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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Os 109 anos do Contestado: uma guerra esquecida

Geral

Deputado Ademar Traiano, presidente da Assembléia Legislativa do Paraná.

Por Ademar Traiano*
Em 22 de outubro de 1912, há 109 anos, iniciava, na região de fronteira entre entre o Paraná e Santa Catarina, um dos mais sangrentos conflitos da história do Brasil. Uma verdadeira guerra que teve como zona de conflito uma área 20 mil km quadrados.

O confronto envolveu sete mil soldados do Exército Brasileiro, do Regimento de Segurança do Paraná, do Regimento de Segurança de Santa Catarina e civis contratados. O rebeldes contavam com dez mil combatentes. Terminada a Guerra, entre os efetivos legalistas contabilizam 800 a 1000 baixas. Entre a população civil revoltada de cinco mil a oito mil mortos, feridos e desaparecidos.

O conflito durou quatro anos. E foi marcado por grande violência. Envolveu posseiros e pequenos proprietários, inflamados por monges aos quais se atribuía poderes sobrenaturais e que incitavam a rebelião contra a República Brasileira, então comandada pelo marechal Hermes da Fonseca.

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Envolveu ainda uma multinacional norte-americana, que fez um acordo leonino com o governo brasileiro para construir a estrada de ferro São Paulo-Rio Grande. Outro ingrediente do conflito foi uma disputa sobre o traçado de fronteiras entre Paraná e Santa Catarina. Tudo isso criou as condições que resultaram num dos conflitos mais letais da história brasileira.

Após a conclusão do trecho catarinense da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande a companhia Brazil Railway Company, do magnata americano Percival Farquhar, também dono da Southern Brasil Lumber & Colonization Company, formada para explorar a madeira dessas áreas, começou a explorar o que havia recebido do governo brasileiro em troca da construção da ferrovia: 15 km de cada lado da estrada de ferro.

A companhia iniciou a desapropriação de 6.695 km quadrados de terras (o que equivale a 276.694 alqueires), uma área que já era ocupada por posseiros que viviam na região entre o Paraná e Santa Catarina.

Esses posseiros não se conformaram em desocupar pacificamente essas terras e sua resistência resultou num sangrento conflito – ou melhor Guerra – de quatro anos (só encerrada em agosto de 1916), que envolveu além de armas pesadas, pela primeira vez na história, o uso de aeronaves com fins militares.

Dos 40 mil habitantes que residiam nos 20 mil quilômetros de área conflagrada, de cinco a oito mil morreram ou desapareceram. O que resulta num altíssimo percentual de baixas em relação à população existente no local, na época.

Municípios que viram a guerra de perto. Como União da Vitória e Porto União, que sediaram as operações militares. A cidade de Três Barras (SC), ainda guarda vestígios da Southern Brazil Lumber and Colonization Company, na época uma das maiores madeireiras do mundo. A cidade de Caçador (SC) abriga o Museu do Contestado. A cidade de Palmas (PR) e Irani (SC), local de uma das principais batalhas do conflito.

Próxima de completar os 110 anos, a Guerra do Contestado ainda é um enigma a ser completamente decifrado. É um episódio sangrento e dramático que não pode, e não deve, ser esquecido. É uma página da nossa história que ainda pode, e deve, inspirar importantes lições.

*Ademar Traiano é deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Paraná.

Moradores de contestadas terras hoje pertencentes a Santa Catarina enfrentaram o Exército, resultando em milhares de mortes. Foi a Guerra do Contestado, iniciada há 109 anos. 

 

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