
na capela do Hotel do Gelo.
Chegamos a Helsinque, depois de voarmos Curitiba/São Paulo/Londres/Helsinque, com uma temperatura de menos 3 graus. A bela capital da Finlândia estava muito quente para os finlandeses, o normal nesta época do ano é estar em torno de 20 abaixo de zero.
Já no dia seguinte, eu e meu marido Carlos Henry Bellot Vargas, junto com um pequeno grupo de brasileiros, fomos de avião até Rovaniemi, mil quilômetros ao norte da capital. A pista do aeroporto fica exatamente na linha do Círculo Polar Ártico. Descemos com uma temperatura de 8 graus negativos e caindo uma nevasca.
Neste dia estava começando em Rovaniemi o rally sobre gelo, que estava completando 50 anos da primeira realização. Os carros usam apenas um pneu com mais sulcos mais altos e como se fossem pregos, mas apenas com a cabeça do prego fora do pneu. Imaginávamos que eram acorrentados. A cidade é a capital do Estado da Lapônia.
A Lapônia é uma região que abrange quatro países: Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia, como a Amazônia na América do Sul (Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa).

No primeiro dia, a grande aventura: andar de trenó puxado por motos para o gelo, por uma hora, sobre a superfície de um rio congelado. Para isto tivemos que usar uma segunda pele, espécie de ceroula, mas que não pode ser de algodão, senão o suor congela e como consequência congela o nosso corpo. Sobre esta, um pijama de 100% poliéster. Por fim um macacão especial, que foi alugado, que contém três camadas. Nas mãos uma luva de lã, mais uma de couro, forrada de lã de rena, e nos pés uma meia de lã, mais uma de lã de rena e uma bota especial para a neve, mas que tinha um forro também de lã de rena.
Quando saímos da cidade, a temperatura era de 20°C abaixo de zero, mas com meia hora andando a sensação térmica chegou a menos 37 graus. Tivemos que parar para nos exercitar, a fim de não congelar as pontas dos dedos. Quase esqueci: na cabeça um capuz de lã e o capacete de motoqueiro. O vento, andando a mais ou menos 40 por hora, cortava os nossos rostos, mesmo protegidos. Algumas pessoas congelaram as lágrimas e os cílios. Neste momento, quase todos pensávamos que irámos morrer congelados.
Os guias nos tranquilizaram que não estava muito frio. Com mais meia hora chegamos ao destino, uma cabana aquecida, com um fogo de chão, lembrando as tradições gauchescas e chá e café muito quentes. Neste mesmo local fomos fazer um pequeno passeio de trenó, só que puxados por cães husky siberianos. No ano passado eu fiz este passeio no Alaska, a diferença é que fui até o local de helicóptero.
Neste período do ano, janeiro, o dia amanhece às 9:30 e às 16 horas já é noite. Nem sempre o sol aparece. Na época de Natal, praticamente não existe claridade, as 24 horas são noite. Nos seis dias que ficamos nesta região, usamos a roupa especial, para tudo, irmos ao restaurante, às lojas. O povo que lá vive já está habituado, então usam roupas mais leves, pois não ficam em locais abertos por muito tempo. Todas as casas e carros têm calefação, senão morreriam congelados. O problema para eles é quando passa dos 45 graus negativos. 47,5 foi a temperatura mais baixa, no dia 28 de janeiro de 1998, por coincidência o dia de meu aniversário, que neste ano de 2015 passei lá.
No outro dia, fizemos uma aventura, mais assustadora. Passamos o dia num navio quebra-gelo, que é utilizado, como o próprio nome diz, para quebrar o gelo, a fim de que os outros navios possam chegar até o porto. Hoje tem grandes navios, o que estivemos é um navio dos anos 60 que é atualmente usado para turistas. O auge deste passeio foi colocar roupas de borracha, como as usadas por mergulhadores, e descer do navio caminhando sobre o Mar Báltico congelado e, numa espécie de piscina aberta no mar, boiar por uns três minutos na água com a temperatura de 35°C abaixo de zero. No momento em que estávamos fazendo nevava muito.
Visitamos um hotel de gelo, as mesas do restaurante são blocos de gelo, o mesmo das camas, que as pessoas dormem com um saco de dormir de lã de rena. Tinha também uma capela, com esculturas no próprio gelo, com lustres de cristal e onde naquele dia seria celebrado um casamento. A temperatura média dentro do hotel é de menos três graus. O banho é quente. O normal é os turistas dormirem apenas uma noite, pelo inusitado e o custo da diária, em torno de R$ 1.500,00.
De ônibus, partimos para Saariselkã, 300 km acima do Círculo Polar Ártico, para nos hospedar na aldeia de Papai Noel. Praticamente em toda a viagem teve neve. Nossos apartamentos na verdade são iglus, para duas pessoas, de vidro, o que tem como finalidade tentar ver a aurora boreal. A aurora boreal ocorre devido ao contato dos ventos solares com o campo magnético do planeta. A intensidade luminosa das auroras é muito variável, irregular e pulsante. A cor é muitas vezes esverdeada porque corresponde ao espectro de oxigênio. Infelizmente, como é um fenômeno da natureza, não somos nós que marcamos a hora, não foi possível visualizar.
O Papai Noel se chama Santa Claus, que não é o Papai Noel cristão e sim um menino pobre, que vivia nesta região gelada e perdeu seus pais, sendo adotado por toda a comunidade. O meio que ele encontrou para retribuir, quando se tornou adulto, foi presentear as crianças pobres com brinquedos. O Santa Claus finlandês é o oficial para a Lapônia, pois legalmente você recebe o carimbo em seu passaporte, atestando que esteve na terra de Papai Noel. Em toda a Lapônia o povo que habita são os lapões, mas na Finlândia este povo é o sami, descendentes de asiáticos que chegaram logo depois da era glacial. Os lapões são descendentes de vikings. Visitamos ainda uma fazenda de criação de renas, onde se utilizam as renas para puxar os trenós. Atualmente, os mais modernos já usam motos par o gelo e automóveis. Comemos carne de rena, de urso, de perdiz do ártico, entre outras iguarias. No momento da decolagem, foi limpada a pista do aeroporto e lavado com água quente o avião para derreter a neve. Num restaurante de Helsinque tinha talheres da empresa gaúcha Tramontina.
Já em Londres estávamos na troca da guarda do Palácio de Buckingham, quando a Rainha Elizabeth II estava saindo para as comemorações aos 50 anos da morte de Winston Churchill na Abadia de Westminster, que visitamos mais tarde na companhia de Selma Phollmann, beltronense que vive em Madri e veio nos encontrar em Londres. Também a beltronense, que vive em Londres, Neusa Francio esteve conosco e mais tarde meu primo Vinicius Montemezzo Claus, que é cidadão europeu há 10 anos e trabalha na companhia aérea British Airways.
Edson Luiz Montemezzo, beltronense e procurador federal em Curitiba.