam água lá em cima, aonde agora é o viveiro do IAP; e as meninas então me ajudavam a lavar banco, lavavam tudo, mas tudo ficava branco, não tinha pintura, não tinha nada. Se não chovia, a gente lavava no sábado; se no sábado chovia deixava pro sábado seguinte.

JdeB – Como era a relação dos pais com a escola?
Josefina – Os primeiros anos foram (de salários) sempre pagos pelos pais; no segundo ano foi quatro vezes pago pelos pais, daí passou para o município, mas zeladora não tinha.

JdeB – Os pais ajudavam com alimento?
Josefina – Sim, os pais sempre colaboravam. Eu tenho muita saudade daquele tempo, daqueles pais. Até esses dias tirei fotografias com uns alunos, que eu ganhei uma homenagem; olha, não porque me lembre de se queixar deles, e os pais colaboraram, se eles me desobedecessem, quando fazia reunião era pra fala. Eu acho que era melhor aquele tempo do que agora.

JdeB – Tinha muita pobreza, alunos muito pobres?
Josefina – Todo mundo era pobre naquele tempo, tinha um que tinha comércio mas, sabe, comércio assim é só mesmo pra remediar a situação. Até esses tempos a Terezinha trouxe duas ou três vezes a turma dela cada ano, pra mim conta como que era; eles querem saber como era tudo, ninguém ganhava merenda, ninguém ganhava um lápis, ninguém ganhava nada, era tudo custeado pelos pais, o que os alunos precisavam. Depois eu me queixei com o prefeito, no segundo ou terceiro ano. Eu disse mas meu deus do céu, com tanta gente pobre! Sabe o que ele fez? Ele fez uma surpresa. Foi pra ver um senhor que era conhecido, daí ele mandou um livro de primeiro ano e um de segundo ano e lápis, caneta e aquele tempo tinha que fazer a tinta em casa. Então daí aquele ano melhorou e todo mundo ficou contente, mas era bom. Eu nunca tive problema assim de brigar com os pais dessas coisas não, eles sempre comentavam que era pra executar.

JdeB – A senhora foi catequista em Salgado Filho e Flor da Serra.
Josefina – A catequese enquanto eu era professora eu dava duas vezes por semana 15 minutos de sábado, e 15 minutos de quanta-feira, foram 16 anos de catequista.

JdeB – Era só a senhora ou tinha outras também?
Josefina – Sim, tinha catequista aqui, uma vez eram 14, 15. E tinha as do interior. Eu tinha uma foto, mas daí empresta pra lá, empresta pra cá, e agora não tenho mais. Tem ainda o Nindo Uti, que era catequista junto comigo, o Sílvio Centenaro que agora é advogado em Barracão. Eles me ajudavam.

JdeB – Eles convidavam a senhora porque a senhora era professora?
Josefina – Sim, quando eu era professora eu dava aula e depois fui catequista mais 16 anos pela igreja. E daí o meu marido ficou duas vezes, uma vez em Flor da Serra pelo presidente da igreja no tempo em que eu morei pra lá, daí pela igreja meu marido era presidente.

JdeB – O que a senhora lembra  da construção da igreja atual?
Josefina – Eu acho que aquele tempo era mais fácil que agora, o pessoal colaborava mais, se a gente olha, nossa! quando o meu marido era taxista, ele saía e ficava até oito dias (fora), porque ele vai sempre pro Rio Grande, não tinha ônibus, não tinha nada. E era eu que comandava, tinha outros, mas eu comandava tudo e o pessoal colaborava, precisa ver quando foi pra fazer a igreja, fizeram campanha, mas pra ver, não tem, colaboravam muito mais do que agora.

JdeB – O que o pessoal doava?
Josefina – Às vezes tinha gente que dava um boizinho, dava porco, dava galinha quando era pra festa. A gente matava as galinhas, outras só davam uma parte, e tinham que estar recheadas, cozidas. A carne pra igreja geralmente, um dava um boizinho outro dava um porco, a maioria das vezes era ganho, poucas vezes a gente comprava.

JdeB – Na construção da igreja tem uma história interessante.
Josefina – Tem uns negócios que eles fizeram de concreto, uma caixa, e tem dentro o histórico escrito quando foi inaugurada, quando quem era a diretoria e tudo assim, tem enterrado lá.

JdeB – E isso vai ser aberto quando? Daqui uns 50 anos?
Josefina – Não, ele tá concretado, ali na passarela da igreja pra canônica, ali em baixo, é o histórico daquela vez, como que era o nome da diretoria, o nome da igreja dos santos, coisas assim né.

JdeB – Na outra história que a senhora citou antes, que as aulas eram até no sábado de manhã.
Josefina – Então, dia de semana era aula normal, e no sábado de manhã tomava lição das crianças, porque naquele tempo tomava lição das crianças, ler, tomava lição das crianças, corrigia o tema que tinham feito, depois passava tema pra casa, e depois do tema era dado o catecismo e limpava a sala e ia pra casa.

Jde B – Como foi que a família saiu daqui de Salgado filho e foi pra Flor da Serra lecionar?
Josefina – Com aquilo eu falei que entrou outros professores o professor aquele é até meu compadre, padrinho da minha menina mais velha, e ele dava bem de conversar, só que ele era meio, sabe, queria da inicial pra padre conhecer um pouco mais, e a mulher dele não entendia nada e queria mandar e não me deixava mandar, nunca briguei assim, daí fui num casal daqui que até era compadre nosso e foi morar em Flor da Serra, e fui pra Barracão por causa da aula pra receber, e daí tinha que esperar ônibus lá naquele meu compadre. Ele me disse:  “Não quer vir morar pra cá, se vocês querem vir morar pra cá eu dou o lote”. Eu e meu marido tava construindo casa ainda; então meu marido concordou, lá tinha bastante construção, aqui não tinha mais tanta e daí mudamos pra lá, e eu fui a primeira professora lá também e depois, quando fiquei doente, quando ganhei o Celso que fiquei doente e tive que desistir, porque o doutor mandou me afastar por causa da cabeça que tenho até hoje um problema, pode ver, vivo tonta, tem dias que dá dor de cabeça e parece que vai explodir, daí desisti de dar aula, não me aposentei nem nada.

JdeB – Mas se fosse pela senhora, teria continuado lecionando?
Josefina – Se fosse por mim, tinha continuado, se não fosse o problema de saúde. E até porque depois tinha que ter pelo menos segundo grau, mas depois eu fiz três cursos e os três cursos de todos os professores do município eu sempre tirei o primeiro lugar. Esses dias vi a Tereza e ela achou meu certificado, pedindo se era meu, e 88 a nota, nunca tirava menos de 80.

JdeB – A senhora não pode mais lecionar e virou costureira.
Josefina – Eu sempre sabia, eu já era costureira desde solteira, eu comecei a costurar com 16 anos, fiz corte de costura, costurava terno, vestido, bombacha, tudo o que precisava. Fiz o corte e costura com uma senhora lá, e daí vim pra cá, meio dia dava aula, o outro meio dia fazia o serviço e depois corrigia os temas, preparava tudo daí eu ia pra máquina, às vezes era uma hora da madrugada eu tava costurando porque não tinha costureira, e assim foi.

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