O município de Cruzeiro do Iguaçu foi instalado em 1º de janeiro de 1993, mas a história do desbravamento local começa bem antes. O professor Marcos Witeck* é quem possui a maior documentação sobre toda a história, desde os primeiros moradores. É dele o texto que segue, como uma prévia do caderno especial que o Jornal de Beltrão vai publicar no próximo domingo, 23 de abril, sobre o 26º aniversário de criação do município.

Da Origem à emancipação
A ocupação definitiva do Estado do Paraná aconteceu a partir de 1930. A região Sudoeste, que faz parte do Território do Iguaçu e está dentro da faixa de fronteira, terra do governo, começou a receber seus primeiros posseiros na década de 30 a 40. Ninguém recebera o título de propriedade, devido a este fato, ocorreu em 1957 o movimento social da Revolta dos Posseiros. Em Cruzeiro do Iguaçu, não há registro de incidentes, e sim apenas algumas pessoas que se deslocaram a Dois Vizinhos e a Francisco Beltrão para participar das concentrações.
Em 1936, o senhor Atanásio da Cruz Pires, morador de Barro Preto, hoje Coronel Vivida, vindo do Estado de Santa Catarina com a intenção de cultivar cana-de-açúcar e frutas cítricas, em especial laranjeiras, passou então a procurar um lugar apto para o cultivo destas culturas.
Partindo de Vista Alegre pelo Rio Chopim, numa canoa, após dias de viagem, chegou numa região de saltos e cachoeiras, onde parou e aportou. Construiu um casebre e voltou para Barro Preto buscar sua família, considerando o local ideal para o plantio de frutas, até hoje conhecido como Laranjal do Pires, em Foz do Chopim.
Para sustento da família, o morador utilizava-se do que a natureza oferecia em abundância numa região coberta de mata nativa: a caça e a pesca, com isso, iam conhecendo o território e a ele atribuindo suas nomeações, algumas históricas.
Na primeira “descoberta”, seu Atanásio percebeu a existência de um rio, bem próximo àquele que lhe trouxe à região. Denominou-o de Dois Vizinhos, já que estes rios eram os seus únicos vizinhos, sendo o Rio Chopim e o Rio Iguaçu. Com a abundância de caça, o morador passou a tirar couro dos animais e vender em Vila Nova, hoje Pato Branco, utilizando-se para isso do transporte fluvial. No local da venda, identificava-se como morador de Dois Vizinhos, já que a abundância de couro despertava a atenção dos compradores, fato esse que atraiu caçadores e fez com que chamassem a região de Dois Vizinhos.
O nome Rio Canoas, que estabelece a divisa dos municípios de Cruzeiro do Iguaçu e Boa Esperança do Iguaçu, é fruto do encontro de uma timbaúva na barra do rio, a qual seu Atanásio farquejou e construiu uma canoa com doze metros de comprimento e um metro de largura. Da parte que compunha o revezo da galhada fez o bico e da parte das raízes fez a proa, de modo que a canoa ficou resistente, impedindo as rachaduras, tanto na ponta como no leme. A canoa tinha capacidade para transportar duas carroças de milho, isto é, doze bolsas em espigas. Devido a este fato, condicionou-se a denominação do Rio Canoas.
Durante a caçada de um dia de duração, foram mortas 12 antas e aproveitou-se apenas o couro, a carne fora jogada na água. Desse episódio, surge o Rio Doze Antas, afluente do Rio Canoas.
Numa época de muita chuva, Atanásio, acompanhado de seus filhos Joaquim, Ricardo e Antônio, seguiu pela costa dos rios Iguaçu e Chopim até a barra do atual Rio Divisor. Naquele local, eles permaneceram por vários dias, não se sabendo exatamente quantos, sem pegar caça e pesca alguma. Nessa passagem, o velho patriarca disse aos filhos: “Esse local é tão miserável que nem caça e pesca dá! A partir de hoje, matamos somente a caça que podemos comer”. Seu Atanásio considerou aquele episódio um castigo pela morte das doze antas lançadas ao rio. Em razão desse acontecimento, nomeou o rio de Miserável e mais tarde, com a chegada de outros moradores, que se estabeleceram às suas margens, formando o “Povoado Miserável” que, com a emancipação de Pato Branco e Francisco Beltrão, na década de 1950, passa a denominar-se Rio Divisor, dividindo os dois municípios. Também alterando o nome do povoado que surgira à sua margem esquerda, território pertencente a Francisco Beltrão.
Seu Atanásio se apossou de um território de cerca de 8.060 hectares, compreendidos entre a barra do Rio Chopim, descendo à barra do Rio Canoas e subindo até o Rio Miserável (atual Divisor). Seu “império” perfazia mais de 50% do território do município de Cruzeiro do Iguaçu.
Decorridos quatro ou cinco anos, chegou o segundo morador, Felipe Gaudinski, que fugiu do Rio Grande do Sul após envolver-se numa briga. Refugiado na mata, sem saber para onde ir, escondeu-se, sem ser visto, dentro do tacho do alambique que estava carregado em um caminhão de mudanças que vinha para o Paraná. Seguindo mata a dentro, encontrou-se com seu Atanásio, do qual comprou um pedaço de terra, estabelecendo-se neste local que mais tarde fora denominado “Vila do Rosário”; hoje submersa pelas águas do lago de Salto Caxias.
O terceiro morador foi seu Graciliano Turtuliano Dias, conhecido por João Padilha. Este colocou a primeira balsa no Rio Iguaçu, cujo objetivo era efetuar a travessia de cavalos roubados, trazidos do Estado de Santa Catarina por dois elementos conhecidos como Gregório Pitoco e Bernardo Caroço e vendidos na colônia do Campo Novo, atual Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul. Em pouco tempo, a polícia de Clevelândia tomou as devidas providências afundando a balsa.
Com a chegada de outros moradores que adquiriam um pedaço de chão, como as famílias Miranda (1955), Vieira e a do seu Ricardo Ferreira, primeiro indivíduo a chegar às terras que pertencem ao perímetro urbano de Cruzeiro do Iguaçu, foram abertas picadas e divididas áreas de terra – “tirar sítio” -, que passaram a ser vendidas pelos pioneiros às pessoas que, aos poucos, chegavam ao local. Esses sítios eram negociados à base de troca: carroça, armas, animais…
As condições de vida da população eram precárias, em especial no que diz respeito à dificuldade de acesso a outras regiões.
Um fluxo maior de migrantes ocorreu no ano de 1957, vindo muitas famílias da região de Pato Branco.
O atual território do município de Cruzeiro do Iguaçu é formado pelas glebas Chopim (pertencente a Pato Branco) e Missões (Francisco Beltrão), divididas pelo Rio Divisor, que dava a denominação à localidade. O Divisor (Colônia das Missões) pertencia ao município de Marrecas (Francisco Beltrão), no momento em que foi aberta a primeira estrada de acesso ao local. Nessa oportunidade, o chefe de viação e obras (Roberto Grando) nomeou o local de Cruzeiro do Iguaçu, pois achava estranho o nome Divisor.
Em 28 de novembro de 1960, pela lei nº 4.245/60, Dois Vizinhos foi emancipado, passando a Cruzeiro do Iguaçu a categoria de Distrito Administrativo pela lei nº 05/65, em 9 de abril de 1965, e pela lei estadual nº 5.635/67 de 13 de setembro de 1967, a Distrito Judiciário. Momento em que o senhor Daniel Túrmina fora nomeado, interinamente, pelo decreto governamental nº 11.118/68 de 16 de junho de 1968, escrivão de paz e anexos do Distrito de Cruzeiro do Iguaçu.
Em 1964, por um período de seis meses, Cruzeiro do Iguaçu pertenceu ao recém-emancipado município de Salto do Lontra, pela lei nº 4.823/64, de 18 de fevereiro de 1964 (depois de um movimento feito pela população), momento em que seu povo exigiu a sua volta a Dois Vizinhos. Cruzeiro do Iguaçu já havia pertencido aos municípios de Francisco Beltrão, Clevelândia e Dois Vizinhos.
Na década de 60, intensificou a chegada de novos moradores, devido à construção da Usina Júlio de Mesquita Filho (inaugurada no governo de Paulo Pimentel, em 30 de janeiro de 1970, e desativada a partir de 15 de julho de 1998, no governo de Jaime Lerner), que hoje se encontra submersa pelo lago de Salto Caxias, e da ponte sobre o Rio Iguaçu, que na enchente de 28 de agosto de 1972 foi derrubada, em seu local surge a segunda, que também acabou caindo na cheia de 9 de julho de 1983. Região marcada pela tragédia do naufrágio da balsa, no Rio Iguaçu, na localidade de Foz do Chopim, em 19 de setembro de 1973.
Em 1º de março de 2000, a DM Construtora de Obras inicia construção da Usina Hidroelétrica Foz do Chopim Energética, aproveitando grande parte da estrutura da antiga Usina Julio de Mesquita Filho. A sua inauguração se deu em 11 de outubro de 2001, com a presença do governador Jaime Lerner.
A área urbana de Cruzeiro do Iguaçu foi definida em 1972, quando o Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná (Getsop) traçou as ruas e as 64 quadras, identificadas por letras e números. Só na primeira administração, através da Lei nº 074/94, do dia 26/9/94, foram substituídas as letras das ruas por nomes de pioneiros e outras denominações. Como também fora acrescentada uma nova área de 24.200 m² (Lei nº 058/94 de 18 de março de 1994) ao perímetro urbano, na qual foram construídas 30 casas da Companhia Paranaense de Habitação (Cohapar). Somente em 2009, através da Lei nº 659/09 de 24 de julho de 2009, surge o primeiro loteamento Novo Horizonte, de propriedade da família Bertoldo, localizado na saída para Boa Esperança do Iguaçu. Com uma área de 35.648,07 m², dividido em sete quadras e 64 lotes.
Pela Lei Estadual nº 9.232/90 de 26 de abril de 1990, publicada no Diário Oficial do Estado do Paraná, nº 3.252, foi elevado à categoria de município. Em 1º de setembro de 1991, realizou-se o plebiscito de desmembramento, havendo um total de 1.883 cadastrados, 1.791 compareceram às urnas, dos quais 1.572 votaram SIM e 188 votos desfavoráveis, 17 votos nulos e 14 brancos, perfazendo um percentual de apuração de 87,77%. A instalação deu-se em 1º de janeiro de 1993, com a posse do primeiro prefeito – Luiz Alberi Kastner Pontes, é o mesmo da atual gestão -, eleito em 3 de outubro de 1992, juntamente com os respectivos vereadores, no Clube da Associação Atlética Cruzeirense.
*Marcos Geraldo Witeck é ex-vereador, ex-secretário de Educação, professor de História, ex-diretor do Colégio Estadual Dr. Arnaldo Busato, Ensino Fundamental e Médio, de Cruzeiro do Iguaçu, formado em Filosofia, UPF, pós-graduado em História do Brasil e Pedagogia Escolar. Membro fundador do Centro de Letras de Francisco Beltrão.
