A declaração é de Marina Sprogis, fotógrafa que mora em Bruxelas, na Bélgica.

Como estar apaixonado promove maior índice de liberação destes hormônios, a sensação de prazer aumenta e comer e beber passa a segundo plano.
Fotos: Arquivo JdeB
“Perco peso sem problema quando fico apaixonada (por outra pessoa). Duas vezes na vida. De manequim 42, passo sem sentir a 38 e sem regime. Da primeira vez, perdi 18 kg em seis meses. Na segunda, perdi 12 em três meses. Sem esforço e sem pensar, pois esquecia de me pesar. O jeans ficava largo, os ossos apareciam e eu cada vez mais feliz. Feliz em todos os sentidos”, conta Marina Sprogis, fotógrafa que reside em Bruxelas, na Bélgica.
Ela acrescenta que, nas duas vezes, após dois anos, o efeito passava e a luta contra os quilos voltava. “Nunca entendi a relação entre a perda de peso e a paixão.” Para esclarecer a questão de Marina, o JdeB procurou saber a opinião de psicólogos e psicanalistas.
“A paixão é um sentimento intenso, capaz de alterar nossa percepção de vida. Isso acontece porque os hormônios da ‘felicidade’ – a dopamina, a endorfina e a ocitocina -, alteram suas atividades como neurotransmissores. Estruturas do cérebro se tornam mais ativas quando estamos apaixonados. Estes hormônios, juntos, estimulam as áreas da recompensa, que são responsáveis por proporcionar prazer – igual quando temos prazer ao comer quando sentimos fome. Como estar apaixonado promove maior índice de liberação destes hormônios, a sensação de prazer aumenta e comer e beber passa a segundo plano”, destaca Quelli Monique Krassota, psicóloga e especialista em Saúde Mental e Terapia Analítico-Comportamental.
Segundo Quelli, é importante ressaltar que cada pessoa pode sentir paixão de maneira diferente. Não é regra que todos que se apaixonam emagrecem. “A relação entre peso e paixão vai muito além, afinal, sabemos que nos alimentamos não apenas pela função biológica. Do ponto de vista psicológico, nos alimentamos (ou deixamos de fazê-lo) por afeto, ansiedade, medo, angústia e inúmeros motivos, cercado por funções emocionais e sociais. Cada alimento age de uma maneira em nosso cérebro e organismo. É como a perda de peso, é um processo mais complexo do que se imagina, pois, não se trata apenas do comer em si, mas da forma como isso se dá, juntamente com todas as relações estabelecidas por sentidos biológicos e emocionais.”
Para Quelli, a dica é ficar atento, seja em relação ao estar apaixonado e sua maneira de se comportar neste momento da vida ou em relação às mudanças significativas de peso. Se em algum momento o sofrimento, preocupação, angústia, ansiedade ou outro sentimento que gere situações aversivas produzirem um incômodo, que pode proporcionar dificuldade em lidar no dia a dia, buscar ajuda profissional é importante para que novos repertórios possam ser desenvolvidos e se almeje a qualidade de vida.
Estar apaixonado faz com que as buscas rápidas de satisfação sejam praticamente anuladas
Pode parecer estranho, mas algumas pessoas não sentem tanta necessidade de comer ou preferem fazer jejum para estar mais “apresentável” ao parceiro. Nestes casos, é comum desenvolver distúrbios alimentares, portanto, não é uma ação saudável. Confira o que diz Érico Péres Oliveira, psicólogo, psicanalista e membro da Escola de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre (EEP) e da Escuta Psicanalítica de Francisco Beltrão (EPFB).
JdeB – Por que algumas pessoas emagrecem quando estão apaixonadas?
Érico Péres Oliveira – Apaixonar-se é um estado de entrega. Se normalmente conseguimos nos desdobrar por diversas atividades e interesses, estar apaixonado nos limita para uma única direção: A pessoa que despertou tal sentimento. Apenas este ponto já é suficiente para afetar nossa alimentação. Todavia, a condição de apaixonamento também traz consigo uma sensação quase total de bem-estar. É como estar mergulhado no ápice de um objetivo muito almejado por um tempo considerável. Estar neste estado inebriado faz com que as buscas rápidas de satisfação, como comer porcarias em excesso ou comprar coisas que não precisamos, sejam praticamente anuladas. Logo, a característica principal do apaixonar-se, que é um contínuo êxtase, provoca, sem querer, uma redução de hábitos que trazem por consequência uma desorganização do peso. Claro que não se trata de algo aplicável a todas as pessoas, mas sim, é bem comum perder peso quando estamos apaixonados.
Qual a relação entre paixão e peso?
O bem-estar intenso que se faz presente quando nos apaixonamos também aparece quando nos dedicamos a atividades que sejam do nosso interesse. Estar apaixonado por alguém, ou por alguma atividade, pode facilitar para que uma reorganização alimentar aconteça. Pensando desta forma, podemos cogitar que sempre que estivermos em dia com aquilo que nos faz bem, mais saudável será nossa alimentação.
Quando identificar que é necessário tratamento psicológico?
Apaixonar-se é uma condição natural e que faz parte da vida. Não há porque buscar ajuda psicológica por estar apaixonado. Todavia, em situações em que o apaixonamento causa sofrimento em demasia por não ser correspondido, ou quando se transforma em uma obsessão, seria sim importante buscar uma escuta para que tais sentimentos sejam compreendidos. Nestes casos, o psicólogo e o psicanalista podem oferecer ajuda.

“Estar apaixonado nos limita para uma única direção: A pessoa que despertou tal sentimento.
Apenas este ponto já é suficiente para afetar nossa alimentação”,
comenta Érico.