Após as grandes enchentes de 1983 e o desejo de reconstruir a cidade, o projeto ousado do Edifício Maria Adriana foi visto com olhos duvidosos. Há 33 anos da sua inauguração, porém, hoje ele é um marco para a história da construção civil local.

Os impactos das enchentes de 20 de maio e 7 de julho de 1983 ainda estavam no imaginário dos beltronenses no ano de 1985. As muitas horas de chuvas ininterruptas que atingiram a cidade naquela época foram o suficiente para mais de 4,5 mil pessoas ficarem desabrigadas e esconder as pontes que ligam os bairros Cango e Cristo Rei ao centro da cidade, deixando parte da população isolada.
Dez metros acima do seu nível normal, o Rio Marrecas alcançou a Avenida Júlio Assis Cavalheiro, represou os rios Urutago e Lonqueador, chegou às instalações do Hospital São Francisco e deixou submerso o parque de exposições. Indústrias, principalmente as de madeira, tiveram seus depósitos inundados e safras de agricultores próximas aos rios foram perdidas. O impacto econômico atingiu patamares inimagináveis.
A reconstrução, com a lenta ajuda das “cidades irmãs”, Francisco Beltrão e Ribeirão Preto (SP), foi feita com cargueiros Búfalos da Força Aérea Brasileira (FAB), que traziam roupas e mantimentos para os desabrigados. Em 1985, a cena ainda era viva e, por isso, não havia espaço para o sonho do progresso.
Nesse turbulento cenário é que o setor comercial e empresarial de Francisco Beltrão se debruçara para encontrar soluções capazes de recuperar a cidade, que, por duas vezes, num período inferior a três meses, havia se convertido em uma Atlântida paranaense. Mas trabalhadores da construção civil já estavam escassos. Na procura pela própria estabilidade, migraram para outras regiões e outros empreendimentos.
A construção civil, embora necessária, não parecia ter ares de sucesso. E muito menos de que era sua vez nas ações emergenciais.

Maria Adriana
Paralelo a isso, e na contramão, os irmãos Odarci e Odair Serraglio, motivados por uma conversa que tiveram com o irmão Osmar, que contou sobre um engenheiro que conhecera em Umuarama e que estava motivado em investir economicamente na cidade, propuseram uma obra que marcou o cenário urbano de Beltrão, iniciando a construção de prédios mais altos: o Edifício Maria Adriana.
“Solicitamos um estudo de um prédio semelhante ao arquiteto Dalcy Salvati. Juntamente com ele e o engenheiro Valnei Ghedin (responsável pelo cálculo estrutural), apresentamos a ideia a um grupo de empresários, na CDL. Com ajuda da explanação do senhor Roberto Pécoits, que conhecia o sistema, o estudo do prédio foi aprovado. Na mesma noite, fizemos uma lista dos possíveis interessados em adquirir uma quota. O projeto foi elaborado para a construção de um edifício comercial e residencial, com 20 apartamentos, dois por andar, e lojas no pavimento térreo. A ajuda dos empresários foi fundamental para convencer o prefeito de que a obra era viável e obter a aprovação do projeto. As pessoas se assustavam e não acreditavam que seria possível”, relembram os irmãos Serraglio.
Em poucas semanas, os projetos foram concluídos e a obra iniciada, com cada pavimento sendo erguido a cada 15 dias. Foram 18 meses para construção e mais 90 dias para ajustes finais e de documentação.
O nome, Maria Adriana, homenageava a mãe dos engenheiros da construtora; ela estava em frente ao prédio, em 18 de fevereiro, quando inaugurado. O dia foi documentado pela imprensa local e pelas rádios, que destacaram o momento como histórico para uma cidade recém-inundada.
“Nosso objetivo era fazer o povo acreditar em sua cidade, insuflar o ego adormecido e fazer nascer a esperança de uma região que se dizia próspera, mas que não se fazia conhecer essa prosperidade. Para a época, o edifício teve seus reflexos, principalmente por atingirmos nosso maior objetivo, que era de os trabalhadores voltarem para a cidade e os empresários acreditarem e aplicarem na cidade”, contam.
Maria Adriana nasceu sob olhares duvidosos e desconfiados de quem acreditava se tratar de um “elefante branco” ou que o achavam desnecessário em vista do tempo que a cidade vivia. “Para que fazer um prédio assim em uma cidade colonial? Tem que preencher os lotes baldios, que são muitos, ao invés de fazer prédios”, ouviram os irmãos da construtora, junto da crítica de que o prédio envergonharia a cidade.
Mas, diferente do prelúdio, após a inauguração do Maria Adriana, novos empreendimentos em tamanho e exuberância foram projetados e erguidos na cidade: o Santa Maria, nome dado pelo dr. Walter Pécoits em homenagem à sua cidade natal; o Edifício Araucária, homenagem aos pinheirais do Paraná; San Fernando, em homenagem a Vergílio Fernando, pai dos engenheiros Odair e Odarci; e o Empresarial Eldorado, que homenageia o sonho, o ideal, o eldorado de cada um.
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