Ela e o esposo, Eloir Frozza, têm quatro filhos adotados: Tiago, 22 anos, Fernando, 20, Katiane, 10 e Ana Vitória, 5.

A adoção ainda é um tabu para muitas famílias do Brasil. Nesse cenário, Marileusa Frozza, de São Jorge D’Oeste, enfrentou algumas situações de preconceito, inclusive quando foi celebrar um dos primeiros Dias das Mães ao lado do seu filho, Fernando. “Uma vez eu escutei de uma pessoa dizendo, com certo desdém, assim: ah, eu vou te dar os parabéns, você é mãe. Já se passaram 15 anos e eu ainda engasgo quando falo disso porque nós não queremos ser mais ou menos mãe. A gente só quer ser mãe. Não precisa fazer comentários além, não precisa colocar observações doloridas. Eu não estou aqui para ganhar o céu, nós não fizemos isso para parecer melhor. As coisas foram acontecendo, aparecendo e aproveitamos as oportunidades. Esses filhos vieram para nos ajudar a enfrentar muitas dificuldades. Deus que colocou eles na nossa vida, não nós na vida deles”, disse.
Marileusa e o marido, Eloir Frozza, têm quatro filhos adotados: Fernando Gabriel Frozza, 20 anos, que está com a família desde quando tinha 3 anos e oito meses; Tiago José Frozza, 22, que foi adotado com 12 anos e meio; Katiane Saibel, 10, que foi viver com a família com 6 anos, e Ana Vitória Sacramento, 5, que chegou na família desde quando tinha 1 ano. Em entrevista ao Jornal de Beltrão, Marileusa falou sobre os processos de adoção. Confira:
JdeB – Como foi que vocês decidiram adotar seu primeiro filho?
Marileusa Frozza – Nós somos casados há 25 anos e sempre sonhamos em ter filhos, formar família. Eu sempre quis ser mãe. Como não estava vindo naturalmente, comecei a fazer investigações, tratamentos, mas estava demorando. Paralelo a isso, surgiu a ideia da adoção. Depois de sete para oito anos de casados, resolvemos dar entrada na documentação para adotar. Depois disso, tivemos contatos, conhecemos algumas crianças e fomos fazer uma visita na Casa Lar, em Francisco Beltrão, onde conhecemos nosso primeiro filho, o Fernando. Entramos com pedido de guarda provisória no Fórum de Francisco Beltrão e conseguimos, no dia 17 de dezembro de 2004, trazer ele para casa e depois já encaminhamos para a guarda definitiva. Como ele era maiorzinho e as pessoas querem mais bebês, foi mais fácil. Ele chegou com 3 anos e 8 meses e faz 20 anos no dia 24 de abril.
A vontade sempre foi ter mais de um filho?
Nós continuamos na fila para adotar mais uma criança, renovamos o cadastro e ampliamos o leque. Fomos chamados para fazer um curso, uma formação para pais e um dos estágios desse processo era visitar a Casa Lar de Dois Vizinhos. Levamos o Fernando conosco e saindo de lá ele disse para adotarmos duas meninas. Eu expliquei para ele que o processo era mais lento e ele disse que era só para adotar o menino do moicano. Na época, o Tiago estava com moicano no cabelo. Chegando em casa, conversamos e ele insistia no menino do moicano.
Entramos em contato com a assistente social e, no dia 5 de novembro de 2011, conseguimos autorização para ele passar o final de semana conosco. Na segunda-feira, quando o levamos de volta, foi uma situação bastante difícil. A gente chorou muito, ele chorou muito, saímos de lá bem tristes, mas a gente não estava devolvendo, só estávamos cumprindo regras. Aquilo marcou muito nossa vida. Saímos de lá, fomos ao Fórum, encaminhamos os papeis.
Tem um fato curioso na vinda do Tiago porque, depois de um ano que adotamos o Fernando, nós fomos fazendo um trabalho com ele porque ele passava em frente à Casa Lar, em Beltrão, e se sentia muito acuado. Mostramos que ele não voltaria para lá, só visitaríamos. Então um dia fomos visitar a Casa Lar, levamos doces para comemorar com as crianças e tiramos algumas fotos. Numa dessas fotos, o Fernando está sentado ao lado do Tiago. Alguns anos depois, eles se tornaram irmãos. São designíos de Deus, coisas que Deus coloca na nossa vida e não temos como explicar.
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E como aconteceu a adoção das meninas?
Elas entraram na nossa vida de um jeito diferente. Uma família de São Jorge estava passando por dificuldades e várias pessoas estavam ajudando. A mãe estava doente, as crianças ficaram sob a guarda de uma irmã dela que já era casada e a gente também ajudava. O principal é que não ajudávamos financeiramente, mas com o apoio de cuidar as crianças. Elas vinham num final de semana ou durante a noite ficar conosco. Nisso, nos disponibilizamos a acolher as duas até que a mãe saísse do hospital e conseguisse seguir a vida. Não queríamos que elas fossem para a Casa Lar para não perderem o vínculo com a família. As coisas foram acontecendo e, infelizmente, não foi possível os pais reaverem a guarda e nós entramos com pedido de guarda provisória porque a irmã da mãe acabou engravidando, já era o terceiro filho, ela não podia cuidar mais, então ela entregou as meninas para a justiça, que abrigou elas, por 20 dias, na Casa Lar, em São João.
Nesse meio tempo, entramos com pedido de guarda provisória para que elas voltassem a ter o convívio com toda a família aqui na cidade. Em junho de 2017, conseguimos a guarda provisória. O juiz não destituiu ainda o pátrio poder dos pais, eles ainda têm direito a visitas e isso a gente nunca proibiu, elas vão visitar o pai e a mãe, a irmã, o pai vem, o vínculo continua. Os filhos sempre souberam que são adotados?A gente não esconde nada. Quando o Fernando estava mais grandinho, já tinha um ano conosco, eu e ele estávamos conversando e eu comecei a contar um pouco da história dele, de uma mãe que não podia cuidar do filho, que precisou entregar na Casa Lar e que depois conheceu a nova família. Quando eu terminei de contar a história, ele pediu para contar novamente.
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Então ele teve ciência, consciência, porém, essa história, não pertence a ele. O Tiago veio maior, com consciência, a Ana, que veio bebê, sabe que tem a mãe do coração e a mãe da barriga e a Kati também. O Tiago convive com os irmãos biológicos, o Fernando não quis conhecer, não quer saber e também respeitamos isso. Quando as pessoas perguntam alguma coisa, eu sempre busco falar com naturalidade. A história deles é essa e eu não posso negar.
Qual o conselho você daria para alguém que quer adotar um filho?
A primeira coisa que a pessoa deve colocar na cabeça é se ela quer, realmente, adotar. Só assim para passar pelo processo. Eu tive certeza numa das etapas do meu tratamento para engravidar, eu cheguei numa etapa em que, talvez, iria fazer fertilização in vitro, inseminação artificial e eu lembro que voltei do médico e, conversando com a minha mãe, quando eu comentei com ela sobre as etapas, ela pediu se eu queria mesmo passar por isso. Naqueles dias, eu tinha assistido uma reportagem mostrando frustrações nas inseminações artificiais e nas fertilizações in vitro. Eu já tinha passado por várias. Fazia o tratamento, atrasava a menstruação, fazia o exame e dava negativo. Aí decidi que não queria mais passar por isso. O que eu digo para as famílias é que, se querem muito dar um lar para a criança, vale muito a pena.