Situação das famílias que moravam em área insalubre foi resolvida em 2010.

O projeto de resgate histórico “Memórias do Cabo Dito” faz parte da dissertação de mestrado do historiador Rafael Baldin, mestrando no programa de pós-graduação em História, da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS). O historiador pretende trazer à luz os anônimos personagens de um capítulo da história, da qual Pato Branco não se orgulha: as mazelas sociais, núcleos de habitações urbanas, com famílias fragilizadas, vulneráveis, como foi a favela do Cabo Dito, no Bairro Vila Esperança.Rafael destacou que sua dissertação é baseada na “Escola dos Annales”, que lança um olhar para os personagens que a história esconde.
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“Vamos falar de anônimos que, com seu trabalho, também foram agentes do processo de construção socioeconômica dos ambientes que viveram.” Núcleos de habitação em que se observa a ausência dos mais comezinhos direitos da pessoa humana; miserabilidade, ausência do Estado, saneamento básico, alta densidade populacional.
Glamour das cidades
O trabalho do historiador traz um glamour que as cidades preferem esconder, e que o escritor brasileiro Aluísio de Azevedo bem retratou no romance “O Cortiço”, publicado em 1890, integrando o movimento naturalista do Brasil. A obra, no mundo da ficção, retrata a vida das pessoas de um cortiço no Rio de Janeiro, com visão crítica, numa transcrição perfeita da realidade brasileira no século 19.Inspirando-se na obra como referência apenas para o jornalista que escreve esta reportagem, o trabalho do historiador Rafael Baldin, nascido em Pato Branco, vai dar vida aos personagens anônimos do “cortiço” pato-branquense.
Naquela época, a sociedade local sequer referia-se à “Vila do Cabo Dito”, como um cortiço.Criada em 1968 pelo policial militar aposentado Cabo Dito, a favela sobreviveu até 2010, quando a Prefeitura de Pato Branco deu um fim ao local, protagonizando um trabalho de realocação social das famílias. Era um espaço de pouco mais de mil metros quadrados, propriedade do Cabo Dito, que construiu uma série de barracos na área, que passou a alugar para famílias vulneráveis, que não tinham condições de ter uma moradia digna.
A área era absolutamente insalubre, num terreno alagadiço, que conhecemos como banhado, sem água, esgoto ou qualquer infraestrutura urbana. Ali chegaram a morar, no auge, 28 famílias, com dezenas de crianças de 0 a 10 anos e idosos.
O cortiço
Era o “cortiço”, da obra de Aluísio de Azevedo, que para a cidade era apenas a “Favela do Cabo Dito”. E para contar esta história com a maior realidade possível, o historiador pede ajuda da comunidade. “Faço um apelo às pessoas que conheceram este capítulo da história de nossa cidade para que me ajudem a contá-lo, entrando em contato com a gente pelo telefone 9-9911-5392.” Estes depoimentos serão muito importantes, inclusive com o resgate de fotos ou qualquer outro documento existente.