Everton Ferreira de Souza é um destes novos produtores rurais que encara a propriedade como uma empresa.
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O produtor rural Everton Ferreira de Souza, 39 anos, é o retrato da nova geração que está assumindo as atividades em muitas propriedades rurais de Francisco Beltrão. Em sua granja, na comunidade do Divisor, ele mantém 400 matrizes suínas e 180 vacas e novilhas. Em 13 alqueires, Everton planta milho para silagem, também possui uma pequena indústria de ração para alimentar seus animais e leiteria para a coleta diária do leite. Ele também planta milho em áreas próprias e arrendadas.
Everton é filho de Eliziário Ferreira de Souza (em memória) e Maria de Fátima Faust de Souza. Eliziário foi tradicional produtor de suínos. A família Ferreira de Souza tem tradição nos segmentos de suínos e pecuária leiteira, com os tios Edgar, Sérgio Miguel e Salézio, de Eneas Marques, que também se dedicaram por muitos anos à atividade.
Everton seguiu o caminho do pai, não só na atividade agropecuária, mas também, agora, como líder do setor suinícola. Como o pai, no passado, ele assumiu há pouco tempo a presidência da Associação Regional de Suinocultores do Sudoeste (ARSS). Ele é casado com Francieli, com quem teve os filhos Paulo Cezar e Pedro Eliziário. O rebanho bovino leiteiro produz uma grande quantidade de leite diariamente, vendido para um laticínio. As matrizes suínas produzem de 800 a 900 leitões por mês que são entregues para empresas de Paula Freitas (PR) e São Paulo.
Fazer cálculos antes de tomar decisão
O produtor rural montou escritório em anexo à propriedade, acompanha as cotações das commoditties, do leite e do suíno, recorre aos financiamentos para sua propriedade, mas antes faz os cálculos para ver se vale a pena tomar o crédito, evitando surpresas desagradáveis posteriormente. A propriedade faz três ordenhas diárias e a atividade leiteira emprega dois casais. Everton e Francieli cobrem a falta, eventual, de algum funcionário por férias ou necessidade de saída por outras questões.
Na suinocultura tem mais funcionários já que o serviço também é maior, porque há muitos animais – matrizes e leitões. No total, são dez funcionários nas diversas atividades da granja. Conforme Everton, a propriedade está toda legalizada, os funcionários registrados, as atividades produtivas recebem assistência técnica de veterinários, de técnicos em segurança do trabalho e na parte gerencial.
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Novos sistemas de produção
Nos últimos anos muitos produtores de leite da região passaram a adotar os sistemas de compost barn ou free stall para produzir maiores quantidades de leite e ter um ganho melhor num segmento em que a margem de lucro, por litro, é de centavos. Everton adotou o sistema compost barn. Sobre o estoque de silagem que foi menor este ano, por causa da frustração de safra, Everton afirma: “Tive que ir atrás, já comprei uma parte, mas ainda vai me faltar; não vai faltar daqui dois meses, três meses, porque a gente tem um cronograma pra lá em dezembro/janeiro, antes de colher outra safra do milho pra silagem”
O produtor rural reclama que no segmento do leite os preços são muito instáveis. “Você tá aqui [produzindo] e não sabe onde vai estar a semana que vem. Hoje, tô negociando leite e, graças a Deus, por ter uma quantidade maior, consigo ter um valor a mais, mas ainda tem mês em que chegam e falam pra você ‘não sabemos quando vamos te pagar’. É uma atividade complicada. Você faz todo um planejamento, mas não sabe o quanto vai ganhar.”
Receio de investir
Em março, a média de produtividade por vaca estava em 33,5 litros/dia. Esta média, segundo Everton, tinha baixado um pouco devido ao forte calor e por limitações da propriedade. Pela quantidade de vacas e novilhas, ele acredita que até a instalação de um sistema robotizado seria viável. “Tenho dois barracões, podia aumentar – são de 2.800 a 3.000 litros por robô – pra ter uma média boa, 65 animais por robô. Era uma coisa que cabia pra minha propriedade, mas é uma coisa bem específica, ele é limitante à quantidade de animais. Mas hoje tá difícil de investir, dá medo.”
“Com recursos próprios eu não conseguiria dar o salto que eu dei”
O produtor rural Everton Ferreira de Souza utiliza financiamentos para investir em sua granja e custear as produções. “O que eu faço de financiamento, geralmente, é pra custeio agrícola e pecuário. O custeio agrícola é pra plantar, porque não dá de plantar do jeito que tá sem ter o financiamento, por causa do seguro. Também tem alguns investimentos em cima de gado de leite, já mais antigos, na parte da leitaria, mais pelo Banco do Brasil.”
As linhas de crédito ajudaram a propriedade a dar um salto em produtividade e na produção de suínos e leite. Everton afirma que “com recursos próprios eu não conseguiria dar o salto que eu dei. Hoje, eu tô tirando em torno de 3.500 litros/dia, mas já cheguei a tirar 4.200/4.500. Sem esses recursos [investidos na atividade] a gente tirava 1.500 a mil litros por dia. Hoje, se eu ficar só com a propriedade, consigo tirar tudo dela, eu consegui o máximo de animais que pode ter dentro de uma propriedade. Mas hoje, a sobra tá muito pequena, você bota tudo na ponta do lápis e todo mundo fala que o colono tem financiamento barato. Mas barato quanto? Porque ele planta sem saber o que vai colher; cria uma novilha sem saber o preço que vai entregar o leite lá no final, porque os custos como estão hoje são muito altos. Outra coisa é mão de obra cara”.
Atividade suinícola
Na atividade de suinocultura, Everton atua de forma independente, ou seja, não está integrado a cooperativas ou empresas. Ele alimenta seus suínos com ração e soro de leite. Mas ressalta que o soro precisa de tratamento antes de ser fornecido aos animais. Não pode ser qualquer tipo de soro. “Trato alternativo não é da noite pro dia, são anos de experiência pra ver como faz, como não faz, é bastante erro pra dar algum acerto”, alerta. A propriedade recebe soro de dois laticínios, de Beltrão e Verê.
Para Everton, as granjas hoje precisam ser bem administradas pelos produtores. “Eu já tenho um programa pra isso, uma pessoa que cuida disso. Eu vejo bastante propriedade onde ficou o filho e ele já faz também. Porque tem que ter gestão [dos custos]. Não é só braçal de ir ali e fazer as coisas. Na parte de leite, como antigamente eu comprava e vendia, eu não consigo enxergar uma propriedade onde o dono não more no local, não conheço nenhuma. Anos atrás, teve muita gente que começou com vaca de leite e o cara era médico, era construtor civil, qualquer outra coisa, empresário da cidade e se botava a criar vaca de leite, gente que mal começou e já parou. Essa questão de vaca de leite, você tem que vivenciar dia após dia; é a mesma questão dos números; você tem que estar a par dos animais, tem que morar na propriedade. Eu vejo na questão de quem confina gado, é um pouco diferente, você consegue tá longe e perto, ao mesmo tempo. Mas, vaca de leite, se você não estiver ali de manhã à noite, você pode perder um animal; perder o teto de uma vaca é perder toda a lactação do animal. Se você não tiver na propriedade, não viver ela, não vai pra frente. Por isso, que vejo essa atividade na mão de poucos daqui pra frente.”
Jovens do agro mais conscientes
Everton parece satisfeito ao ver que no interior há várias propriedades em que os pais e filhos estão juntos nas atividades. “Aqui na região onde a gente mora [Divisor], vejo muitos filhos tocando agora com os pais morando junto e dá certo, que o pessoal fala que tão tudo endividado, mas não; são propriedades que cresceram, amigos que estudaram comigo e estão bem, estão vivendo ali. Tenho dois filhos e penso que um, pelo menos, vai ter que tocar o que eu tenho, dar seguimento. Essa atividade de leite e suíno – mais o leite – daqui a dez anos, antes até, ela será rentável, porque vai ter pouca gente fazendo isso e vai precisar, não tem como substituir.”