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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Mesmo com manutenção em dia, os freios podem apresentar falhas a qualquer hora

 

Nesta foto é possível verificar facilmente o sistema de freios, com os reservatórios de ar, mangueiras e válvulas. 

 

Por pouco – muito pouco mesmo – o episódio que aconteceu no final da tarde de quinta-feira, 8, no Trevo do Alvorada, em Francisco Beltrão, não terminou numa tragédia de proporções incalculáveis. Por sorte, apenas danos materiais e um grande susto para os envolvidos. O motorista da carreta alega que ficou sem freios, ou seja, uma máquina carregada com mais de 40 toneladas, ladeira abaixo, sem freios! E não é a primeira vez que se noticia um acidente na região envolvendo caminhões que alegam ter apresentado falha no sistema de freios. Mas e aí? Qual a probabilidade de episódios semelhantes – ou piores – se repetirem?

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Diariamente, nas rodovias do Sudoeste, milhares de caminhões de vários portes e com distintas cargas trafegam em todas as direções. Infelizmente, nem a Polícia Rodoviária, nem o Departamento de Estradas e Rodagens (DER) possuem uma contagem de tráfego para estimar o número exato, mas basta circular pela região para perceber a presença maciça dessas máquinas que, sabe-se obviamente, são fundamentais para o desenvolvimento do país. A dúvida, porém, é se o sistema de freios dos caminhões é algo tão vulnerável que de uma hora para outra pode apresentar falhar irreversíveis.

 

A palavra do especialista

A maior parte dos serviços de manutenção realizados pela equipe da Mecânica Beltrão, do bairro São Cristóvão, é relacionada ao sistema de freios. Conforme relata o mecânico Itamar Della Líbera, que possui mais de dez anos de experiência no setor, a necessidade dos reparos se deve aos freios serem o equipamento mais exigido e, com isso, de maior desgaste. “Componentes como as lonas de freio têm desgaste constante. E também ocorrem vazamentos do sistema de ar ou mesmo mau funcionamento do sistema. Por isso a necessidade de manutenção constante”, ressalta.

 

O mecânico Itamar Della Líbera, 
da Mecânica Beltrão, 
diz que a maior parte dos serviços
são relacionados aos freios.

Para entender melhor, os caminhões funcionam com um sistema de freios a ar. Através de um compressor, o sistema é alimentado por ar, distribuído em mangueiras e reservatórios (bujões) localizados em toda extensão do caminhão. O sistema pneumático, através da pressão de ar, faz os freios funcionarem, assim como outros componentes do veículo, como a caixa de câmbio, por exemplo. “Se não tiver ar, o equipamento não funciona direito e o caminhão fica sem freios, não consegue mudar marcha, enfim, nada funciona. Claro que existem instrumentos no painel do veículo que indicam que a pressão está baixa, e também conforme baixa a pressão do ar, ele vai segurando o caminhão gradativamente, reduzindo a velocidade até parar e travar. Mas é claro que, morro abaixo, com uma carga pesada e dependendo da velocidade, se o sistema estiver comprometido fica mais difícil de parar”, argumenta o mecânico Itamar.

Existe ainda o freio motor, que opera de forma complementar, principalmente nas descidas. “Mas se não tiver ar, se o sistema de ar não estiver certo, o freio motor também não funciona”, frisa  o mecânico.

Sem calço não dá

No caso do acidente de quinta-feira, informações revelam que o caminhão Scania 113 estaria parado à beira da rodovia PR 483 para manutenção nos freios. O motorista já havia identificado o problema e conseguiu parar o caminhão e solicitar o reparo. Nestes casos, conforme detalha Itamar, alguns procedimentos são fundamentais. “O primeiro passo é calçar bem os pneus do caminhão, para evitar que o veículo desande, principalmente se estiver em uma ladeira. Também é preciso conferir se o estacionário, um sistema de molas que é como o ‘freio de mão’ do carro, esteja acionado. Esses procedimentos são de segurança, justamente para evitar que o caminhão se mova enquanto se faz a manutenção nos freios”, explica.

Uma reportagem da Revista Carga Pesada revelou que uma atitude comum de motoristas de caminhão é desativar os freios de um ou mais eixos, devido a vazamentos de ar, para poder seguir viagem. Fazem isso porque, quando ocorre um vazamento de ar no sistema de freios, entra em ação o sistema mecânico de emergência, que reduz a velocidade. “Infelizmente, alguns acham que, como o caminhão tem cinco ou seis eixos, o freio de um deles não vai fazer falta para segurar o veículo. Então isolam o eixo com o vazamento, num raciocínio totalmente equivocado, pois a eficiência dos freios depende da atuação conjunta de todos os eixos”, afirma Paulo Gottlieb, diretor da Transtech, entrevistado pela Carga Pesada.

 

Mesmo com tudo certo, pode dar problema

O mecânico Itamar diz ainda que, mesmo que o motorista tenha saído com tudo em dia, manutenção certa, podem acontecer problemas durante a viagem. “Às vezes, ele pode sair em viagem e voltar com um pequeno vazamento e não dar nada, mas às vezes pode se agravar. Pode vazar uma válvula, uma manga de ar, uma bica de freio, vai vazar e tentar compensar até baixar o ar, se não conseguir carregar o ar, aí se foi, pode pisar que não faz mais nada. Principalmente numa decida, que é onde mais se exige do sistema de ar e tem que alimentar o caminhão todo, não tem como parar. Quando estiver viajando, a orientação é tentar parar imediatamente, mas, por causa das dificuldades de infraestrutura das estradas do país, muitas vezes não tem onde parar, não existe acostamento, ou não é suficiente para parar uma carreta, que é um veículo grande”, analisa o profissional.

Ele ainda salienta que, como o sistema tenta compensar o ar quando há vazamentos, não percebe na hora que algo está errado. “Demora um pouco até os instrumentos do painel informarem, porque no começo parece tudo normal. Pode estar tudo certo, mas só vai estragar, dar problema, quando estiver rodando”, destaca.

As lonas de freio são os componentes que apresentam 
maior desgaste e precisam ser substituídas constantemente. 

 

Motorista fez o impossível

“Naquela situação, não tinha o que fazer. O motorista fez o que podia e o que não podia. Mecanicamente, não lhe restavam alternativas para parar o caminhão”, diz Itamar sobre o acidente ocorrido na quinta-feira. “Tombar seria um mau caminho, ele colocaria pessoas em risco do mesmo jeito e também risco próprio. Foi prudente, era um motorista experiente e, na minha opinião, tentou fazer o melhor, que foi subir na boleia e tentar guiar o caminhão desviando tudo o que pudesse até conseguir pará-lo”, acrescenta.

O mecânico comenta que os caminhões mais novos tendem a apresentar menos problemas e que os sistemas têm sido aprimorados a cada ano, tornando-se mais eficientes e precisos. “Mas, mesmo com a manutenção em dia, nunca está fora de perigo, qualquer um pode ficar sem freios, às vezes um pequeno vazamento, algo que seja difícil de identificar, pode se agravar de uma hora pra outra e o caminhão ficar sem freios. Peso, desgaste, força, velocidade, estradas horríveis, falta de infraestrutura e sinalização adequada em locais de risco ou perigo, tudo isso agrava ainda mais a situação. Claro que a velocidade adequada e a manutenção em dia são fundamentais”, assegura Itamar.

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