Mãe teve que ser internada por causa de pneumonia no sétimo mês de gestação.

O pequeno Pedro Três Barbieri, nascido no último dia 29 de junho, na Policlínica São Vicente de Paula, em Francisco Beltrão, está imunizado contra a Covid-19, ao menos por enquanto. Depois de feitos todos os exames de praxe após o parto, os médicos confirmaram que o bebê nasceu com anticorpos que combatem o novo coronavírus. A mãe da criança, a psicóloga Rafaela Três, chegou a ficar internada por oito dias com pneumonia, em decorrência da Covid-19, mas se recuperou bem.
Após estar recuperada, depois de 30 dias, ela recebeu a segunda dose da vacina e, no dia 29 de junho, nasceu o bebê, totalmente imunizado contra a doença. “No total, fiquei internada por 17 dias em Francisco Beltrão devido ao trabalho de parto prematuro”, conta Rafaela, que reside em Palma Sola (SC), com Pedro e com seu marido e pai do bebê, o gerente administrativo Valdenir Barbieri.
Gestação de risco
Rafaela conta que todo o processo da gestação foi de risco, porque precisou fazer uso de um anticoagulante. “Eu tenho trombofilia e precisei tomar esse medicamento. Também precisei ser afastada do trabalho depois que soube da gravidez, porque trabalho na área da saúde”, diz Rafaela.
Durante o período em que ficou isolada em casa, somente seu marido saía para trabalhar. Os problemas mais graves, segundo Rafaela, começaram depois que ela entrou no sétimo mês de gravidez. “Estava indo tudo bem e nesse período meu marido foi transferido para Pato Branco. Ele (Valdenir) positivou, mas quando voltou para casa eu já estava na casa da minha mãe”, lembra ela sobre os cuidados que tomaram para evitar a infecção pela Covid-19.
Pneumonia
Dois dias depois de ter ido para a casa de sua mãe, Rafaela diz que começou a apresentar os sintomas da doença. “Cheguei a pensar que meus sintomas pudessem ser psicológicos. Fiz dois testes que deram negativos até vir o diagnóstico de pneumonia.” Depois que estava internada por ter apresentado quadro de pneumonia, aí sim Rafaela foi diagnosticada com a Covid-19. “Foi bem difícil, uma das piores fases da minha vida, por eu estar grávida e estar colocando em risco as vidas do bebê e do meu marido. Os sintomas da Covid foram se agravando também”, conta.
Para que pudesse se recuperar, Rafaela contou sempre com o apoio dos seus familiares e amigos, que estavam em contato permanente com ela. “Estavam todo tempo comigo ao telefone, me dando força.” Quando Rafaela teve alta em função da Covid-19, ela foi para casa, porém, no mesmo dia teve que ser novamente internada. “Começaram as contrações e houve sangramento. Entrei em trabalho de parto, tudo isso também em consequência da Covid. Contei muito com o apoio da minha mãe. Foram dias bastante angustiantes, mas, graças a Deus, superamos tudo.”
Só agradecer
O pai de Pedro, Valdenir, diz estar aliviado depois de tudo o que ele, sua esposa e o pequeno Pedro passaram durante os últimos dias da gestação de Rafaela. “Meu sentimento é de gratidão por tudo o que conseguimos superar e com a vitória do nosso Pedro. É motivo de gratidão de nossa parte por ele ter nascido com os anticorpos. Se alguma gestante ainda está em dúvida em fazer ou não a vacina, vá lá e faça!”, recomenda Valdenir.
Anticorpo permanente
O médico Marcelo Righi, ginecologista e especialista em reprodução humana, foi quem atendeu Rafaela durante todo o período da sua gestação. Segundo ele, apesar de ninguém ter a certeza de que o bebê nasceria com os anticorpos para a Covid, havia uma forte desconfiança de que isso seria possível. “Isso se presumia, porque o IgG (Imunoglobulina G – anticorpo permanente) é um anticorpo que passa livremente pela barreira placentária. Durante a gestação, imunizamos as gestantes com algumas vacinas, exatamente para que elas possam produzir anticorpos e protegerem os bebês contra algumas doenças”, explica.
Marcelo afirma que essa é uma lógica utilizada também contra a Covid-19, não somente quando a gestante adquire naturalmente a doença. “Também é um raciocínio que serve provavelmente para a vacina contra a Covid-19, que é a próxima etapa da pesquisa que vamos fazer”, diz.
Mais casos
O médico afirma que o caso de Rafaela não é o único na região e que existem mais casos de gestantes cujos bebês nascem com os anticorpos contra a Covid-19. “Já coletamos sangue do cordão umbilical de todas as pacientes que tiveram a doença e até agora o que podemos observar é que todos os bebês tiveram IgG positivo. De fato, a mãe transfere os anticorpos para o bebê, que já nasce imunizado”, diz. De acordo com ele, hoje oito bebês estão sendo monitorados, todos por atendimento particular. “Agora vamos estender o serviço aos partos da rede pública também”, revela.
Contudo, de acordo com o dr. Marcelo, ainda não é possível afirmar por quanto tempo os bebês permanecem imunizados ao receberem os anticorpos das mães. “Essa é uma outra etapa da pesquisa. Como estamos tendo imunização das gestantes em larga escala, a ideia agora é fazer a coleta do sangue dos cordões umbilicais das mães que já foram imunizadas para ver se existe IgG. Dessa forma, poderemos ver por quanto tempo os anticorpos permanecem positivos nos bebês”, completa.
Pode não ser tão raro
De acordo com o médico ginecologista, esse é um fenômeno que não tem se mostrado raro e existem outras pesquisas em desenvolvimento em todo o mundo sobre a imunização de recém-nascidos contra a Covid-19. “A mais robusta é uma pesquisa norte-americana, que apresentou 78% de positividade em relação a IgG positivo para bebês. Estamos buscando a confirmação da taxa de transmissão desses anticorpos para os casos que temos aqui”, finaliza.