18 C
Francisco Beltrão
sexta-feira, 06 de junho de 2025

Edição 8.220

06/06/2025

Prefeito luiz fernando bandeira

Arcelino e Elizabeth Bandeira vieram de Carazinho, no Rio Grande do Sul, em 1955, já com uma filha, Maria Salete. Em 1956, morando na comunidade de Rio Verde, Marmeleiro, Elizabeth engravidou do segundo filho, Luiz Fernando. Mas, como seus avós moravam em Carazinho, ela foi para lá e Luiz nasceu naquele município. Em 1959, nasceu o terceiro filho, Mário; em 1961, o Mauro Bandeira (em memória). Arcelino trabalhava numa serraria no Rio Verde junto com seu irmão Assis Bandeira. Passados uns dois anos, Arcelino mudou para a cidade de Marmeleiro, onde criou seus filhos.

Luiz teve a infância toda em Marmeleiro. Estudou no Colégio das Irmãs, hoje Escola João XVIII. Também cursou o 2º grau no Colégio Estadual Telmo Müller e começou o comércio no colégio hoje D. Pedro. Em 1979, Luiz casou com Marilene Perin Bandeira, com quem tem três filhos: Guilherme, 29 anos; Fernanda, 27; e Daniel, 24. E tem dois netos: João Gabriel, de dois anos e meio, e Clara, de um.

Embora fosse sobrinho de um prefeito de Marmeleiro (Assis Bandeira) e primo de outro (Jairo Bandeira), Luiz nunca tinha se envolvido em política. Até a eleição de 2008, quando concorreu pela primeira vez e já de cara se elegeu prefeito do município. Empresário de muitos compromissos, acreditava que iria atender suas empresas e a prefeitura. Passados dois anos e meio, ele admite que a administração municipal lhe exige dedicação integral. Mas Luiz se sente tranquilo porque os filhos estão dando conta dos negócios da família.

- Publicidade -

Homem organizado, na noite anterior a esta entrevista, o prefeito escreveu algumas respostas. E depois respondeu mais algumas perguntas. Sempre tranquilo, de fala mansa, entre uma cuia e outra, contou mais passagens de sua vida.

 

JdeB – E o seu gosto por viajar, quando surgiu?

Luiz Bandeira – Meu pai, Arcelino, era caminhoneiro e, como a gente vivia numa cidade muito pequena, eu achava o máximo viajar e conhecer centros maiores. A maior felicidade era quando tinha férias para viajar com o pai e, automaticamente, vendo aquilo, a gente foi tomando gosto para ser motorista de caminhão e não via a hora de completar 18 anos para fazer a carteira de motorista e começar a viajar. E foi isso que aconteceu, quando fiz 18 anos, meu pai não viajava mais, pois tinha vendido os caminhões e adquirido terras, nas quais trabalhou até seus últimos dias de vida. Meu pai fez sociedade com um primo, Edemar Bandeira, e compraram um Mercedes 1113 ano 1974, no qual comecei a viajar. Na época, minha carteira nem era para caminhão. Trabalhei uns dois anos com aquele caminhão e, em 1976, o senhor Giácomo Perin me ofereceu, para trabalhar para ele, uma carreta. O sonho de qualquer motorista, naquela época, era dirigir carreta, por isso não precisou falar duas vezes. Trabalhei durante um ano puxando combustível de Paranaguá para Marmeleiro, um ano após comprei um caminhão junto com seu Giácomo, que depois viria a ser meu sogro, e daí em diante fomos trabalhando e, graças a Deus e à minha família, fomos crescendo nesse ramo de transporte.

 

JdeB – Uma característica sua é o otimismo.

Luiz Bandeira – Sempre fui uma pessoa otimista, não gosto da palavra “não”, porque acho que quando você faz a coisa com amor e dedicação e sempre respeitando os outros, não tem porque não dar certo. É lógico que na vida você erra, mas só erra quem tenta acertar. E eu, nestes anos de minha vida, sou uma pessoa muito feliz porque tenho uma família unida e, além de unida, todos são muito responsáveis e trabalhadores. Meu filho mais velho, Guilherme, com 16 anos foi morar em Cuiabá para estudar e cuidar da nossa transportadora, que já tínhamos uns caminhões que trabalhavam lá no Mato Grosso, e hoje mora em Rondonópolis, onde temos uma transportadora. Minha filha Fernanda, que é arquiteta, hoje mora no Paraguai, e o mais novo, Daniel, em Marmeleiro, ele cuida das lavouras e do posto de combustíveis.

 

JdeB – Qual a sua lembrança mais antiga de Marmeleiro?

Luiz – Ah, de tudo aqui a gente lembra, porque meu pai, inclusive, sempre morou do lado da igreja. Isso aqui era tudo mato, campo de futebol, tinha poucas casas. A gente lembra de tudo, brincava, corria, tomava banho nos rios, Santa Rita, ali que hoje é cidade, tá tudo diferente, mas na época, imagina. O colégio era pertinho também, fui coroinha na igreja. A gente tinha muita ligação, porque antigamente o pessoal era mais unido, mas talvez não é porque é mais unido, porque tinha menos gente. Também não tinha muito o que fazer.

 

JdeB – Era de pegar espinho no pé também?

Luiz – Ah, sim, sem dúvida nenhuma. Era mato praticamente, quando começou aqui. Somos mais velhos que o município de Marmeleiro, então tu imagine!

 

JdeB – E as brigas com os amigos, como que eram?

Luiz – Brigava num dia e no outro já tava bom. Brigava por jogo de futebol, brincadeira, no colégio também. Coisa de piazada, coisa normal que acontece na vida de todo mundo.

 

JdeB – O senhor disse que não via a hora de completar 18 anos pra fazer carteira de motorista, mas começou a mexer com caminhão antes ainda?

Luiz – Meu pai se criou com caminhão, e caminhão era o sonho de todo mundo na época, porque o cara que tinha, que era motorista de caminhão, Deus o livre, ia num bar, chegava chacoalhando a chave do caminhão pra mostrar (risos). E como a gente morava numa cidade pequena, saía pra conhecer alguma coisa, era diferente, não tinha asfalto aqui, não tinha nada. Quando eu comecei a viajar, o asfalto era lá em Pato Branco.

 

JdeB – Seu pai deixava mexer no caminhão?

Luiz – Deixava, o pai sempre foi muito enérgico com nós, mas ele sempre deixou nós trabalhar, porque nós sempre trabalhamos desde os 10 anos; a gente ia junto. Depois ele comprou uma terra, nos anos 70 mais ou menos, tinha que trabalhar a terra a muque, e arrancar raiz, e juntar (nó de) pinho, tudo isso ele fazia a gente fazer junto.

JdeB – E o seu relacionamento com os irmãos, como era em casa?

Luiz – Muito bom, graças a Deus. Tinha aquelas briguinhas entre irmãos, mas era normal. Até hoje, graças a Deus, somos uma família sadia, sem dúvida.

 

JdeB – E sua participação na política, como começou?

Luiz – Quanto à política, sempre vivi em Marmeleiro, tive o tio prefeito Assis Bandeira e também o primo Jairo Bandeira. Eu não participava muito da política, porque viajava por um longo período, mas nos últimos anos comecei a participar mais da política em Marmeleiro, e entre reunião e outra, me lançaram candidato a prefeito. No começo não foi fácil, porque tinha muitos obstáculos, tanto na família quanto na política do município, mas, depois de muitas reuniões, conseguimos reunir um grupo, e como vi que estavam separados politicamente, resolvi aceitar. Daí partimos para uma campanha na qual, eu e meu vice (José Ivanir) Pilatti, visitamos quase todo o município, de casa em casa, dizendo e explicando a nossa vontade de ser prefeito, e o povo entendeu nossa mensagem e nos elegeu. Daí, então, o compromisso com a população. Acho que estamos dando conta do recado e claro que, na política, nem tudo que a gente quer fazer pode, pois temos leis para ser seguidas, mas temos nos esforçado em nosso município, por isso estou muito tranquilo. 

 

JdeB – No seu tempo de garoto, o seu tio Assis Bandeira era prefeito. Que lembrança tem dele, como prefeito?

Luiz – Muito boa. Meu tio Assis felizmente eu não vejo ninguém falar mal dele aqui em Marmeleiro. Ele sempre foi uma pessoa muito dada, foi no começo de Marmeleiro. Eu tenho uma lembrança muito boa dele, porque até hoje quem fala o nome dele, fala com orgulho.

 

JdeB – O senhor falava com ele?

Luiz – Demais, nossa! Além de tio, meu pai sempre trabalhou junto com ele. Junto em termos, né, porque ele era o que tinha mais posses, e o meu pai menos, então meu pai sempre dependia um pouco dele, às vezes, mas no normal tinha contato direto.

 

JdeB – Ele era muito brincalhão com os amigos, e com as crianças, era de aprontar com as crianças também?

Luiz – Sem dúvida nenhuma, ele sempre foi muito alegre, muito contador de piada, contador de causo, e ele era muito brincalhão, e acho que era por isso que ele se dava bem com todo mundo. Ele era uma pessoa muito divertida.

 

JdeB – Quando garoto, imaginava um dia se tornar político?

Luiz – Eu, de político mesmo não pensava de ser, mas como aqui é um lugar pequeno, a gente convivendo com o pessoal, e daí começou aquele negócio de “vai, vai, vai ser prefeito!”. E eu acho que nem tudo na vida é material, a gente pode pelo menos tentar fazer alguma coisa que possa ajudar um município como o nosso. Daí eu comecei a pensar, e os meus filhos começaram já ajudando, tão trabalhando, tavam crescendo, eu digo: “Talvez seja a hora agora de nós tentar fazer alguma coisa”.

 

JdeB – Como o senhor vê essa condição da família Bandeira, de ter mais nomes na política de Marmeleiro?

Luiz – Isso daí acho que acontece normal, porque o meu tio veio com essa firma lá no Rio Grande, a Perseverança, depois passou a Dambros e Piva, era uma firma forte no ramo madeireiro, era a maior firma que tinha na cidade. Então, numa cidade pequena, uma pessoa que era diretor de uma firma, automaticamente ele veio a ser prefeito, tinha uma liderança, conhecimento, coisa e tal. E assim, como ele foi prefeito duas vezes, depois o Jairo foi prefeito, eu é que tô mais metido nisso aí, porque não era da minha alçada, mas afinal de conta, morando num lugar que nem o nosso, não é difícil você se meter em política, porque, queira ou  não, tá envolvido com os negócios aí.

 

JdeB – E a vida de empresário começou cedo.

Luiz – Começou cedo. Não vou dizer que a gente começou antes dos 18 anos porque não é tanto, mas eu comecei a me virar por conta quando fui trabalhar com meu sogro. Não que eu saí do meu pai, mas eu vi que meu pai me segurava um pouco e eu tinha vontade de me soltar. Comecei a trabalhar fora e fui tentando se tinha possibilidade de adquirir alguma coisa. Comprar e pagar trabalhando e, graças a Deus, o que nós fizemos até hoje não deu problema. Claro, a gente sabe que nem tudo dá certo, mas só quem erra é que tenta acertar. Mas entre erros e acertos, foi muito mais acertos do que erros.

 

JdeB – Seu namoro com a Marilene também começou cedo?

Luiz – Quando comecei a namorar minha esposa, ela tinha 15 anos e eu, 18, e nós casamos quatro anos depois. Somos casados há 32 anos e nesse período sempre trabalhamos juntos e construímos uma família e uma história de vida com a qual me sinto feliz.

 

JdeB – E a decisão de ter três filhos? As famílias de hoje têm um, dois. Foi uma decisão sua, da sua esposa, dos dois?

Luiz – Olha, talvez até junto, a gente não se programou muito, no começo aconteceu, e depois foi dando continuidade, mas afinal de contas, naquela época, um casal que nem o nosso era dois, três filhos. Graças a Deus, deu tudo certo, estão todos aí. Mas também aqui não tinha, em Marmeleiro tu ia fazer o que quando piá, com 18 anos? Era namorar, sair era difícil pra gente também, porque a gente não tinha muitas condições. Muita gente saiu daqui pra estudar fora, eu não consegui porque meu pai não tinha condições de deixar nós parado estudando fora, porque tinha que estudar em Curitiba, além do segundo grau não tinha na nossa região. Então o pessoal ia muito pra Curitiba, e eu fui pra lá até fiquei dois, três dias, e quando vi que o negócio lá não era muito fácil pra trabalhar, estudar e se manter lá, digo “vou voltar pra Marmeleiro, e vou continuar minha vida lá”.

 

JdeB – O senhor pode fazer uma comparação do seu tempo e agora? Da juventude, quem bebe mais, naquele tempo ou agora?

Luiz – Olha, tudo depende das análises que você fizer, porque na época tinha menos, eram mais sadias as brincadeiras, as festas eram mais sadias, era mais festa de colono, não tinha tanto carro, não tinha asfalto e essas loucuras que tem hoje. Tinha as festas que fazia, o pessoal fazia as festas, mas a bebedeira sempre teve, bebida, álcool, essas coisas sempre aconteceram, como acontece hoje. Talvez naquela época fosse mais sadio, só um pouco diferente de hoje. Pinga com coca, porque uísque era mais caro (risos). Gim e tônica já era pros mais ricos (risos). Nós dava graças a Deus quando chegava um final de tarde assim que nós ia num bar e pedia uma caipira, e mortadela picada com queijo e mostarda. Tava rico aquele dia! (risos).

 

JdeB – E a escola, como era encarada, como uma obrigação?

Luiz – Olha, eu nunca tive. Era quase que uma obrigação, eu nunca tive, não é que eu não tive simpatia, eu não era muito ligado em estudar, tanto é que eu parei, só fiz o segundo grau completo e depois parei, mas parei um pouco pela dificuldade de estudar fora, e outro pouco porque eu já não era muito ligado, não me prendia muito em uma sala de aula. Mas quando eu estudei, sempre tive nota boa. Porque era obrigado a ter, senão o pau pegava (risos).

 

JdeB – E hoje torce pra algum time?

Luiz – Lá em casa, quando meus piás nasceram e começaram a entender, ter uma noçãozinha, foi numa fase boa que o Corinthians teve, depois pra ajudar eles eu acabei torcendo mais pro Corinthians também. Mas eu do Rio Grande acabei torcendo pros dois times também. Uma vez torcia um pouco mais pro Grêmio, uma vez o pessoal aqui torcia um pouco mais pros times do Rio Grande, mas também gosto um pouco do Coxa, do Coritiba.

 

JdeB – O senhor é uma pessoa até hoje realizada?

Luiz – Realizada, acho que Deus foi muito bom comigo, porque deu tudo certo. Claro que, sem dúvida nenhuma, tem coisas aí no dia a dia que… mas isso faz parte, é normal, nem tudo pode dar tão certo assim. Mas eu, graças a Deus, sou muito feliz no que estou fazendo e faço as coisas com vontade, com amor, e acho que isso ajuda também.

 

JdeB – E como prefeito nestes dois anos e meio, já realizou aquilo que o senhor imaginava?

Luiz – Olha, quando se faz uma campanha, tem um plano de governo, eu tô tentando cumprir aquele plano, mas a gente não pode se ater a tudo que tá no papel. Eu, é claro que tô falando por mim, acho que eu consegui muito mais coisa do que eu sonhava, tinha coisa que eu nem sonhava que eu ia conseguir pra prefeitura, e Marmeleiro, queira ou não, não tô criticando ninguém, mas teve um tempo que era meio parado, que parecia que as coisas não aconteciam, não sei se na visão da gente. Mas, se Deus quiser, até o final do meu mandato, nós vamos ter muita coisa boa acontecendo em Marmeleiro.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques