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Até quinta-feira, 14, o município de Francisco Beltrão tinha 24 crianças acolhidas, de zero a 18 anos. O programa foi implantado no município em setembro de 2019. A secretária de Assistência Social, Nádia Bonatto, lembra que foi um desafio grande implantar o Família Acolhedora, mas que tudo transcorreu bem em virtude do planejamento adotado. O município fez um estudo e buscou capacitação para sua equipe multidisciplinar. Além disso, toda a rede de proteção municipal (saúde e educação), bem como Ministério Público e Poder Judiciário, deram o suporte necessário.
“Conseguimos iniciar o serviço de forma robusta, apesar de nascer durante o período da pandemia. Hoje temos 39 famílias cadastradas e as crianças estão vivendo em ambientes familiares, sendo preparadas pra adoção ou pra retornar para suas famílias de origem”, ressalta Nadia. Segundo ela, as famílias interessadas em participar podem procurar a Assistência Social.
Melhora no desenvolvimento das crianças
Fernanda Abreu Perin, coordenadora do Família Acolhedora no município, diz que é visível o quanto as crianças evoluíram a partir da implantação do serviço. “Principalmente no desenvolvimento da criança, na sua socialização, na saúde mental, enfim, a gente percebe até no jeito deles olharem e caminharem como estão melhores.”
Fernanda explica que não é apenas a criança/adolescente que recebe o acolhimento, mas a família de origem também é acompanhada para que supere a vulnerabilidade e eles possam se unir novamente. Os principais fatores que afastam pais e filhos têm sido alcoolismo e drogadição. Ela cita o exemplo de um menino de 16 anos, que passou pelo abrigo e que melhorou sensivelmente sua socialização depois que foi para uma família acolhedora, e agora está em reta final de processo de adoção. “O abrigo é ótimo, mas não se compara com o ambiente familiar. Ele ia mal no colégio, era introspectivo. Mas já consegue resolver pequenas situações que antes eram difíceis. Seria mais difícil ele se adaptar se passasse direto do abrigo para a adoção. Porque no abrigo, você trata da coletividade, pois são várias crianças, e na família acolhedora o foco é na individualidade. Existe uma atenção mais especial para a criança”, ressalta Fernanda.
Ela diz, inclusive, que o serviço sempre está precisando de famílias dispostas a participar do programa. É feita uma triagem e só depois a família estará apta a receber crianças e adolescentes. No momento, Fernanda diz que há uma procura maior por famílias que residem no interior.
É difícil se separar das crianças
Juraci Ribeiro da Rosa, que recebe crianças do Família Acolhedora, conta que acaba se criando um vínculo de pai e mãe. “É uma família. A primeira família que eles conheceram foi nossa. Maravilhoso. Nossa casa sempre cheia, e eu amo criança.” Ela conta que mesmo sabendo que o acolhimento é temporário, é muito difícil separar. “A gente sabe de tudo, mas o vínculo que se cria é muito forte e não é fácil. Fico agradecida que eles ficaram na cidade.”
Os três primeiros irmãos acolhidos foram adotados em Beltrão. Ela diz que pretende continuar auxiliando. “Os três irmãos que estão lá em casa há uma semana já se adaptaram. Gostaram da escola. Ônibus passa na frente do portão. Enquanto tiver disposição, quero ajudar. Preciso fazer alguma coisa, a gente não sai de casa por causa da pandemia, então vou fazer o bem pra quem precisa”, comenta.
Adolescentes preferem convívio familiar
Cleyton, 17 anos, foi abandonado pela mãe, ficou sozinho e foi levado pelo Conselho Tutelar para a Casa Abrigo. Ficou 40 dias na sede do serviço e depois foi acolhido por uma família do Bairro Padre Ulrico. “Estou adorando a família, minha mãe acolhedora também gosta de mim e eu gosto dela.” O rapaz já conseguiu um trabalho como Menor Aprendiz.
Samuel, 15 anos, ficou sete anos na Casa Abrigo de Francisco Beltrão. Há um ano e meio está morando com uma família. Diz que é outra vida. O menino está sendo encaminhado para a adoção e diz que se sente mais preparado para ir viver com outra família.
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Apenas 4% das crianças estão em acolhimento familiar
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) elaborou um relatório com base no Censo Suas de 2018 e mostrou que, de todos os 5.570 municípios brasileiros, apenas 312 (5,6%) contam com o serviço de Acolhimento Familiar. Assim, das mais de 33 mil crianças e adolescentes acolhidos no País, apenas 4% estão em acolhimento familiar. Desse total, 38% são de zero a cinco anos, 27% de seis a 11 e 34% de 12 a 17 anos.
Enquanto em 2010 tinham 144 serviços de acolhimento familiar, em 2018 o número subiu para 333. O número de famílias cadastradas também saltou de 791 para 1.629, enquanto a quantidade de acolhidos passou de 932 para 1.392. Segundo os dados do relatório, o Sul é a região do país onde há o maior número de serviços de Família Acolhedora.