Dr. José Carlos Zanella, da Planeta Bicho, explica como amenizar o sofrimento dos felinos.

O problema do atendimento de gatos é tão complicado que fez com que surgisse, por volta de 2000, uma associação inglesa chamada Cat Friendly, formada por um grupo de veterinários. A Cat Friendly preconiza práticas de boas maneiras para que o cuidado do gato seja de uma forma mais agradável, amigável e menos traumática. No Brasil, há 44 clínicas associadas e todo o processo, desde atendimento, estrutura física, atitudes e padrões até a educação dos proprietários, é voltado para o bem-estar dos gatos.
Dr. José Carlos Zanella, proprietário da Planeta Bicho, informa que a clínica está sendo credenciada no Cat Friendly. “Começaremos por Pato Branco e em sequência será em Beltrão, porque estamos reestruturando aqui.” Mais informações em https://catvets.com/membership-required/. Confira a entrevista.
Por que os gatos são tão ariscos?
Dr. José Carlos Zanella – A justificativa mais aceita é a escala evolutiva. Traçando um paralelo com os cães, que é inevitável, são os dois animais de estimação que mais se aproximaram do homem, nós vamos ver que a data da primeira aproximação da ajuda mútua entre o homem e o cão é de 70 mil anos atrás. É um longo período de acompanhamento. Se nós pegarmos os gatos, hoje, nós vamos ter uma data de 5.000 anos antes de Cristo e mais 2.000 anos depois de Cristo. O gato tem muito menos tempo vivendo como ser domiciliado e isso faz com que seja mais medroso. Outro detalhe é que o gato se aproximou do ser humano onde começaram a produzir alimento e estocar, que era no Egito. Mas, depois da peste bubônica, em que o gato foi o culpado, lá houve uma caça aos gatos e isso os afugentou novamente. Como animal de estimação, nós temos datado praticamente depois da Segunda Guerra Mundial; os animais viviam escondidos junto com as pessoas na Europa, dentro dos guetos. Aí o homem percebeu que era legal tê-los junto e começou a trazê-los para dentro de casa, mas foi há 70 anos apenas, isso é muito pouco tempo na escala evolutiva.
Por que é mais difícil levar gato ao veterinário do que os cachorros?
Normalmente, as pessoas pensam que ele quase não tem doença e não acostumaram a levá-lo ao veterinário desde pequeno. Os gatos fazem muita associação, então, têm de ser treinados para ir ao veterinário. O gato, desde pequeno, deveria ter a caixinha de transporte, onde o tutor deveria alimentá-lo, deixar brinquedos lá dentro e ele deve dormir ali. Quando vai ao veterinário, o gato vai com seu mundo, com a sua caixa, dessa forma, não vai se estressar. Ao chegar ao veterinário, o ambiente tem que ser adequado, não poderia ter muito ruído, poderia cobrir a caixinha para não estressá-lo. Muitas vezes, os consultórios não estão adequados, aí, quando ele vai pra mesa de consulta, se você for um pouco mais incisivo, ele vai traumatizar. É uma sucessão de situações erradas que faz com que o animal traumatize, desde o manejo dentro de casa, o transporte também é importante e o manejo dentro da clínica veterinária. Quando corrigir isso — e tem que ser feito desde pequeno —, esses animais vão passar a ir à clínica veterinária como um passeio, algo agradável.
Como o tutor pode se preparar para isso?
Procurando informações desde que o gato é filhote. Outro detalhe importante: os filhotes têm um período que nós chamamos de neuroplasticidade, que vai desde que nasce até por volta dos 45 ou 50 dias. Então, tudo que for ensinado ao longo desse período, eles vão aceitar.
Alguns tutores evitam levar seus gatos por esses motivos?
Sim. E atitudes como essa põem em risco a vida, porque muitos gatos precisam de atendimento. O mercado americano, por exemplo, tem mais gatos do que cães e, hoje, os cães vão quatro vezes mais do que os gatos ao veterinário. Para você ter uma ideia, 70% dos gatos acima de 10 anos têm artrose, que é uma doença que produz dor e não é descoberta porque se negligencia; grande número de animais tem doenças renais crônicas, que precisam ser diagnosticadas com exames. O gato tem que ir pelo menos uma vez ao ano ao veterinário fazer check-up. Por ordem, os animais jovens têm doenças virais e animais mais idosos, diabetes, doença renal e artroses, são as principais doenças que hoje afetam os gatos. As causas são as mais variadas, as doenças virais são por vírus; as doenças renais são por erros alimentares e baixa ingestão de água; a diabetes, pela obesidade e pelo erro de manejo. Para você ter uma ideia, um gato que fica dentro de casa passa 70% do tempo dormindo, enquanto que o gato que está fora de casa passa 70% do tempo fazendo exercício físico, olha a diferença.
Por que as vacinas são tão importantes?
As vacinas são importantes para evitar essas doenças virais, principalmente imunodeficiência felina e leucemia felina. O gato tem que ser respeitado como espécie. Inclusive, se você respeitar o gato como espécie, você melhora, porque nós temos que ser mais sutis no tratamento. O gato tem movimentos harmônicos e equilibrados. Então, a pessoa que quer se aproximar, que quer ter um gato, ela tem que ser assim. Inclusive, nós, médicos veterinários, temos que aprender gentileza. As palavras exatas para tratar com gato são sutileza e gentileza.