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Francisco Beltrão
sexta-feira, 30 de maio de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

O bom humor do Trago e Prosa

 

A impressão nas cores verde, vermelho
e azul era uma das características que ajudavam
a identificar de longe o Trago e Prosa.

 

A grande “semente” do Jornal de Beltrão foi lançada exatamente um ano antes de seu nascimento. Dia 1º de maio de 1988 circulava pela primeira vez o jornal de bar Trago e Prosa.
A novidade daquela época eram os jornais de bar: quatro páginas impressas, com muitas piadas e algumas outras historinhas, patrocinadores para viabilizar a edição, distribuía-se gratuitamente nas lanchonetes, restaurantes e onde tivesse gente a fim de ler. Dirceu Silveira fazia as vendas; Quintino Girardi e Jacir Walter a composição e montagem; Itamar Pereira, Ivo Pegoraro e Luiz Carlos Bággio redigiam os textos. 
A publicação agradou porque apresentava um resumo de tudo o que acontecia na cidade e região. Com muito humor. Sem poupar críticas. E também elogios. E fofocas. 
“Não é por se tratar de uma publicação pequena que não se pode dizer tudo. Ao contrário, para bom entendedor, meia pa… ba… Nossa proposta é descontrair e descomplicar”, dizia um texto de apresentação do Trago e Prosa número 1.
Os assuntos eram os mais variados e do mundo todo. O jornal era organizado em várias seções: Malho, Confetes, Central de Boatos, Dando o Toque, Mentiras, Palavras Cruzadas, Historinhas que ficaram na história, Espaço Aberto, Umas e Outras, além de fotos e charges. Vereadores: “Tem vereador que em quase seis anos de mandato não apresentou nenhum projeto. Como é que um homem desses vai querer se eleger de novo?”
Na Câmara, discutia-se um assunto até hoje não resolvido: o número de vereadores,  que devia aumentar de 11 para 17. “Tem gente perguntando pra que servirão seis vereadores a mais na Câmara.” Professores: “Tem professor fazendo propaganda política, todo dia, em sala de aula. Por outro lado, tem professor totalmente omisso no assunto. Equilibrar é preciso”.
Taxistas: “Quem anda bem descontente da vida são os taxistas. Os constantes aumentos dos combustíveis para a maior parte da população. ‘Quem usa táxi é pobre e o pobre está cada vez mais sem dinheiro’, reclama o representante da categoria, Miroslau Sass”.
Professor Prosinha 
O Trago e Prosa tinha o Professor Prosinha. Ele dava inclusive aulas de inglês, como esta: 
– Professor Prosinha, o que é about?
– Não é about, é abaute. A gente ouve muito os açougueiros dizerem que “não está mais dando dinheiro o abaute do gado”.
Repórter Traguinho: O Trago e Prosa também tinha o Repórter Traguinho. Estava atento a tudo. E o jornal avisava: “Cuidado com o que você fala e até com o que você pensa, pois em todos os lugares pode haver um agente do Trago e Prosa”.
Central de Boatos
Fofocas eram repassadas para o Bággio, que redigia a Central de Boatos, uma coluna “pesada”. “A mulher viajou e o marido ficou sozinho no apartamento. Achou que estava tudo numa boa e aproveitou a oportunidade para passar várias noites bem acompanhado. A amante saía de manhã bem cedo, enquanto os vizinhos dormiam. Certo dia, enquanto tomavam café, muito à vontade, girou uma chave na porta. Era a sogra do cidadão, que resolveu dar uma incerta. A separação do casal deve sair por estes dias.”
Dando o Toque
Era o Facebook daquele tempo. A maior parte dos recadinhos chegava por telefone, a Jane Pasa atendia, pelo número 23-2933, anotava à caneta e depois digitava. “Ivan (nego comum da Facibel) Deixe de ser taturana e engrene uma marcha. (Turma do meio).” “Rocha e Edimar (Cema) A violência não levará a nada. Que tal um romance entre vocês dois? (G.A.B.).” “Gato do Monza RF 2.5 Te toca, cara, você está sendo trocado por uma Parati. (Sua amiga).” “Claudete – Tô tri a fim de você, mas tô desconfiado que o chefe chegou antes. (Luiz Carlos).” “Ane – Meu amor por você é igual a dívida externa, aumenta cada vez mais. (Mano).”

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Outra tradição, as cruzadas, usavam formato dos prédios de Francisco Beltrão.

 

Mentiras
Uma seção publicava mentiras de ontem (comunista come criancinha), mentiras de hoje (ninguém corta palmito no Parque Nacional do Iguaçu), mentiras de sempre (vamos recuperar o Nordeste) e mentiras a serem confirmadas (o que faltava para endireitar o país era uma nova Constituição).
Futebol: “O boato correu solto depois do jogo em que o União venceu o Tabu por 2×1. O juiz já estava comprado pelo Tabu e, como este perdeu o jogo, os dirigentes do time de Clevelândia queriam tomar do juiz, após o jogo, cerca de 20 mil cruzados que haviam pago antecipadamente. É a segundona”.
Carro do ano: Heitor Camilotti foi o primeiro da cidade a adquirir um Santana com motor 2.000, preto ônix metálico (junho de 88).

Leitores
Os leitores também participavam com textos de humor, como a Neiva Fill, na edição de junho de 1988: “Coligação é quando os de lá concordam em apoiar os de cá. Traição é quando os de cá concordam em apoiar os de lá”. Malho: Na esquina da Curitiba com a Antônio Cantelmo continua sem semáforo.  Nas rádios AM, cadê os debates? Nos jovens que aceitam conversinhas bobas sobre drogas e quando se dão conta já estão drogados. Na falta de estacionamento para motos na área central. Nos universitários da Facibel que gazeiam os debates para jogar sinuca no bar. Nos motoristas que continuam selvagens.  Nos rapazes que não sabem dançar, só atrapalham. Nos preços dos aluguéis. Todos ficaram loucos?
Confetes: Na colocação de tartarugas nos cruzamentos perigosos. Nos locutores de FM que esquecem o carioquês e falam como nós.  No povo beltronense, pelo exemplo de solidariedade. Nos patrocinadores do Trago e Prosa, pela continuidade do mesmo. Na coragem de quem passa filme no Arrudão, por absoluta falta de um cinema. No repórter Traguinho que não bebe mais (nem menos). Nos amigos que não esquecem de fazer um baile na casa nova, antes de erguer as paredes internas. 
Palavras cruzadas
“A arte da cruzada do Trago e Prosa, em forma de prédio, também tem sua finalidade: marcar esta época que a cidade de Francisco Beltrão cresce verticalmente, modificando sua visão panorâmica. De um total de nove edifícios já aprovados, um está pronto (Maria Adriana) e seis em obras e dois devem ser iniciados em breve.” (15 de maio de 1988) 
Seguia-se a lista dos prédios, com o total de pisos já construídos e o total projetado: 

Maria Adriana    12    12
Santa Maria    14    14
Araucária     17    17
Iguaçu    6    10
San Fernando    5    17
Ilha do Mel    2    18
San Conrado    0    22
Scala    0    13

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