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Francisco Beltrão
sexta-feira, 30 de maio de 2025

Edição 8.215

30/05/2025

Pequenos produtores encontram no cooperativismo a chance de serem mais fortes

Com alternativas que outras instituições financeiras não ofereciam, agricultores investiram, ampliaram e hoje têm boas oportunidades e qualidade de vida.

 

Produtor Zequinha Heinz está satisfeito com o setor e os investimentos que realizou. 

A agricultora Nilza dos Santos Moreschi nem havia se dado conta de que vestia uma camiseta da cooperativa Cresol enquanto conversava com a reportagem do Jornal de Beltrão justamente sobre o papel que o cooperativismo de crédito exerceu no processo de transformação das propriedades rurais no município. “A gente costuma usar sempre, e com orgulho, pra ajudar a divulgar o nome da cooperativa”, declara.

Quem vê hoje a propriedade de Nilza, de 52 anos, e do marido, Divonzir, de 56, na Comunidade Mata Fome, distante quatro quilômetros do Centro de Eneas Marques, nem imagina que há alguns anos eles deixaram de investir em uma nova casa, pois não havia meios de comprometerem uma parcela de R$ 80 mensais. “A gente lidava com várias atividades, milho, feijão, fumo e leite. Mas era muito difícil, não tinha crédito, era uma dificuldade constante”, conta o casal, que conseguiu quitar a casa antecipadamente.Eles adquiriram a área de 11,5 hectares há 29 anos, vindos do município de Verê. O fumo era a principal atividade, mas queriam outra alternativa e acabaram se interessando pela pecuária leiteira. “Nós sempre tivemos umas vaquinhas e no começo vendíamos uns 200 litros de leite por mês. O problema é que era uma burocracia pra conseguir crédito, demorava muito, até que surgiu uma unidade da Cresol aqui no município e aí a gente viu a oportunidade. E foi entre 2007 e 2008 que começamos a trabalhar mais focados no leite”, relata dona Nilza.
Um passo por vez, eles foram ampliando a produção. Atualmente, com 35 vacas em lactação e uma média de 16,4 litros por animal/dia, toda a área é destinada ao trabalho com o leite e eles ainda arrendam outros 30 hectares para o plantio de milho e sorgo que serve de alimento para o gado. 
A escolha do leite foi tão assertiva que transformou a vida da família Moreschi. Tanto que até o filho mais velho, Márcio, de 31 anos, que havia saído de casa para trabalhar na cidade, regressou à propriedade. “Percebi o potencial e a chance de ganhar mais e viver melhor trabalhando no campo. 

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Hoje, com duas vacas bem cuidadas, ganho mais do que trabalhar como empregado”, destaca.
Para Nilza, o trabalho da cooperativa é feito “por quem entende a nossa situação, eles dão mais suporte e acompanham a realidade”. E com tanta reviravolta, até a casa nova se tornou possível. “Transformamos a propriedade totalmente. Hoje temos mais qualidade de vida. A Cresol acreditou em nós e nós nela, foi se aperfeiçoando e agora todos crescem juntos”, completa. 

Com os filhos Márcio e Micheli, o casal Nilza e Divonzir Moreschi também apostou no leite e no trabalho com o cooperativismo.

 

ZEQUINHA ABANDONOU OS SUÍNOS NA ÉPOCA DA CRISE
Um pouco mais perto da cidade, ainda na Linha Mata Fome, a menos de dois quilômetros do Centro, o agricultor José Elias Heinz, de 54 anos, também aposta na produção de leite. Zequinha, como é popularmente conhecido, é filho de Otto Heinz, falecido há 15 anos, e dona Imgard Moler Heinz, de 77 anos. Ele nasceu na propriedade, casou-se com Leonir, que hoje tem 52 anos, e criou os filhos Otto Lucas – 22 anos, estudante de Química em Pato Branco – e Renato Roni – 17 anos, estudante de Agronomia em Dois Vizinhos.
Zequinha se dedica integralmente à bovinocultura de leite. Acabou partindo para o setor após enfrentar a forte crise da suinocultura, há cerca de oito anos. “Trabalhei por muitos anos com suínos, também com lavoura, mas depois da crise decidi investir no leite. E o que realmente contribuiu para dar o suporte que eu precisava foi ter me associado na Cresol. Havia muita dificuldade de ter recursos nos bancos e a cooperativa ofereceu algo que as outras instituições não tinham”, comenta o agricultor.
A propriedade de 25 hectares abriga 105 cabeças de gado, sendo 40 vacas em lactação. Com recursos garantidos pela cooperativa, Zequinha investiu em tecnologia e adquiriu ordenhadeira, resfriador e reformou as instalações. O produtor acredita que, se não tivesse conseguido os recursos na época em que encerrou o trabalho na suinocultura, já teria abandonado o campo. “O pequeno era simplesmente abandonado pelo lado financeiro. Sem recursos não dava pra continuar, assim como aconteceu com muitas propriedades por aqui”, destaca.

JOSELINO QUASE FOI PRA CIDADE
Quem quase abandonou o campo foi o agricultor Joselino Lambech, de 50 anos, morador da Comunidade Rio Vitória. Ele e a esposa, Otília, de 53 anos, também trabalham com o leite atualmente, mas já testaram várias atividades. “Fumo, milho, maracujá, feijão, pepino e muitas outras coisas. Tentamos de tudo, mas o que sempre mantinha a média era o leite”, conta Otília.
Para garantir alguns recursos, Joselino decidiu trabalhar como pedreiro durante o dia. Acordava cedo para ajudar na ordenha das vacas, ia para o trabalho e, quando voltava, ajudava na ordenha da tarde. Foi assim por 20 anos. Mas há cerca de quatro anos eles optaram por trabalhar somente na atividade leiteira. Com 25 animais em lactação, conseguem atingir a produção de até 10 mil litros de leite por mês. 
O casal também defende a contribuição do cooperativismo na transformação da agricultura familiar. “Antes das cooperativas, era complicado fazer algum investimento. Era pouco que liberava, era burocrático, sem contar a demora. Agora melhorou muito, trouxe oportunidade aos agricultores. Se não tivesse surgido esta opção, acho que já teríamos ido pra cidade, assim como eu já estava fazendo”, revela Joselino.

“QUEM SE EMPENHOU ESTÁ BEM”
Ilário Kaupka, ex-presidente da Cresol de Eneas Marques, acredita que, se não tivessem surgido as cooperativas de crédito, a situação da agricultura familiar hoje poderia estar bastante precária. “Graças ao cooperativismo, as instituições financeiras passaram a valorizar o pequeno agricultor também”, afirma.
A Cresol de Eneas Marques reúne atualmente 870 cooperados e, segundo a direção, 90% das propriedades do município são dedicadas ao leite. “O produtor que correu atrás, se empenhou e soube aplicar os recursos que conseguiu está bem hoje. E nós não medimos esforços para auxiliar”, ressalta Bruno Pereira, presidente eleito que assumiu as atividades recentemente.

Ilário Kaupka, da Cresol, Otília com o filho Tiago e o marido Joselino Lambech, e Bruno Pereira, também da Cresol: parceria entre cooperativa e produtores.

 

 

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