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Francisco Beltrão
sexta-feira, 30 de maio de 2025

Edição 8.215

30/05/2025

Professor Antônio Batista: Superação e gratidão

Eu inventei uma manobra para engolir o alimento líquido. Acho que vou patentear esta manobra, porque deu certo!

O casal Antônio e Terezinha no Recanto do Guerreiro

Antônio Batista
Na tarde de domingo passado pedalei morro abaixo, lá da Linha União da Serra, lá da casa do meu companheiro de lutas, Seu Rieger, passando pela Cantina do José, Bairro Borba, e chegando no meu jardim aqui em casa.

Na semana anterior desci lá do Pesque e Pague, do Serginho Reisdoerfer, perto do trevo de Flor da Serra do Sul, até a minha casa, pedalando muito nesta linda paisagem. Na mesma semana, nadei na piscina do Clube São Francisco, aqui em Salgado Filho, atravessei a piscina mais comprida mergulhando. Aliás, cronometraram o tempo que fiquei submerso, quase dois minutos e meio! Não, não sou um atleta. Sou só um sobrevivente!

Estas e outras pequenas façanhas se revestem de importância crucial para a minha pessoa, já que venho de um longo período de enfermidade. Primeiro, foi o câncer no pescoço, ombro, garganta. Várias cirurgias, radioterapia… Tempos difíceis, mas sobrevivi e venci a doença!

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Voltei a trabalhar na escola por vários anos, mas depois comecei a adoecer novamente e só fui piorando. Pneumonias cada vez mais frequentes e avassaladoras. Febre, fraqueza extrema, infecção generalizada. Por várias vezes recebi a visita do sacerdote e fui preparado para a partida. Mas Deus não me queria lá ainda, queria aqui neste mundo, junto com minha amada família e muitos amigos que cativamos.

Então, na hora difícil, sempre tinha alguns anjos ao meu redor, me socorrendo: médicos, enfermeiras, técnicos de enfermagem, bons motoristas, cuidadores, familiares… Acabamos descobrindo que as sequelas da radioterapia foram se agravando, e cada vez que eu me alimentava, caía uma sujeirinha de comida no pulmão, a tal da broncoaspiração. Tratava a pneumonia, melhorava um pouco, me alimentava e já contaminava novamente o pulmão. Que barbaridade, né?

Daí fizemos uma experiência, uma sonda nasogástrica para me alimentar. Nada pela boca por uns três meses. Pronto. Cessaram as infecções pulmonares. Daí inventaram de colocar uma sonda jejuno, para introduzir o alimento líquido direto no intestino. Não deu certo. Não funcionou mesmo. A sonda obstruía constantemente; diarreia o tempo todo; fraqueza extrema; infecções no pós-operatório. Desta vez estive muito perto do óbito.

Sempre fui um paciente muito querido e obediente, esperançoso. Depois fiquei sabendo que causei comoção na equipe médica e de enfermagem no momento em que parecia que eu estava indo. Mas não fui! Nestes dias bem difíceis de internamento, tive a melhor demonstração de apoio, carinho, solidariedade, quando se formou uma lista de escala de muitos homens, amigos e familiares, colegas de trabalho, vizinhos, para me cuidar na enfermaria 101 do Hospital do Câncer de Francisco Beltrão, pois eu já estava totalmente prostrado, sem forças para me levantar e percorrer os dois ou três metros até o banheiro.

Então abriram novamente a minha barriga, e implantaram uma sonda direta no estômago e passei a me alimentar só por ali, definitivamente. Demorei uns dois anos para me adaptar a isso e me fortaleceu, mas nunca mais tive infecção pulmonar. Às vezes dizia pra minha amada Tere, a esposa que também teve câncer, como seria bom se pudesse fazer ao menos uma refeição por mês pela boca. Então comecei a arriscar. Alimentação líquida pela boca, com extremo cuidado. Aí eu mesmo inventei uma manobra para engolir o alimento líquido. Acho que vou patentear esta manobra, porque deu certo! Me alimento de líquidos bebíveis, numa caneca, pode ser qualquer alimento, mas líquido. Tomo uma canecada e preciso escarrar, cuspir fora o que sobra na boca e imediatamente lavar a boca. Ao final do terceiro ano, o meu oncologista resolveu tirar a sonda gástrica e passei a me alimentar só pela boca, mas só líquido.

Agora faz um ano que isso aconteceu e o pulmão está cada vez melhor e meu estado geral também. Continuo fazendo intenso tratamento de fonoaudiologia e fisioterapia para buscar mais avanços ainda. Quem sabe um dia volte a me alimentar de sólidos. Mas enquanto isso, sigo bebendo muito café, bebo churrasco, bebo camarão, bebo tudo que possa ser triturado no meu liquidificador.

A propósito, essas lutas já duram quase 14 anos e nesse tempo vivi muita coisa boa, por isso tudo é que o resumo disso tudo é superação e gratidão! Então agora vocês podem imaginar a importância que tem para mim uma simples caminhada, pedalada, mergulhada ou um xote ou forró que danço com a minha amada Tere. E viva a vida!

OBS – A propósito, agora quero fazer um rapel bem alto. Antigamente fiz rapel e domino a técnica. Se for convidado por alguma equipe boa, que tenha boa segurança e equipamentos confiáveis, encaro até 100 metros de paredão.

Professor Antônio Batista
Salgado Filho

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