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domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Prova do PSS tem 12,74% de abstenção

Professores denunciaram aglomerações em alguns locais de prova e falta de ventilação

Professor de Filosofia, Denner Wynderson Weber, de 36 anos, realizou a prova no Colégio Mario de Andrade,

em Francisco Beltrão, onde disse faltar ventilação adequada.

Após decisão judicial, a prova do Processo Seletivo Simplificado (PSS) ocorreu domingo, 10, em 30 municípios do Estado do Paraná. Segundo a Secretaria de Educação e do Esporte do Paraná (Seed), o processo ocorreu “com tranquilidade”, com participação de mais de 34,3 mil candidatos e 12,74% de abstenção em todo o Estado. Professores que participaram da prova, no entanto, denunciam que protocolos para impedir avanço do coronavírus não foram seguidos corretamente.

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Alvo de ações judiciais, a prova do PSS só foi mantida após a 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) e a 5º Vara da Fazenda Pública de Curitiba decidirem pela sua aplicabilidade, negando o recurso interposto pelo Ministério Público, que pedia o adiamento devido ao aumento de casos de coronavírus, e a uma ação da APP Sindicato, pelo mesmo motivo.

Ao todo, foram 198 locais de prova. Os candidatos, que concorrem a vagas de professor temporário da rede estadual neste ano letivo, tiveram 2h30 para concluir a prova, caso tivessem optado por uma disciplina, e quatro horas, se optado por duas. São quatro mil vagas, mas a perspectiva é que até o fim do ano elas cheguem em 20 mil, com salários que podem chegar a até R$ 3.720.

 

Calor excessivo e aglomerações
Para aplicar a prova, o Cebraspe, empresa responsável pelo certame, elaborou um protocolo para evitar a contaminação por coronavírus entre fiscais e candidatos. Apesar disso, professores inscritos no PSS questionaram as medidas, dizendo que algumas foram insuficientes para conter aglomerações, o que aumentou o medo de contrair o vírus.

 

 

Salete Chocailo tem 42 anos e é professora de História. Em meados de dezembro de 2020, seu filho, de um ano e dois meses, contraiu a doença, quando precisou se isolar com ele. Ela não contraiu o vírus, mas lembra do medo que o diagnóstico positivo do filho lhe trouxe, o que voltou à tona quando realizou a prova.

“Logo ao me aproximar do colégio percebi uma grande aglomeração de pessoas, que vieram de várias cidades pertencentes ao Núcleo Regional de Dois Vizinhos (…) Quando entrei foi aferida a temperatura e na entrada da sala tinha disponível álcool, porém dentro da sala as carteiras estavam a menos de um metro de distância, onde não seguia os protocolos. Não senti segurança, pois várias vezes a fiscal retirava a sua máscara”, conta Salete, que realizou a prova no Colégio Leonardo da Vinci, em Dois Vizinhos. “O meu medo fazendo a prova foi contrair o vírus e contaminar meus familiares que amo tanto.”

Além do filho de um ano e dois meses, Salete vive numa casa nos fundos da casa dos pais, que têm mais de 80 anos – grupo onde ocorrem a maioria das mortes por Covid-19 – e tem um irmão com deficiência, de 55 anos. Por estar desempregada desde maio, a prova era uma alternativa para voltar ao mercado e criar uma renda, perdida durante toda a pandemia.

“Ser professor PSS não é sonho de ninguém, é uma necessidade momentânea, até que seja realizado concurso público que possa me dar estabilidade no trabalho. Mas enquanto não tenha um concurso permaneceria como professora PSS”, diz.

Caso não consiga, ela planeja abrir algo próprio com as economias. Seja em panificação ou em produção de massas: uma rotina bem diferente do que tinha em sala de aula.

 

Francisco Beltrão
Professor de Filosofia, Denner Wynderson Weber, de 36 anos, realizou a prova no Colégio Mario de Andrade, em Francisco Beltrão. Ali, segundo ele, o problema foi a falta de ventilação adequada. “A gente teve os requisitos: medir a temperatura do candidato que iria fazer a prova, havia o distanciamento, no entanto, com o calor, e com as janelas pequenas para a abertura, houve pouca ventilação. Estava muito abafado dentro das salas. Isso dificultou”, disse Denner.

Antes da prova, e em grupos de WhatsApp, Denner disse que professores com coronavírus e com baixos sintomas também cogitavam fazer a prova, já que não haverá outra aplicação que permita que candidatos contaminados participassem do certame. Um ato, na visão de Denner, desesperado, que colocaria em risco aos outros a fim de manter uma condição mínima. “E isso foi uma imposição que o governo nos colocou, uma imposição porque nós precisamos das aulas para sobreviver. É caso de sobrevivência”, defendeu.

Denner é contrário à prova PSS e desde o ano passado apoiou protestos pedindo seu cancelamento. Para ele, há uma “hipocrisia” do Estado em cobrar prova para professores, quando ensina os professores que toda “avaliação deve ser continuada”. A própria forma com que a prova foi aplicada, num período de pandemia, em que o psicológico pode estar afetado, somado ao medo do contágio e o mal-estar que a pouca ventilação ofereceu, também são elencadas por Denner como agravantes capazes de colocar em xeque a avaliação.

“A prova não prova nada. Pode acontecer que alguém não esteja bem. Porque veja, num clima de insegurança que estamos, alguns professores sentem mais, tem professores que sentem menos. Tem professores que talvez estejam em situações drásticas por causa da Covid. Com certeza o psicológico desse professor já sai abalado, e tudo isso vai prejudicar o resultado da prova. E eu posso, a partir dessa prova, nessas circunstâncias que esse professor estava, que ele está vivendo, dizer se ele é um bom professor ou não? Porque é isso que a prova faz.”

Seed fala em casos pontuais
Procurada, a Seed disse que a prova transcorreu com tranquilidade nos 198 locais de prova do Estado e que “casos pontuais de filas foram relatados e rapidamente resolvidos pela organização da prova”.

De acordo com a pasta, as filas ocorreram devido aos candidatos que chegaram fora do horário previsto – o Cebraspe havia organizado quatro grupos escalonados para entrada nos locais de prova.

Sobre a ventilação, a pasta disse que: “foram selecionados locais com amplas janelas para favorecer a circulação de ar. As janelas permaneceram abertas durante todo o período de aplicação de provas, condicionada aos fatores climáticos. O uso de aparelhos de ar condicionado foi proibido”.

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