As pesquisas procuraram desvendar os embates que resultaram na morte do Tenente Camargo, na época membro do Exército em Francisco Beltrão.

O professor Leomar Rippel, que leciona no Cesul as disciplinas de Sociologia Geral e do Direito, Ciência Política e Teoria do Estado e Economia Política, para os cursos de Direito e Administração, concluiu o seu doutorado em História pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) – Campus de Marechal Cândido Rondon, na linha de Pesquisa História e Poder.
Os estudos no doutorado duraram quatro anos, entre 2016 e 2020 e, segundo o professor, a motivação principal foi tentar entender alguns questionamentos. “O trabalho teve como objetivo realizar uma análise sobre a Operação Três Passos, ocorrida em março de 1965, no Sul do Brasil, quando um pequeno grupo de pessoas exiladas no Uruguai decidiu sair de Montevidéu e iniciar um movimento contra os militares que haviam deposto o presidente João Goulart, no Brasil, em 1º/4/1964. A problemática em torno desse episódio começou a existir a partir de 2005, quando eu era militar do Exército Brasileiro (EB), no 16º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, em Francisco Beltrão. Na ocasião, tive acesso a uma série de documentos, de 1965, que pertencia a 1ª Companhia do 18º Regimento de Infantaria (1ª/18º RI) e que tinha a sua sede na cidade de Francisco Beltrão. A referida documentação compunha-se de relatórios de operação, radiotelegramas e boletins internos referentes à interceptação dos integrantes da Operação Três Passos, realizada pela Companhia”.
O professor comenta que essa história lhe chamou à atenção. “As ações do grupo começaram na cidade de Três Passos (RS), atravessando os estados de Santa Catarina e do Paraná; o 3º Exército determinou o envio de 12 pelotões de vários quartéis do Exército do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, um pelotão da Polícia Militar de Santa Catarina e um pelotão da Polícia Militar do Paraná no intuito de interceptá-lo. Já a 1ª/18º RI, por determinação do 3º Exército, enviou dois pelotões para Realeza, sendo que um deles se deslocou no itinerário compreendido entre Barracão, Santo Antônio do Sudoeste e Pérola D’Oeste, e outro percorrendo o itinerário entre Ampere a Realeza. Ao se encontrarem, em Realeza, foram fundidos em um único pelotão sob um só comando, deslocando-se em direção a Cascavel atrás do grupo rebelado. Em Capitão Leônidas Marques o pelotão teve contato com o grupo, resultando num confronto armado entre as tropas do EB e os integrantes da Operação Três Passos. Nesse confronto morreu o 3º sargento Algemiro de Camargo, pertencente a 1ª/18º RI”. O professor Leomar comenta, ainda, que durante os anos em que serviu no 16º Esquadrão era comum os militares comentarem que “o sargento Camargo teria sido morto não pelos integrantes da Operação Três Passos, mas sim pelos próprios companheiros”.
E foi esse fato que o fez pesquisar sobre o assunto. “O desejo de estudar o movimento aumentou quando, poucos meses após o contato com aquela documentação, o comandante do 16º Esquadrão determinou para que o capitão Rômulo, o sargento Zatta e eu realizássemos a exumação dos restos mortais do Tenente Camargo, que se encontravam no cemitério municipal de Francisco Beltrão, e os levássemos para as dependências do quartel. Porém, tivemos que adiar por mais alguns anos o estudo em torno da referida operação, pois a documentação de que dispúnhamos não dava conta de compreender o movimento em sua totalidade”, enfatiza o professor.
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A situação começou a mudar quando conseguiram uma série de fontes jornalísticas e que fizeram a cobertura do movimento na época. “Além da imprensa, utilizamos como principal fonte de pesquisa o processo crime 335/1965 que julgou os integrantes da Operação Três Passos. Esse processo está disponível no Superior Tribunal Militar (STM), de Brasília. Nesse sentido, elaboramos o projeto e o submetemos à linha de pesquisa. Além disso, entrevistamos alguns integrantes que participaram da operação, fato que muito nos ajudou”.
O professor Leomar salienta a satisfação com a conclusão do doutorado. “Foi um tempo de muito estudo e pesquisa, mas que valeu a pena. É um sentimento de dever cumprido, de poder contribuir com a nossa tese para a história e também poder ofertar ainda mais conhecimento aos estudantes”.