Geral
Ricardo Toseto Ciquelero*
O IBGE revelou ontem, 1º de setembro, o desempenho da economia nacional durante o segundo trimestre do ano, momento em que transcorreu o pico da epidemia de coronavírus aqui no Brasil. Os números são superlativos, os piores, por larga margem, já registrados desde que a série oficial começou em 1995 (e provavelmente os piores nos últimos 100 anos), com uma queda trimestral de 9,7% ante o primeiro trimestre de 2020, quando o resultado já havia sido muito ruim, uma queda de 2,5% ante o último trimestre de 2019.
Em condições normais tamanha hecatombe econômica só seria alcançada mediante uma destruição súbita e extensa da economia, seja via grandes desastres naturais ou uma guerra. Caso isso ocorresse, provavelmente o País rumaria a uma depressão econômica profunda e prolongada onde milhões de empregos seriam perdidos, boa parte das empresas acabaria fechada, e certamente com muitos bancos sucumbindo à falta de liquidez e levando junto as economias das famílias que por lá depositaram seus ganhos de uma vida.
Ocorre que na vida real do brasileiro, praticamente nada disto aconteceu a despeito dos números sugerirem que deveria, sim, ter ocorrido. O grande motivo por trás dessa aparente normalidade é a quantidade expressiva de dinheiro federal que foi “injetado” na economia. Injetado aqui é um eufemismo para um superendividamento à base de títulos públicos sendo comprados pelo Banco Central.
O governo distribuiu um auxílio de 600 reais para quase 50 milhões de informais, também pagou os salários de cerca de dez milhões de trabalhadores da iniciativa privada, financiou o salário de outro milhão, adiou o pagamento de alguns impostos e também criou algumas linhas de financiamento a juros baixos, para ajudar as empresas a continuarem operando em semi-normalidade.
Nesse primeiro momento, essa montanha de dinheiro que somou cerca de 30% do PIB do trimestre, ajudou a economia a manter o motor rodando, e atravessar o pior momento da crise. Não obstante as consequências desse afrouxamento monetário começam a aparecer. Os estoques velhos se foram e os produtos agora estão custando muito mais para a indústria produzir.
Infelizmente o custo para o País será imenso. A inflação no atacado já deu um pulo de quase 3% em agosto e provavelmente novos reajustes virão nos próximos meses. O País também sairá bastante endividado desta crise e precisará realizar reformas pesadas para recompor o equilíbrio fiscal no médio e longo prazo. Por reformas leia-se menos serviços públicos e mais impostos.
Em alguns meses não se falará mais de pandemia, mas as consequências ainda estarão sendo sofridas pela população. No melhor estilo tupiniquim, o Brasil optou por se esquivar de um problema à vista e pagar a fatura parcelada em muitas prestações e com juros caros.
*Administrador de empresas em Francisco Beltrão