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quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Participação feminina na engenharia regional cresce 91% em cinco anos

Em 2014, eram 335 engenheiras no Sudoeste; em 2019, número subiu para 641.

Tereza Ana Giacomini, de Renascença, formou-se em Engenharia Civil pela Unisinos, em 1983.

Fotos: Arquivo Pessoal

Mulheres nos canteiros de obras, mulheres nas lavouras, mulheres nas indústrias, mulheres nas oficinas, mulheres em muitos lugares ocupados majoritariamente por homens. Essa é uma realidade que vem se transformando nos últimos anos. No Sudoeste, uma área que está vendo crescer a participação feminina é a de engenharia. De 2014 a 2019, aumentou 91% o número de mulheres engenheiras registradas na Regional Pato Branco do Crea-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná).

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Há cinco anos havia 335 engenheiras no Sudoeste; no final do ano passado, elas já eram 641 profissionais divididas entre Engenharia Civil, Agronomia, Engenharia de Segurança do Trabalho, Engenharia Química e Engenharia Mecânica. Os dados somam “registros” e “vistos” na Regional do Crea-PR. No mesmo período, na regional, o crescimento da participação masculina foi de 40,8%.

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A Regional Pato Branco é composta por quatro inspetorias (sedes mais municípios vizinhos) e a que mais teve crescimento na participação de mulheres foi a de Pato Branco, que passou de 116 em 2014 para 250 em 2019 — aumento de 116%. Em seguida está a inspetoria de Francisco Beltrão: 135 em 2014 e 245 em 2019, alta de 104%. Em terceiro vem a de Realeza, com 60 em 2014 e 97 no ano passado; e encerra com a inspetoria de Palmas, tendo 24 engenheiras em 2014 e 49 em 2019. Os números gerais ainda mostram a predominância masculina. Na Regional PB, eles são 2.297 engenheiros — 78,2%. Já no Estado, a diferença é maior: 13.584 mulheres e 75.733 homens — quase 85% dos profissionais.

Mas, de acordo com a coordenadora das inspetorias da Regional PB do Crea-PR, Karlize Posanske, as mudanças de valores sobre a igualdade de gêneros está contribuindo para o aumento da participação feminina. “Venho há alguns anos participando de comitês de mulheres e percebemos um grande crescimento na atuação da mulher na engenheira. Acredito que estes números são pelo avanço de mudança de valores na igualdade nos gêneros. Antigamente, uma mulher na engenharia não tinha o mesmo valor que os homens, hoje temos muitos nomes renomeados de engenheiras mulheres”, avalia.

Segundo a coordenadora, a tendência de crescimento não deve parar: “No mercado de trabalho também houve um grande crescimento na aceitação das mulheres dentro das engenharias. Em todas as áreas, observamos mais mulheres no campo de trabalho, em obras, agricultura e indústrias. Acredito que esse número só tende a aumentar, observando pela grande porcentagem de crescimento de 2014 a 2019 nas regionais do Paraná”.

Katia Gularte no dia de sua formatura na primeira turma de Engenharia Civil da Unisep Francisco Beltrão, em 2017.

 

Engenheira em 1983
A engenheira civil Tereza Ana Giacomini se formou pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), de Bento Gonçalves (RS), dia 29 de julho de 1983 — eram 66 formandos, entre eles apenas 6 mulheres.

Apesar de sua formação em uma época em que o debate sobre igualdade de gêneros ainda não estava em alta, Tere diz que não teve maiores dificuldades na prática da profissão. “Não tive maiores dificuldades tanto com os colegas profissionais quanto com os clientes e operários das obras. Sempre mantive bom diálogo e valorização do ser humano. Nos dias de hoje, não vejo barreira em qualquer profissão por ser mulher. O que mais importa é ter uma boa formação. Na construção civil, o espaço é muito amplo, se destaca quem trabalha e faz sempre o melhor, sem medo de enfrentar as dificuldades do dia a dia”, destaca.

Mudando a história
Katia Gularte, 32 anos, foi uma das nove mulheres que se formaram na primeira turma de Engenharia Civil da Unisep Francisco Beltrão, em 2016 — a formatura foi em 2017. Psicopedagoga, ela trabalhava em uma empresa da área de engenharia ambiental e decidiu mudar sua carreira profissional. “Foi quando eu soube do início do curso de graduação em Engenharia Civil em Francisco Beltrão e decidi cursar. Tinha contato com algumas atividades relacionadas à área e gostava do meu trabalho, resolvi então expandir minhas possibilidades no mercado. Tenho grande admiração pela profissão.”
A resistência encontrada por Katia foi tratada com naturalidade. “Diante do atual mercado de trabalho competitivo e inovador, é natural nos depararmos com certa resistência, acredito que nas demais áreas também. Acima de tudo, dedicação e a busca constante por aperfeiçoamento são diferencias no cenário em que estamos inseridos. Além do mais, é uma profissão em que a participação das mulheres não era tão expressiva até poucas décadas”, analisa Katia.

Essa mudança profissional também contribuiu com o aumento da representatividade feminina na área da engenharia. “Historicamente, as ciências exatas têm predominância masculina. No entanto, as mulheres vêm participando cada vez mais do setor e demonstrando seu potencial. Estudos ainda sugerem desigualdade salarial em relação aos homens, mas aos poucos estamos avançando e superando os obstáculos impostos pelo mercado. É muito bom fazer parte dessa conquista, afinal, essa é uma profissão para quem tem afinidade com ciências exatas e gosta de desafios, apesar de a sociedade ainda estar presa à questão de gênero, somos capazes e continuaremos conquistando nosso espaço”, afirma Katia.

Participação de mulheres no cenário nacional

O Censo do Ensino Superior, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em setembro do ano passado, mostrou que em 2017 as mulheres responderam por 105.651 matrículas em engenharia civil e 56.932 matrículas em engenharia de produção no País, contra 241.176 e 105.495 matrículas nas mesmas áreas, respectivamente, por representantes do sexo masculino.
O Censo do Ensino Superior de 2015 registra que mulheres eram 30% dos concluintes do curso de engenharia civil e 33% do curso de engenharia da produção, contra 70% e 67% de homens.
A presidente da Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (Abea), Iara Nagle, confirmou que tem crescido a presença feminina principalmente na área de engenharia da produção. Iara lamentou, porém, que com 82 anos de existência a entidade, fundada pelas primeiras engenheiras do País, com o objetivo de ampliar a participação das mulheres nesse mercado, tenha apenas 340 profissionais associadas.

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