A discussão volta à tona após o Reino Unido preocupar-se com a magreza excessiva.
A balança como pesadelo. Em abril deste ano, até mesmo a França, berço da moda, aprovou uma lei contra a magreza excessiva para modelos de passarela e de campanhas publicitárias. Estão previstas punições como multas e prisão de agentes que contratarem ou incentivarem modelos magras demais. O mesmo acontece na Itália, Espanha e Israel. O parlamento britânico também estuda limites de massa corporal para as modelos e pretende transformar isso em lei. Assim, as agências que contratarem modelos magras demais pagam multa e os responsáveis podem pegar seis meses de prisão.
Qual é o peso ideal para uma modelo?
Daiane Marder, scouter e fotógrafa da M’Star Model’s, explica que a principal preocupação não é com o peso em si, mas com a medida de quadril, que deve estar entre 88 e 90 cm para uma modelo de passarela. Ela acredita que esse tipo de imposição que está acontecendo na França e em outros países não resolve o que se chama de problema de padrão de beleza. “O que está acontecendo é que as modelos acabam usando roupas e assessórios pesados no dia da pesagem para burlar a lei. Quer dizer, existe o medo de jovens e adolescentes desenvolverem distúrbios alimentares por verem nas passarelas esse padrão, mas as pessoas que nascem com este estereótipo devem ser pré-julgadas doentes?”
Campanhas como esta do Reino Unido têm a intenção de combater os distúrbios alimentares, uma vez que as modelos fazem parte do ideal de beleza, principalmente de adolescentes. Daiane comenta que, muito antes de se regulamentar a profissão de modelo, as medidas das misses, que também são tidas como padrões de beleza, são 90 cm de busto, 60 cm de cintura e 90 cm de quadril. “Estamos em uma era em que a busca pela beleza é incessante, o que as pessoas precisam entender e respeitar é o perfil de cada um. Eu jamais conseguirei ser a Gisele Bundchen, não tenho esse perfil. O meio da moda é muito julgado nesse aspecto, as pessoas esquecem que as clínicas de cirurgia plástica estão lotadas em busca de lipos e próteses.”
A fotógrafa afirma que sua agência orienta as modelos a respeitarem seu biotipo, mas é preciso estar na medida, fazendo exercícios, comendo corretamente, bebendo muita água e fazendo exames regularmente para saber se está tudo bem e garantir uma magreza saudável. “Não adianta uma pessoa estar com o IMC (índice de massa corporal) dentro do normal se alimentando de forma incorreta e totalmente sedentário. O que precisa existir é mais informação, pessoas nascem magras, outras nascem gordinhas, e o que determina se são saudáveis ou não é do que se alimentam e o ritmo de vida que elas têm.”
Por que o mercado de moda exige mulheres tão magras?
Daiane responde que é difícil explicar, mas até mesmo os croquis dos estilistas têm pernas longas e silhuetas finas. “Claro que essa é a ideia da moda de alta costura, quando temos desfiles Prêt-à-Porter, que são aqueles de lojas das roupas para mulheres em um padrão dito como “normal”, nem sei se essa palavra se encaixa, as modelos têm um outro padrão de medidas. Há tempos estamos ouvindo falar dessa mudança no padrão, aí vieram as categorias de modelos plus size, comerciais, fitness, mas as passarelas de alta costura não mudam, e não acredito de verdade que este padrão vai mudar, acredito que serão mais fiscalizadas.”
As agências que a M’Star trabalha em São Paulo e as internacionais têm médicos endocrinologistas e nutricionistas que acompanham as modelos. “Isso sim é importante. Se a menina nasce magra, não quer dizer necessariamente que ela é doente, pode ser que ela seja saudável e nasceu modelo.”
Diandra Brandalise na Europa
A M’Star tem várias tops, como Flávia Lucini, e a mais recente modelo a se destacar é Diandra Brandalise, de Bom Sucesso do Sul. Mary Marder, fundadora da agência, diz que Diandra fará mais uma temporada do São Paulo Fashion Week (SPFW), de 18 a 23 de outubro, e depois deve viajar para a Europa. Para desfilar nas passarelas internacionais, a modelo ainda precisa perder medidas. A 40ª edição do SPFW comemora os 20 anos do evento conhecido como calendário oficial da moda brasileira.
Entre a ética e a estética
De acordo com Daiane, no Brasil está em tramitação um projeto de lei desde 2012 e possivelmente a discussão seja retomada depois da movimentação dos países europeus. “Concordo que precisa existir mais fiscalização, pois o problema existe, sim, mas as boas agências têm acompanhamento médico para suas modelos e é preciso considerar que o que precisamos é de campanhas de informação e conscientização.” Os distúrbios alimentares como anorexia e bulimia não existem apenas na carreira de modelo. “Tem muita gente por aí que não trabalha com moda e está sofrendo e até morrendo com essas doenças, que podem ser desencadeadas por depressão, por exemplo. Estamos vivendo em uma era em que estão todos preocupados com a estética e esquecendo que a causa pode ser emocional. Nós estamos sempre conversando e tentando orientar nossas modelos da melhor forma e de acordo com o perfil que elas têm. Agora, mesmo sendo alta e magra, bebendo refrigerantes e comendo doces todos os dias, ninguém consegue manter as medidas.”