Perdas e ganhos na agricultura com a queda do dólar
Das assessorias
Ao longo de 2003, as taxas de câmbio oscilaram bastante, chegando numa situação da moeda americana ficar abaixo dos três reais. Segundo o analista da gerência técnica da Ocepar, Flávio Turra, “esta queda preocupa o setor exportador, em especial do agronegócio, uma vez que a remuneração pelos produtos começa a desestimular o comércio externo e em algumas situações, como é o caso do milho, as exportações deixam de ser atraentes”, afirma.
Agricultura
Para os produtores rurais a queda do câmbio prejudica os preços dos produtos de exportação e, paralelamente, isso torna as importações de alguns produtos, como é o caso do trigo, mais barato, podendo interferir no mercado interno deprimindo assim os preços. “Do lado dos insumos a expectativa de queda de preços ainda não se verificou. Acredita-se que caso o câmbio baixo se mantenha, os preços dos insumos, que utilizam matéria-prima importada em sua composição, poderão recuar. No entanto, para o produtor rural, exportador ou não, o saldo desta conta, mesmo com a possível queda do preço dos insumos deverá ser negativa”, lembra Turra.
Desvalorização
Apenas para relembrar, o câmbio de hoje, que atinge o nível de R$ 3,00, se deflacionado para janeiro de 1999, pelo IGPM do período, alcança R$ 1,546, próximo a média da cotação do dólar de janeiro de 1999 que foi de R$ 1,5264, em cuja oportunidade ocorreu a desvalorização do real. As conseqüências da defasagem do câmbio na época podem ser verificadas no desempenho da balança comercial ocorrido no ano de 1998 que apresentou os seguintes números: Saldo da balança comercial negativo em US$ 6,57 bilhões e saldo da balança do agronegócio de US$ 13,47 bilhões positivos. Já no ano de 2002 a balança comercial teve um saldo positivo de US$ 13,12 bilhões e o agronegócio contribuiu com um superávit de US$ 20,35 bilhões.
Variáveis
É bom lembrarmos que os efeitos da variação da taxa de câmbio não são imediatos e também dependem de diversas variáveis, mas é oportuno começar a acompanhar a questão para não sermos pegos de surpresa. Por outro lado, os efeitos da queda na taxa de câmbio podem apresentar aspectos positivos”, salienta o técnico da Ocepar. Diante deste cenário traçado, a gerência técnica preparou, de forma resumida, as principais conseqüências da redução da taxa de câmbio sobre a economia como um todo e sobre os diferentes agentes econômicos.
a) Perdas
Exportadores ? A queda na taxa de câmbio torna os produtos brasileiros mais caros no mercado externo. Para manter os preços anteriores em dólares os exportadores receberão menos pelos seus produtos e em algumas situações poderá ser obrigado a deixar de exportar. Tendência de redução das exportações.
Turismo interno ? Uma taxa de câmbio mais baixa pode estimular novamente a vinda de turistas estrangeiros ao Brasil.
Produtores agropecuários ? Devido às cotações internacionais dos produtos agrícolas serem dolarizadas, uma menor taxa de câmbio implica na redução dos ganhos para os agricultores.
b) Ganhos
Inflação ? Em função da redução dos custos das matérias-primas importadas a tendência é de que as empresas não aumentem os preços internos. As empresas que perderem competitividade no mercado externo redirecionarão seus produtos ao mercado interno aumentando a oferta com possibilidade de redução de preços.
Importadores ? O custo dos produtos importados diminui, favorecendo a competitividade dos produtos vindos de outros países.
Empresas com dívidas em dólares ? As dívidas dessas empresas diminui em reais.
Viagens ao exterior ? Fica mais barato aos brasileiros viajarem ao exterior.
Dívida externa ? Diminui a dívida externa em reais.