Anualmente, três em cada dez vacas leiteiras apresentam inflamação aparente da glândula mamária.

Por Valmir da Cunha Vieira*
A mastite é a inflamação da glândula mamária que se caracteriza por apresentar alterações patológicas no tecido glandular e uma série de modificações físico-químicas no leite. As mais comumente observadas são alteração de coloração, aparecimento de coágulos e presença de grande número de leucócitos. A mastite é a enfermidade mais comum em vacas leiteiras adultas, sendo responsável por 38% de toda morbidade.
Anualmente, três em cada dez vacas leiteiras apresentam inflamação clinicamente aparente da glândula mamária. Dos bovinos acometidos, 7% são descartáveis e 1% morre em decorrência da doença, mais de 25% das perdas econômicas totais de bovinos leiteiros, associadas às doenças, podem ser diretamente atribuídas à mastite (Perez Neto & Zappa, 2011).
A etiologia (causa) dessa doença pode ser de origem tóxica, como infecções uterinas; traumática, como equipamento de ordenha; alérgica; metabólica, como acidose ruminal – dietas desbalanceadas; ou infecciosa, sendo as causas infecciosas as principais, destacando-se as bactérias pela maior frequência, além de fungos, algas e vírus (Radostits, 2000).
Os prejuízos são representados por 70%, devido à redução na produção dos quartos mamários com mastite subclínica; 14% por desvalorização dos animais pela redução funcional dos quartos acometidos, descarte precoce do animal ou morte; 8% pela perda do leite descartado por alterações ou pela presença de resíduos após tratamento; 8% pelos gastos com tratamentos, honorários de veterinários, mais despesas com medicamentos (Costa, 1998; Cassol, 2010).
O que fazer?
Frente a um caso de mastite clínica, em que há alteração de temperatura (febre), queda de consumo alimentar e mudança visual na composição do leite (soro, sangue, grumos, etc), inicialmente coletar amostra do leite em frasco esterilizado, congelar e estabelecer tratamento com medicamentos sob orientação do médico veterinário. Evitar “recomendações” de tratamentos de outras fazendas, pois cada uma delas pode ter diferentes agentes causadores.
Não havendo resultado satisfatório (cura do quarto mamário), encaminhar a amostra de leite para laboratório veterinário, onde será identificado o agente e testados diferentes medicamentos para um tratamento mais efetivo. Não há garantia de cura por fazer-se o exame em alguns casos, porém, através deste exame e do apoio laboratorial, pode-se estabelecer a partir da identificação do agente programas preventivos para reduzir o número de casos na fazenda.
Dica: Este procedimento de coleta antes do tratamento evita ter que aguardar o término da carência do medicamento para depois coletar amostra para exame.
A identificação do agente é necessária para a recomendação de tratamento apropriado, devido a não efetividade de antibióticos intramamário para casos como Mycoplasma, leveduras e staphylococcus aureus crônicos. Em aproximadamente 29% dos casos não há crescimento bacteriano nas amostras, e nem fúngico, assim, os cuidados com os casos de inflamação da glândula mamária devem ter uma investigação detalhada sobre manejo de ordenha, manutenção do equipamento de ordenha, que podem estar “machucando” os tetos, reduzindo a liberação de ocitocina e consequentemente aumentando o leite residual nos quartos mamários, que apresentam grumos nos primeiros jatos, mas não há redução expressiva na produção de leite.
As taxas de cura variam em cada tratamento, dependendo do agente causador, duração da infecção e condições sanitárias, imunidade, estágio de lactação, idade e histórico de CCS (células somáticas elevadas) da vaca.
Tratamentos da mastite subclínica
Agentes que estabelecem infecções subclínicas de mastite podem persistir no úbere por longos períodos sem detecção. Devido a não apresentarem alteração no leite, como ocorre na mastite clínica. Há redução na produção do leite em até 25% dependendo do agente. Sua detecção pode ser através de teste de triagem como CMT (Califórnia Mastite Teste – teste da raquete), em que observa-se coagulação do leite. A avaliação da CCS (Células Somáticas Individuais) também permite a identificação de animais com altas contagens.
Entretanto, é preciso entender que tanto CMT positivo ou CCS elevada nem sempre são indicadores de presença de microrganismos no quarto mamário. Lesões provocadas por equipamentos de ordenha, leite residual após falta de luz que atrase demasiadamente a ordenha, sobre ordenha (equipamento fazendo vácuo no teto e não há mais leite para retirar), dentre outros fatores podem elevar as células de defesa no úbere.
Para mastite subclínica não há recomendação dos pesquisadores para tratamentos durante a lactação, porém, em casos de altas contagens e com identificação do agente, pode-se, a critério do médico veterinário, aplicar um tratamento para a redução da CCS e para obter a cura efetiva, ser realizado outro procedimento no período seco em que há maior taxa de cura (Rueeg, 2003).
Cuidados: Evitar associações de antibióticos sem orientação de médico veterinário, tratamentos sem diagnóstico de agentes microbianos, equipamentos de ordenha mal regulados ou sem manutenção, locais de repouso das vacas com alta contaminação, rebanhos com acidose ruminal (baixa gordura, fezes amolecidas, oscilação de produção, etc), levam os produtores a altas taxas de descarte involuntário e elevados custos com medicamentos.
O correto diagnóstico da mastite auxilia no estabelecimento de programas preventivos, que reduzem descarte involuntário e despesas adicionais. Tendo-se o conhecimento dos agentes na propriedade também pode-se utilizar de vacinas específicas já disponíveis no mercado e que elevam a imunidade do rebanho e auxiliar na recuperação dos animais que forem mesmo assim acometidos pela mastite.
*Valmir da Cunha Vieira, médico veterinário do Provalab e consultor técnico em nutrição e gestão em propriedades leiteiras.
Regra geral para controle de mastite é o programa de 6 pontos
1 – Mastite clínica: Todos animais devem ser tratados – coleta de amostras de leite para identificação do agente. Tratamento entre 5 a 7 dias.
2 – Mastite subclínica: Realização de blitz (tratamento de curta duração) para redução de CCS e tratamento visando a cura no período seco.
3 – Manutenção de equipamentos de ordenha: Regulagem com computadores e avaliação com pulsógrafos. Uso de detergentes alcalinos e ácidos com temperatura de água de saída não menor que 40°C.
4 – Uso de pré e pós dipping: Nos tetos antes e depois da ordenha – manter as vacas em pé na área de alimentação para que o esfíncter do teto possa fechar (média 1 hora).
5 – Tratamento de todas as vacas secas com antibióticos de longa duração para o período.
6 – Descarte de vacas crônicas de mastite: São reservatórios de microrganismos e recebem muitos tratamentos durante a lactação, não sendo produtivas, mas gerando despesas e mão de obra.