Edsom Luiz Bagetti, 44 anos, tinha um sonho desde pequeno. Filho de Odenir e Clélio Bagetti, ex-prefeito por duas gestões de Pérola D´Oeste, sonhava ser prefeito, um dia, de sua cidade natal. E conseguiu! Não apenas uma, mas duas vezes seguidas.
Até se eleger, em 2004, para o primeiro mandato de prefeito, Edsom teve de superar vários desafios. Foi jogador de futebol e basquete, sofreu uma contusão séria no joelho, cursou faculdades em Curitiba – Administração e Química – e passou a lecionar como professor da rede estadual em Pérola.
Ele casou duas vezes. O primeiro casamento foi ainda com 19 anos e durou apenas dois anos. Aos 30, casou-se com a assistente social Karoline Seredeniki Bagetti, com quem tem os filhos Leonardo e Kamile.
Numa entrevista descontraída, que durou perto de duas horas, Edsom falou sobre sua vida, sua família, sua forma de agir como vereador, prefeito e filho de ex-prefeito. Segue parte da entrevista, enfocando mais o lado pessoal do prefeito.
JdeB – O garotinho Edsom, era mais solitário, ou tinha um grupo de amigos?
Edsom – Eu era bem solitário, até hoje, se for olhar pra trás e ver da forma que eu era, a forma de me expressar, formar grupo de amigos era muito raro. Eu sempre fui muito reservado, muito tímido, e isso até mesmo no período da faculdade, que eu fiz em Curitiba, depois, na sequência, quando eu fui estudar pra lá, até nesse período eu era muito reservado.
JdeB – Era uma educação rígida, ou, o porquê disso?
Edsom – Não é, ao contrário do meu irmão, o Gelson sempre foi mais extrovertido, mais brincalhão e eu sempre fui mais reservado, acho que é o perfil de cada um, e até hoje eu sou um pouco reservado.
JdeB – E isso tinha alguma coisa a ver por ser filho de prefeito?
Edsom – Sim, também, é verdade. Meu pai sempre cobrava da gente. Quando eu tinha sete anos que meu pai foi prefeito. Ele sempre cobrava que a gente tinha que dar o exemplo, tinha que cuidar, se ele cobrava dos outros que se fizesse a coisa certa, nós tínhamos que sair de casa com o exemplo, fazendo a coisa certa. Isso, sem dúvida nenhuma, me fez ficar mais reservado, mais tímido, pensar antes de fazer as ações. E pelo fato também, acho, de meu irmão ser mais extrovertido, me reservava mais ainda, pra ser o exemplo, digamos, da família.
JdeB – E o estudante Edsom, como era aqui em Pérola D’Oeste?
Edsom – Áh, aqui eu não era muito dedicado, acho que foi no período da faculdade que eu me empenhei mais, mas nunca fui exemplo, nunca assim, digamos, destaque em sala de aula, sempre normal.
JdeB – E a definição do que o senhor queria na vida, foi fácil?
Edsom – Olha, desde pequeno, sempre que me recordo, as pessoas falam comigo e dizem que eu ia voltar pra Pérola e ia ser prefeito aqui, sempre falei desde pequeno. Porque meu pai foi professor, vereador e prefeito, e eu tinha isso em mente também de ser professor, como eu sou professor estadual, ser vereador e um dia ser prefeito. Acabei correndo atrás disso e acabou dando tudo certo. E agora veio a reeleição. Foram oito anos da mesma forma que meu pai também foi oito anos, de 77 a 85, então é uma trajetória assim que foi um sonho desde criança, ser prefeito em Pérola D’Oeste, e estudar fora, me formar e voltar novamente.
JdeB – Esse sonho existia desde criança, agora quando o senhor sentiu na realidade que ia se tornar prefeito?
Edsom – É, eu era vereador e trabalhou-se pra uma candidatura única. Eu não tive espaço durante o período, antes de chegar às decisões mesmo, no fecha, essa candidatura única não era o que eu desejava e eu quase acabei abandonando. No dia da convenção de registrar a candidatura houve essa desistência e ficamos sem candidatos, então veio um grande número de pessoas aqui em casa, começamos conversar umas 6 horas da tarde e fomos até umas duas, duas e meia da manhã, e saíram os nomes Edsom e Alcir, mas não era no momento o que eu imaginava, a minha ideia era ser candidato a vereador de novo, me preparar para agora (2008) ser eleito. Houve uma antecipação dentro do meu planejamento. Nós saímos sem estrutura nenhuma, seja financeira pra andamento, combustível, enfim, tem todas as despesas de campanha pra ter cabo eleitoral, material humano, não digo zero, mas mínimo, mínimo; no início da candidatura foi motivo de piada, e na sequência, no decorrer da campanha ela foi tomando corpo.
JdeB – E a juventude que impacto teve na sua candidatura, na primeira vez prefeito?
Edsom – Então, eu era professor, como sou professor estadual, e acho que o importante é gostar do que faz, independente do teu segmento, da atividade, gostar muito, e eu adoro a área pedagógica e foi assim, umas coisas engraçadas na campanha, eu chegava na casa das pessoas e na segunda cuia de chimarrão perguntavam mas quem é o senhor mesmo? Daí eu falava, eu sou o Edsom, candidato a prefeito – Meu Deus do céu, que é o candidato a prefeito? Sou. As pessoas muitas vezes não me conheciam, mesmo meu pai tendo sido prefeito, mesmo sendo professor. Mas a grande maioria das residências onde tinha um jovem que era meu aluno, acabava convencendo o pai que mesmo não conhecendo, convencia o pai e a mãe pra votar pra mim, uma história bem bonita, bem bacana que me surpreendeu muito, sabe. Eu tinha uma relação muito boa com os meus alunos, entendeu, independente da idade, eu trabalhava com o ensino fundamental de 5ª a 8ª, trabalhava com o ensino médio também e tudo isso teve uma relação muito bacana, isso sem dúvida nenhuma foi uma alavanca muito importante na primeira eleição, a juventude.
JdeB – E naquele período da campanha, o sonho de menino foi mais forte, disse, “opa, chegou a vez”, ou teve dúvidas se tinha, já, chegado o momento?
Edsom – Eu tive muitas dúvidas. Quando nós registramos a candidatura que eu realmente vi o peso da responsabilidade no outro dia, sabe? Até então, eu estava indo e registrando meu nome simplesmente pra colocar uma opção para a população, mas não avaliei ao certo, o que seria o tamanho do movimento que eu estava me propondo. Sempre quis, mas não cheguei a analisar isso no contexto, quando fomos a campo, aí que realmente senti o peso e a responsabilidade.
JdeB – Mas aquele sonho de garoto, de se tornar prefeito, ajudou na hora da decisão?
Edsom – Sim. Na metade do período da campanha, a gente percebeu que era possível chegar, então a gente percebeu que esse sonho já estava bem próximo, então isso com certeza nos motivou muito a trabalhar cada vez mais e chegar no final, a gente conseguir então comemorar junto com a população.
JdeB – E o seu pai, o senhor chegou a conversar com ele, ele também atuou como conselheiro?
Edsom – Meu pai no primeiro momento ficou muito preocupado, não queria que eu fosse candidato. Naquela noite que nós conversamos muito, a câmara de vereadores fica muito próximo daqui, do outro lado da rua, nós íamos até a Câmara de Vereadores conversar com o grupo e voltávamos a conversar com meu pai, subia as escadas e ele dizia: – Tu não vai, meu filho, não vai, não quero que tu vá. Ele não queria que eu sofresse um desgaste, a preocupação era de eu me decepcionar, que não era o momento, não era a hora. E então a minha mãe que foi assim, que impulsionou muito, a frase que não vou esquecer, é um dito popular, que “o cavalo encilhado passa uma vez na tua frente e não pode perder oportunidade”, e nós, colocou teu nome à disposição e deixa o povo julgar, deixa a população julgar se acha que deve mudar contigo muda, se acha que não. E daí tem aquele outro dito popular que diz que “incrível onde tu consegue chegar onde tu não tem nada pra perder”. Eu não tinha nada pra perder, eu voltava pra sala de aula e ia continuar minha vida tranqüilo de pedagogo, professor. Só que, claro, no decorrer do processo na campanha o meu pai teve uma importância muito grande, porque em vários lugares, várias residências onde eu chegava não me conheciam e, pelo sobrenome Bagetti, perguntavam o que eu era do Clélio Bagetti, eu dizia que era filho. Áh, tá, se você é filho do Clélio Bagetti, teu pai foi um grande prefeito, se tu fizer igual o que teu pai fez já tá bom. Isso foi uma referência muito boa, teve uma aceitação muito boa, o nome do meu pai me ajudou muito, com certeza, sem dúvida nenhuma.
JdeB – E hoje, já com experiência como prefeito, que comparação o senhor faz da sua administração e com a administração do seu pai?
Edsom – Áh, a realidade é outra. Na época do meu pai tinha máquinas novas e também não tinha essa exigência tão grande como é hoje do cascalhamento. A patrola saía abrindo estrada do interior, derrubando tudo, desmatando e simplesmente deixava de chão mesmo. O agricultor tinha uma carroça no máximo, então era o suficiente para poder andar. Hoje tem adequação, readequação, cascalhamento, calçamento. A população evoluiu, as necessidades são outras, mas eu fico feliz porque as pessoas lembram muito bem da época do meu pai, pelo trabalho que ele fez, ele cuidou muito bem de partes mais simples, que mais precisam, seja infraestrutura no setor rodoviário e a saúde pra população, esse foi um legado que a gente tem e acho que isso nos deu essa condição de também conseguir ser reeleito. É difícil fazer uma comparação mais específica porque são momentos muito distantes um do outro. Meu pai ia pro governo e vinha com o cheque na mão, botava uma corrente no carro, porque era tudo estrada de chão, demorava dois dias pra chegar em Curitiba. Morria alguém o prefeito tinha que ir na casa da família, levar o caixão com a Belina, colocar dentro do caixão e trazer junto com a família, eu me recordo, parece que era ontem. O casal brigava em casa e vinha aqui pro prefeito fazer a junção novamente, pra não separar, enfim, era casamenteiro, fazia tudo, enterro, são momentos bem diferentes do que a gente vive hoje.
JdeB – Mas os dois se identificam com a política, tanto o pai quanto o filho?
Edsom – Sem dúvida nenhuma, minha mãe gosta muito também, faz política o dia inteiro, é preocupada, a gente senta pra almoçar, ela óh, teve fulano na loja, precisa que a máquina chegue lá ou que foi na saúde e faltou medicamento, não foi bem atendida, ela tá sempre, 24 horas por dia ela preocupada, sempre, sempre, até hoje. Eu sento com ela pra conversar, primeira coisa que ela fala é que tem que atender fulano, ciclano e beltrano que faltou isso e aquilo, então, 70% que nós conversamos é vendo a necessidade da população, não desliga um minuto.
JdeB – Seu pai sofreu vários acidentes de carro, o senhor era jovem, ficou algum trauma na sua vida? Qual foi o mais complicado?
Edsom – Um acidente que houve com mãe e filha, que foi fatal, eu estava em Curitiba e eu, me recordo muito, ouvi pelo rádio, foi uma coisa assim, não tinha muito contato por telefone, até me emociono quando falo isso aí, porque eu ouvi pelo rádio um acidente trágico no Sudoeste do Paraná e o nome do meu pai. Falei, meu Deus do céu. E não conseguia contato. Hoje a gente tem toda essa estrutura que naquela época não tinha. Eu acabei ouvindo pela imprensa um acidente e não se sabia como estavam, não tinha dados específicos, foi muito marcante, isso aí até hoje eu me recordo como foi bem complicado, da pessoa ver isso tudo e muito distante não conseguia acompanhar, foi bem marcante, mas, graças a Deus, nós aqui, meu pai saiu desse acidente.
JdeB – Casou em Curitiba?
Edsom – Casei aqui em Pérola D’Oeste, mas eu jogava futebol aqui no Pato Branco, estava jogando e a família, na época dessa outra esposa que eu tive, estava indo embora pra Mato Grosso, então foi uma coisa muito rápida e naquela idade separar, enfim, 19 anos, a gente optou por casar, mas como foi precipitado acabou não durando muito tempo mesmo, foi uma coisa assim de jovem, de piá precipitado.
JdeB – E a Karoline apareceu como na sua vida?
Edsom – Olha, essa é uma história que deveria até ela contar, ela conta e até se emociona muito, sabe. Eu vinha de tempos em tempos para Pérola D’Oeste, vinha visitar a família, e foi assim, um dia em que fomos num enterro lá no cemitério e ela acabou me vendo e eu não vi, eu estava participando, enfim, uma senhora de idade que acabou falecendo pelas vias naturais, pela idade, e ela me viu e disse que ficou um bom tempo querendo saber quem era, da onde que veio e principalmente pra onde que foi, e eu acabei sumindo e ela ficou sempre me procurando, e quando eu retornei, dois meses após eu retornei pra Pérola, como sempre foi tradição a cada dois, três meses voltava pra ver a família, e sentado aqui numa pracinha, ela acabou me vendo novamente e foi conversar com um amigo dela, colega de aula, de classe, perguntar, queria saber quem era que estava sentado lá, queria que apresentasse e, por uma feliz coincidência, ela estava falando com meu primo, e daí falou quem eu era e, segundo ela, disse que ela insistiu pro pai dela pra ir estudar em Curitiba com o objetivo maior de me encontrar, de reencontrar. Eu até lembro de um fato muito interessante que eu desço do prédio ali na 7 de Setembro, em Curitiba, pra ir pro trabalho, sempre fiz o mesmo horário, chegava, saía, enfim, aquela rotina, e dei de cara com ela, na portaria, ela disfarçou e disse que ia visitar uma amiga dela ali, na verdade já fazia mais de 30 dias que ela vinha todo dia ali e ficava me observando. Então, começou assim, sabe, mas é bem bacana, a Karolina é muito persistente, ela é muito determinada, sabe, as coisas tem que ser pra ontem e quando ela quer ninguém tira da cabeça, corre muito atrás do que ela quer, é muito determinada e isso tudo acabou me dando uma rasteira e fazendo eu casar novamente aos 30 anos.
JdeB – Essa parte de casamento está resolvida, então?
Edsom – Sem dúvida nenhuma, graças a Deus, nossa, eu tenho um dito popular que você tem que sair bem de casa pra fazer as coisas. Eu, graças a Deus, vivo um momento bem bacana, muito feliz com minha família, moro do lado do meu pai e da minha mãe, isso é muito bom, é um porto seguro, é tua referência. Quem tem, muitas vezes não sabe valorizar, só na perda que tu dá valor, mas eu tenho tudo que eu preciso, o pai e a mãe do lado, tenho debaixo da saia, como se diz, porque moramos praticamente juntos, na mesma estrutura, tem a minha esposa com meus dois filhos, e isso de levantar cedo e todo dia e sair correndo é a melhor coisa do mundo, não tem preço. Hoje estou bem amparado, bem ancorado, isso me dá força e energia pra, sabe, que na vida pública tu não recebe muito elogio, é mais realmente a cobrança, a crítica, a exigência, e os adversários a gente não pode levar pro lado pessoal, a política é um jogo e cada um de nós quer sentar na cadeira e independente das formas como chega, eu hoje tenho um momento difícil em termos, assim, de político no local que a gente tem uma divergência muito grande, mas eu entendo com naturalidade. E esse conforto que eu tenho em casa é que me dá condição e energia pra chegar todo dia e trabalhar.