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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Mulher sem menstruação e sem cólicas

Geral

Doença ligada à menstruação pode causar cólicas debilitantes e também reduzir a fertilidade das pacientes. Seu tratamento envolve um diagnóstico adequado e uma cirurgia especializada, mas recupera 70% da possibilidade de engravidar e também reconquista a qualidade de vida da paciente.

Não é mistério que todo mês as mulheres menstruam. É um processo natural, que tem a ver com a preparação do corpo feminino para uma possível gravidez. Quando essa gravidez não acontece, o corpo feminino passa pela menstruação. Também não é segredo que esse processo pode vir acompanhado por inconvenientes, como a alteração hormonal e a Tensão Pré-Menstrual (TPM). No entanto, esses inconvenientes podem se tornar um verdadeiro pesadelo mensal para muitas mulheres – principalmente quando elas sofrem de cólicas menstruais, cuja dor pode chegar ao ponto de ser incapacitante.

O médico Igor Chiminacio.

Por muito tempo, essa dor foi aceita como natural, como conta o médico ginecologista e obstetra Igor Chiminacio: “Durante a história da Medicina se achou, por muitos anos, que ter cólica era normal.

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Mas hoje o pensamento mudou. A mulher não deve sofrer meramente por ser mulher. Então se considera que alguma alteração deve ter causado a cólica, e que o médico deve buscar uma solução que vá devolver à mulher a sua qualidade de vida”.

Dr. Igor conta que uma das principais causas da cólica menstrual é a endometriose, cujo principal sintoma é, de fato, a cólica incapacitante. “Há pacientes que sofrem com a cólica a ponto de não poderem ir para a escola ou para o trabalho. Muitas não conseguem ter uma vida conjugal por ter dor na relação sexual. Há casamentos que se desfazem por causa da dor na relação. Então é uma doença que traz um sofrimento social muito grande.”

Ainda assim, a doença era pouco conhecida e estudada até recentemente. Isso se deu principalmente por dois motivos. O primeiro era a falta de preocupação que a Medicina tinha com as cólicas menstruais e a segunda, o pequeno número de casos registrados. Além de a doença ter sido mais difícil de diagnosticar no passado, ela também acometia um número menor de mulheres – já que é uma patologia ligada à menstruação. Como no passado as mulheres menstruavam menos – já que engravidavam mais cedo e com mais frequência –, a doença não aparecia tanto. Já hoje, segundo dados de estudos bem controlados, a endometriose atinge 10% da população feminina em todo o mundo – e isso está deixando-a cada vez mais em evidência, principalmente porque, além da dor, a doença também dificulta a gravidez.

Do diagnóstico à cirurgia
Para tratar a endometriose, o primeiro passo é um diagnóstico correto. Dr. Igor afirma que o principal diagnóstico se dá através dos sintomas clínicos, e que a doença não é tão facilmente encontrada por exames normais. “É preciso que esses exames sejam especializados, e não há suficiente difusão de centros capazes de fazê-los de forma correta”, diz ele. Atualmente, esse exame é realizado no seu próprio centro médico. “Além do exame clínico, que é o principal, a gente também faz o exame físico da paciente, mas é preciso saber procurar nos locais corretos. Para isso o médico tem que ter habilidade clínica e tempo de formação”, afirma.

A partir dos exames clínico e físico, o próximo passo são os exames especializados, que podem acontecer de duas formas. “Uma delas é um ultrassom chamado mapeamento para endometriose por ultrassom, que requer um profissional ultraespecializado. Aqui em Pato Branco só temos a minha esposa, a doutora Carolina Teixeira Obrzut, que é também ginecologista e especialista em ultrassom ginecológico. A outra forma é a ressonância magnética, em uma clínica em que o radiologista tenha habilidade com a doença. Os dois exames estão muito bons e o que é visto no exame eu vejo na cirurgia”, conta o médico.

Ele destaca mais um ponto importante. Já não se pode fazer algo que era prática comum há poucos anos: a laparoscopia diagnóstica. É uma cirurgia que envolve anestesia, mas não trata a doença, servindo apenas para seu diagnóstico. Depois, caso seja notada a necessidade de operar a doença, é preciso fazer uma nova operação. Enquanto isso, caso o diagnóstico seja preciso através de ressonância ou ultrassom, em muitos casos é necessária apenas uma cirurgia. O médico destaca: “Eu tenho que ir para a cirurgia sabendo tudo que a paciente tem, qual órgão está afetado, quanto tempo eu vou levar, qual equipamento vou usar, se vou precisar de mais alguém na equipe, como um cirurgião do aparelho digestivo ou o urologista, porque às vezes a bexiga, o ureter ou o intestino estão afetados. Eu preciso dessa programação para que eu faça uma só cirurgia na vida dela”.

A programação adequada também é útil pelo fato de que a cirurgia de endometriose não é uma operação simples, já que a doença deve ser extraída com o mínimo de dano aos demais órgãos do corpo da paciente. Atualmente, dr. Igor é o único médico na região com a formação específica em endoscopia ginecológica e cirurgia laparoscópica, que é necessária para o procedimento.

Ele diz que é preciso que mais ginecologistas busquem a formação para dar um atendimento adequado a suas pacientes. Ele próprio vai para o Canadá, em novembro, para um treinamento de aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas, acompanhado da dra. Carolina, que vai se aperfeiçoar no diagnóstico da doença. O médico afirma que o treinamento constante é importante, porque nos últimos cinco anos as técnicas de cirurgia para a endometriose melhoraram em uma velocidade muito grande.

Quando a menstruação é o problema
Nem todos os casos de endometriose exigem ação cirúrgica. A partir de um diagnóstico adequado, é possível notar quais precisam ser operados e quais podem ser tratados de uma forma bem mais simples: a suspensão da menstruação, através de métodos diversos.

A suspensão da menstruação também pode ser uma arma para prevenir a endometriose, já que a doença só se desenvolve quando a mulher menstrua. “Culturalmente, as mulheres acham que menstruar é necessário e é bom, mas não é. É um mal desnecessário. A mulher só deve menstruar quando quer engravidar; se não, ela deve evitar, porque é meramente uma área do corpo se preparando para uma possível gravidez. Se suprimir isso, não vai fazer falta nenhuma”, pontua o médico.

 

A endometriose e a infertilidade
Segundo o dr. Igor Chiminancio, a endometriose é um fator muito relevante nas pacientes que têm dificuldade de engravidar. “A doença não é causadora de infertilidade, mas sim de uma subfertilidade”, conta o médico. Ou seja, a mulher até pode engravidar, mas é muito mais difícil. Segundo ele, se a mulher tem problemas para engravidar, mas não demonstra outros fatores – parceiro infértil, alteração nas trompas ou problema de ovulação –, a única suspeita vai ser a endometriose.

Na maior parte desses casos, a solução é a cirurgia. A vantagem é que a probabilidade de gravidez depois da operação aumenta muito. “Se a gente operar uma mulher com endometriose, vamos trazer um aumento de chance de 70% para conseguir engravidar. Em comparação, uma mulher com endometriose, que não tem outros fatores, se fizer a fertilização in vitro, sua chance é em torno de 15%. A ciência do mundo inteiro tem mostrado isso e nos últimos 10 anos, mesmo tempo que tenho operado minhas pacientes e tido esse mesmo resultado”, afirma o médico.

Para saber mais sobre a relação da endometriose e suas relações com a gravidez, entre em contato com o consultório do dr. Igor ou leia mais na edição da Gente do Sul de Março/2020.

Nódulo de endometriose aderido ao intestino (área escura da imagem) – imagem do acervo profissional.

 

O que é endometriose?

A endometriose é uma disfunção do endométrio, uma camada interna que reveste o interior do útero para receber um possível bebê. Quando a mulher não engravida, esse endométrio é descamado e sai na forma de menstruação — no entanto, parte dele acaba sendo expelido não para fora do corpo, mas pelas trompas uterinas, indo parar dentro da barriga.

Dr. Igor conta que esse processo é natural, mas quando a mulher possui endometriose, a disfunção faz com que o endométrio se implante em órgãos fora do útero e também menstrue. Essa menstruação extrauterina gera nódulos que crescem no organismo da mulher e são combatidos pelo seu próprio corpo. “O corpo acha que é um vírus, uma bactéria ou outro tipo de agressor, então começa uma reação imunológica. É essa reação que gera a dor e a deformidade dos órgãos, ao redor do útero, das trompas, os ovários, o intestino e a bexiga”. Isso chega até a afetar os nervos da pelve, causando dores nas pernas e nas costas.

 

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