“O tempo corrige rumos, mas quando se navega nem sempre os ventos estão a favor e, às vezes, para avançar, é preciso recolher velas e contornar o leme.”
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O livro “Euclides Scalco, o homem, seu tempo e sua história”, publicado no ano passado com texto de Marcos Antonio Bastiani, tem 481 páginas. Após o capítulo 39, em “Palavra Final”, Scalco faz considerações sobre sua vida. É o que segue:
“Como lembrado no prólogo destas páginas, os filhos, netos e bisnetos e a Therezinha insistiam para que eu organizasse minhas memórias e as pusesse no papel, como um legado a eles.
E foi com este intuito, com a ajuda do sobrinho Marcos, que faço este resgate histórico das tantas fases que vivi, muitas delas já envoltas no nevoeiro dos anos e que, por lapsos de memória, podem ter perdido o viço dos detalhes ou a nitidez das emoções vividas, mas que não perderam a essência das motivações que me fizeram vivê-las.
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Ter feito esta verdadeira imersão em tantos fatos e passagens dos quais fomos protagonistas, é inegável, traz sentimentos de saudades e nostalgia, alternadas com alegrias e satisfações. A dualidade vivida pelas apreensões na busca do que considerávamos correto, somada aos esforços empregados para consegui-lo, subtraída das tensões vividas e energias dispendidas, julgo terem um resultado positivo.
Afirmo, do alto destas décadas vividas, que todas minhas energias foram direcionadas para atitudes embasadas em convicções e idealismos e, por isso mesmo, passíveis de erros. O tempo corrige rumos, mas quando se navega nem sempre os ventos estão a favor e, às vezes, para avançar, é preciso recolher velas e contornar o leme. Esta foi uma das lições aprendidas na minha atividade política, quando o possível de se se fazer, mesmo não sendo o ideal, acaba se transformado na virtude das ações empreendidas.
As oportunidades – muitas involuntárias, outras perseguidas – que o correr do tempo me descortinou foram intensa e apaixonadamente exploradas. Reconheço que nem sempre estive à altura do que de mim talvez fosse esperado, mas o empenho e o desassombro como as encarei surpreendem também a mim. Sei que muitas vezes faltei com a intensidade desejável, quando se almeja construir abrigos seguros para a família e para os que nos aprisionam no sentimento de responsabilidade pela confiança em mim depositada.
Neste último ano, enquanto resgatava do baú da Theresinha tantos documentos que zelosamente ela guardou, ao manuseá-los e relembrá-los, uma espécie de filme me perpassa à frente dos olhos. Situações vividas que julgava importantes adquirem novas conotações e outras, nem tanto, adquirem dimensões diferentes à luz dos dias atuais. Os contextos mudam, mas me reconheço nas atitudes e em cada decisão tomada, não como um ingrediente de persistência, às vezes confundida com teimosia e que provavelmente tenham contrariado interlocutores, seja no âmbito familiar, profissional ou político, mas como convicção de ter cumprido o que me parecia mais adequado e cabível para a situação que se apresentava.
Tenho consciência que muitas das convicções e certezas que embalaram minhas atitudes embutem um arsenal de erros e dúvidas. Não é possível conviver sem eles e nem pretendo aliviá-los, creditando-os, não sem conforto, à minha condição humana e às conjunturas vividas. Contudo, sem falsa modéstia, também sei que os acertos pelas minhas decisões e posicionamentos beneficiaram pessoas, credito isto não como um mérito pessoal, nem tão somente pela satisfação do cumprimento de um dever, mas sobretudo por ter agido de acordo com ditames de minha consciência, fruto talvez de minha personalidade, convicções e maneira de ser.
Agradeço a tantos que deixaram aqui seu testemunho, brindando-me com palavras calorosas. Sinto-as carregadas de sincera amizade e apreço e em dobrada intensidade retribuo vossa gentileza ao permitirdes dispender tempo para depoimentos que me emocionam. A alegria de tê-los comigo neste balanço de dias vividos, configurados nas páginas aqui escritas, mas principalmente pelo convívio de momentos impares, me fazem sentir que tudo valeu a pena.
Aos incontáveis amigos, correligionários e anônimos que em mim confiaram, chancelando a possibilidade de representá-los através de seu voto nas minhas jornadas políticas, tenho a expectativa de que não os tenha decepcionado; saibam que foram a inspiração na busca do ideal utópico do bem comum.
À memória de tantos que já não estão mais aqui, mas que fizeram parte da nossa jornada, atribuo-lhes muito do constante aprendizado que me oportunizaram o que julgo ser a busca do aperfeiçoamento nas empreitadas que o tempo me ofereceu.
A meus filhos, netos, bisnetos, sem pretensão, deixo o exemplo. À Therezinha, reitero, o meu único e eterno amor.
Euclides Girolamo Scalco.