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Francisco Beltrão
quinta-feira, 05 de junho de 2025

Edição 8.220

06/06/2025

Minha pele não é mais a mesma!

Minha pele não é mais a mesma!

A tatuagem é uma tradição antiga e com o passar do tempo virou moda. Até a empresa de brinquedos Mattel se rendeu à popularidade e lançou a Barbie Butterfly Art, boneca que vinha com uma tatuagem lavável.

 De repente, em um estúdio qualquer, chega o momento tão esperado: fazer a primeira tatuagem. Milhares de pessoas no mundo todo decidem sentir dor, sangrar e mudar a pele por livre e espontânea vontade. Mas de onde vem o fascínio que essa pintura exerce em homens e mulheres, especialmente nos jovens? É difícil precisar, já que cada um tem uma história sobre o que leva a marcar a pele com sinais e desenhos que camuflam uma mensagem. Contudo, seja como for, a verdade é que a tatuagem conquista cada vez mais espaço e quebra paradigmas.

Foi o que atraiu a designer de moda Juliana Thomé para este mundo bem diferente. “Sempre gostei de chamar a atenção das pessoas e, quando comecei a conhecer a arte da tatuagem, fiquei totalmente apaixonada pelo simples fato de me tornar um indivíduo único e totalmente exclusivo no mundo.”

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O que tanto fascina Juliana é a possibilidade de ser dessemelhante e instigar a curiosidade do povo. A primeira tatuagem foi feita somente após um grande conhecimento sobre o assunto e a escolha de um profissional de excelente qualidade — isso é fundamental: um estúdio seguro, organizado e com aparelhos e agulhas esterilizados. Decisão tomada, Juliana fez três estrelas na direção da coluna. Um desenho bem feminino. É o estilo de tattoo que a maioria das meninas opta lá pelos 17 anos.

Das tímidas estrelinhas, após nove anos Juliana contabiliza um total de 24 desenhos no corpo. O braço direito está totalmente fechado. Se tatuagem vicia, a designer é a prova viva disso. Mesmo com tantas, Juliana não pensa em parar. “Não quero no corpo todo, mas desejo fechar o braço esquerdo também e escolher outras frases para espalhar.”

 

Um ser de outro planeta

Foto de arquivo pessoal
Juliana Thomé

Não é complicado encontrar alguém que torça o nariz quando encontra um tatuado. O preconceito existe e atrapalha relacionamentos e oportunidades de emprego. Juliana diz que o fato de ser mulher é ainda pior. “O povo leigo faz uma ligação muito forte das tatuagens com coisas do tipo satanismo, drogas, prostituição e vida fácil. No começo sofri muito. As pessoas chegavam a atravessar a rua pra não passar por mim”, conta. Quando estudava em Curitiba, a designer foi até exorcizada dentro do ônibus por uma senhora. “Normalmente as pessoas de idade são as que ficam mais chocadas com o que veem. Inúmeras vezes ouvi cantadas bizarras, mas confesso que algumas poucas foram inteligentes e divertidas.” Hoje, as tatuagens de Juliana se tornaram seus símbolos de identificação. Há quem se aproxime dela pela curiosidade. “Esse assédio até certo ponto é legal.”

 

Emprego garantido

No mundo da moda a tatuagem só acrescenta. Por isso, Juliana nunca enfrentou problemas tão sérios na profissão. Porém, acredita que em outros setores certamente encontraria barreiras. O que realmente incomoda a jovem é o fato de as pessoas julgarem o caráter de quem faz tatuagem. “Um desenho na pele não muda caráter, o que muda [o caráter] são as atitudes e consciência do indivíduo”, ressalta a designer.

 

Sou um viciado

O modismo de ser tatuado passa, mas a verdadeira paixão pela arte não. “Depois que você conhece a história, o significado dos desenhos e a tradição, tudo fica mais belo e admirável. Quer sempre fazer mais.” Mas vale o recado: esse vício dói. Depende muito de pessoa para pessoa, do tamanho do desenho e do local escolhido, mas a sensação de dor existe. Contudo, até ela é diferente: “É gostosa de sentir”.

 

Futura chef de cozinha tatuada

 

Em dezembro de 2011, depois de passar um período na Itália fazendo um curso de cozinha na Italian Food Style Education, Nayara Scotti

Foto de arquivo pessoal
Nayara Scotti Masiero

Masiero, 24 anos, voltou ao Brasil. O objetivo agora é cursar Gastronomia. O diferencial na carreira já começa antes de ela passar no vestibular: as tatuagens. A primeira tattoo feita por Nayara foi na Tailândia, em abril de 2010. A técnica foi totalmente milenar, com Tebori. A tinta é inserida na pele por meio de agulhas presas a uma haste de bambu. O desenho escolhido pela jovem foi um ramo de sakura — a cerejeira no Japão — florescendo, com três andorinhas e sakuras voando, no antebraço.

Autêntica e determinada, Nayara não liga para os preconceitos e considera a prática fora de moda. Para ela, foi-se o tempo que tatuagem tinha ligação com irresponsabilidade. “Hoje, existem profissionais de todas as áreas que admiram a arte, de médicos a músicos, de advogados a empresários.”

Mas as críticas virão. Há que se assumir o risco, comenta Nayara. “Quem decide fazer uma tatuagem demasiadamente exposta é ciente de que poderá enfrentar certas resistências e olhares fulminantes de outras pessoas.” Consciente disso, a jovem sempre preferiu usar manga longa e só no final das entrevistas de emprego revelar seu “pequeno probleminha”. “Só tive que trabalhar com manga comprida no calor, nada de grave.”

Ao contrário do que a maioria diz, ela não considera a tattoo um vício. Acha ruim vincular a arte com essa palavra. Fazer uma, depois outra e outra é consequência. Quem gosta do aspecto artístico não vai querer parar na primeira. E mais: acaba se acostumando com a dor. Se depois de tudo isso ela pensa em se aposentar, é claro que não: “Já imagino as próximas tatuagens, nem sei por onde continuar”.

 

Primeira tatuagem foi feita com máquina caseira

Rafael Marques

Rafael Marques fez sua primeira tatuagem aos 16 anos. Com a veia artística aguçada, ele mesmo se tatuou um pequeno tribal na perna. Para isso, usou uma máquina caseira feita com partes de uma lapiseira, motor de toca fitas e agulhas de costura. Nada aconselhável, ele admite: “Foi uma loucura”. Gostar de tatuagem foi influência das bandas que Rafael escutava e do skate.

Hoje, a apreciação tem tudo para se tornar uma profissão. Rafael tem o incentivo dos amigos e colegas, que já conhecem seus desenhos, para investir na carreira de tatuador. Além do apoio moral, o jovem diz que hoje a tatuagem virou um grande negócio. “Virou moda, hoje a maioria tem. Isso obrigou as pessoas a aceitarem quem tem tatuagem.”

 

Um tatuador sem tatuagem

Parece difícil de acreditar, mas, com mais de 15 anos de profissão e milhares de tatuagens feitas, Carlos Alexandre Simioni, o Barba, não tem uma tattoo sequer. Nem uma mísera estrela que seja, nada. Barba comenta que isso gera muitas especulações e respostas absurdas, mas não há nada de anormal. “Comecei a tatuar em 1996. Foi por falta de opção de trabalho. Como eu tinha feito um curso de desenho artístico por vídeo, fui incentivado a começar nessa. Fiz os primeiros desenhos nos amigos, que me cediam o corpo para treinar. Claro, não cobrava nada deles (risos).”

Barba explica que, antigamente, grande parte dos tatuados treinavam no próprio corpo e aos poucos iam fazendo mais e mais. Por isso têm os braços fechados por desenhos. Hoje, nem precisa se autotatuar ou usar os amigos como cobaia, já existem peles suínas que servem de apoio. Além disso, ele garante: enjoou de ver tantos desenhos pela frente. Agora, ser um tatuador sem tatuagens virou sua marca. E garante que será difícil mudar isso.

 

Curiosidades da profissão

O tatuador tem clientes de todas as idades. Os menores precisam de autorização dos pais por escrito e da presença deles no estúdio. Há senhoras de mais de 70 anos que o procuram para fazer maquiagem definitiva. O pedido mais bizarro foi de uma mulher: ela pediu o desenho de um macaco. O detalhe: na vulva. Barba fez e garante que ficou mais constrangido que a cliente.

Mas o grande risco é fazer tatuagem por impulso ou porque virou modismo. Quem decide se tatuar precisa ter atitude; este é o primeiro passo, afirma Barba. “Seguir sua própria cabeça é fundamental, não a dos outros.” Quanto ao convencionalismo, o tatuador segue a mesma linha de todos que têm ou admiram a arte: “Quem tem preconceito não evoluiu”.

Ao longo de sua trajetória profissional, Barba diz que perdeu a conta de quantas tatuagens já fez: “São cinco clientes por dia, quase sempre. Faz as contas”. Entre quem gosta e quem detesta, a arte parece não ter fim. Seja por manifestação artística ou rebeldia, o fato é: entrar para o time dos tatuados é um pouco coisa de maluco. Mas sejamos justos: malucos com a cabeça no lugar, que vivem por aí desde que o mundo é mundo. E quem nunca experimentou a sensação que atire a primeira pedra. Aposto que você já se lambuzou com aquelas tattos que vêm nos chicletes quando era criança. A tradição é antiga.

 

História da tattoo

A tatuagem já foi usada para identificar bandidos e enfeitar poderosos; para juntar tribos e afugentar inimigos; para mostrar preferências e esconder imperfeições. O que não mudou quase nada foi a técnica de aplicação de tinta na pele. Passados mais de 4 mil anos, ela ainda é feita por meio de agulhas que perfuram a derme. Perseguida em vários momentos da história, a prática foi banida por decreto papal no século 8 e na Nova York do século 20. Apesar disso, é difícil encontrar quem nunca tenha pensado em fazer uma.

(Fonte: Paola Bello Revista Galileu) 

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