8.2 C
Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

O Brasil da Selic baixa

Geral

Ricardo Toseto Ciquelero*
Esta semana, mais uma vez, o Banco Central cortou a meta da taxa Selic, desta vez em 0.25p.p. para 2%. O movimento era de alguma forma esperado pelo mercado e não causou maior surpresa. O novo corte é uma resposta do Banco Central à fraqueza econômica causada pela pandemia de coronavírus.

Se há apenas cinco anos algum economista ousasse prever que a taxa chegaria ao patamar atual, certamente seria tratado com imenso descrédito, talvez até como louco. Naquele ano o cenário era de déficit público recorde, inflação elevada, crise econômica profunda e risco macroeconômico extremamente elevado. O mercado não acreditava mais na capacidade do governo de liderar as reformas e o pessimismo era reinante.

Com as trocas de governo, o discurso de maior responsabilidade fiscal e uma liquidez mundial muito grande, em apenas quatro anos o Brasil viu sua taxa básica despencar da máxima de 14,25% em meados de 2016, para os 2% atuais, patamar inclusive sujeito a novos cortes.

- Publicidade -

Tamanha diferença nas taxas muda sensivelmente a estrutura financeira da economia. Poupar dinheiro já não garante um rendimento suficiente nem mesmo para superar a inflação. Guardar dinheiro na caderneta de poupança, ou no fundo de renda fixa atrelado ao CDI não garantem nenhum ganho real. Quem busca maior rentabilidade tem de partir para a renda variável ou até mesmo investimento próprio (abrir uma empresa, ampliar o próprio negócio).

Por outro lado, o juro baixo estimula o gasto com consumo e investimento. Comprar a prazo fica mais barato e essa diferença é sentida de modo mais intenso nos financiamentos mais longos, como no caso do setor imobiliário. Há apenas alguns anos as taxas anuais do financiamento da casa própria superavam com folga os 10%. Atualmente já é possível encontrar bancos oferecendo o serviço com taxas na casa dos 7% anuais, mais a TR (que em Selic de um dígito geralmente é zero). Para quem precisa financiar é um impulso muito grande a gastar e/ou investir.

Em situações (mais) normais, uma taxa básica tão baixa provavelmente causaria uma aceleração abrupta na demanda e na inflação. Foi assim, por exemplo, no período de 2012 a 2014, quando a taxa foi artificialmente trazida perto do juro real zero pelo governo Dilma Rousseff. A consequência foi uma escalada rápida do IPCA, que saiu do patamar dos 6% em 2012, para mais de 10% em 2016. No momento isso não tem ocorrido por que existe uma grande ociosidade na economia.

À medida que a pandemia arrefecer a tendência é que a ociosidade diminua e o Banco Central eleve os juros nominais para um patamar mais neutro e menos expansionista, na casa dos 3% acima da inflação, calcula-se. Ainda assim, em vista do que se viu nos últimos 40 anos, uma taxa bastante favorável à continuidade dos investimentos de horizonte mais longo.

Manter no longo prazo essa taxa baixa, contudo, exigirá que, já no ano que vem, o País retorne à disciplina fiscal e não sucumba às tentações demagógicas de aumentar o gasto e o endividamento público. No passado recente já ficou bem demonstrado que esse é o caminho mais curto para o desastre e o empobrecimento nacional.

(* Ricardo Toseto Ciquelero Administrador de empresas em Francisco Beltrão)

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques