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Católica devota de Nossa Senhora de Lurdes, Olga Leonilde Fernandes lutou e venceu dois cânceres. De 2012 até hoje, reza todos os dias um terço em prol de todos aqueles que a ajudaram a lutar, como conta a filha Lenise. “Ela vem de uma família numerosa e de uma linhagem de mulheres fortes. Passadas essas tempestades, perguntei a ela se alguma vez achou que não iria resistir, ao que ela respondeu com firmeza que nunca achou que o câncer (nenhum deles) seria mais forte.”
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Lenise entende que o diagnóstico é ponto de partida: “Em 2012, partimos e nunca mais voltamos para o mesmo lugar. Fomos para um lugar melhor, onde somos mais fortes, mais sensíveis ao sofrimento alheio, mais maduras e, acima de tudo, mais humanas”.
Em 2012, após uma infecção de garganta que não melhorava, uma série de sintomas e exames, foi diagnosticada com leucemia mieloide aguda, com tratamento em Cascavel. Ao seu lado, as filhas Lenise e Dayane e o marido Gilberto. Lenise conta: “Partimos do porto seguro da convivência familiar diária para a possibilidade de ver a vida física materna interrompida; rompemos aquela ‘inocência’ de quem nunca se defrontou com uma dificuldade gigantesca. Partimos da percepção da mãe invencível, que cuidava de todos, para a constatação de que ela era como nós: estava totalmente indefesa e necessitando de cuidados; partimos do papel de filhas para sermos cuidadoras; partimos do medo para a coragem”.
De acordo com as filhas, Olga passou de cuidadora a paciente; de uma pessoa com rotinas definidas, para o dia a dia desconhecido, pois nada dependia dela, a não ser a vontade de viver; de uma mulher forte, para outra que vivia dentro dela e era frágil, e precisava ser acolhida. Ela precisou ficar sozinha, tendo em vista sua idade, à época, não permitindo acompanhantes. Além disso, parte do tratamento requereu que permanecesse em total isolamento, diante do sistema imunológico muito debilitado.

“Esse foi nosso segundo ponto de partida: com a mãe sozinha, num hospital, em poucos dias, uma fortaleza surgiu em nós. Aprendemos a administrar a ansiedade e a preocupação. Aprendemos sobre a rotina de um tratamento oncológico. Aprendemos a distância entre Francisco Beltrão e Cascavel, todos os trajetos e horários. Aprendemos o valor de uma boa noite de sono, um agasalho em noites de vigília, aprendemos o valor da solidariedade, aprendemos sobre paciência e o valor de uma família”, diz Lenise.
Olga partiu do controle da própria vida para o aprendizado da resignação, sendo cada dia mais grata por cada pequena conquista. “Partir dos momentos de desânimo para o aprendizado de seguir em frente, porque existe ainda vida para viver. Aprendizado de que mesmo sem vontade de se alimentar, é preciso, e faz toda diferença. Aprendizado de que mesmo quando tudo parece perdido, surge uma solução. Aprendizado sobre desapego, porque o cabelo cai, mas ele volta a crescer”, relata a filha.
Câncer de mama
Em 2019, novos exames, novo diagnóstico: câncer de mama. “Como da primeira vez, junto das filhas, no momento decisivo de receber a notícia desafiadora. O quadro era outro, o momento outro, fisicamente ela estava bem, mas nem por isso a situação é menos complexa. Parece um caminho conhecido, mas não é: cirurgia, quimioterapia, radioterapia em Cascavel, que requereu residir provisoriamente em uma pensão, onde também residiam outros pacientes em tratamento semelhante”, lembra Lenise.
Esse foi o terceiro ponto de partida: “Partir do que achávamos que sabíamos, para o aprendizado de seguir com leveza, mesmo diante da incerteza. Aprendizado de novos cuidados de enfermagem. Aprendizado sobre esperança, sobre esperar, e sobre o quanto é bom voltar para casa e é tão bom, que só o fato de ver Francisco Beltrão de longe (as primeiras casas), já faz os olhos marejarem”, comenta Lenise.
Olga precisou partir da segurança da saúde para a constatação de um novo diagnóstico. “Partir da segurança da própria casa para a incerteza de uma cidade e uma casa estranha. Revisar as lições sobre desapego, porque o cabelo caiu novamente; mas, dessa vez, ela decidiu cortar antes que os fios se desprendessem. Lição aprendida.”