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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Quase dois milhões de brasileiros com ensino superior estão desempregados

Consultora empresarial afirma que profissionais precisam focar nas suas carreiras.

Agência do Trabalhador, de Francisco Beltrão, fica na Rua Ponta Grossa, 1588, Centro.

De acordo com dados mais recentes do IBGE, existem hoje 14,8 milhões de desempregados no Brasil, dos quais 1,9 milhão têm ensino superior completo. Ainda segundo o levantamento, em um ano de pandemia, por hora, 377 brasileiros perderam o emprego. “Para driblar a falta de oportunidades, é preciso se reinventar”, é o que diz Renato Grinberg, considerado um dos maiores especialistas em alta performance profissional do Brasil. Em Francisco Beltrão, não é diferente. Muitas das pessoas que têm qualificação no ensino superior também estão encontrando dificuldades em conseguir uma colocação no mercado de trabalho nas suas áreas específicas de formação.

Cursos e qualificação
Noely Thomé é diretora da Agência do Trabalhador em Francisco Beltrão. Ela conta que sempre que as pessoas chegam à agência para encaminhar o seguro-desemprego, são questionadas se querem deixar o currículo para concorrer a outras vagas que estão disponíveis, mas na maioria dos casos a resposta é “não”. “Essas pessoas dizem que vão aproveitar o tempo do seguro para buscar uma qualificação para que possam conseguir uma vaga no mercado de trabalho. Não é que não queiram concorrer a uma vaga ou que não estão conseguindo uma vaga. Geralmente são pessoas que são desligadas das empresas e que querem buscar mais qualificação.” Hoje, o período mínimo de recebimento do seguro-desemprego é de três meses. O período máximo é de cinco meses.

Baixo salário
Ela fala que dificilmente pessoas que têm formação superior vão até a agência em busca de uma vaga, e que grande parte dos empresários ainda não enxerga a Agência do Trabalhador como uma aliada para que possam ter trabalhadores qualificados nos seus quadros. “Os que nos procuram com curso superior ou com uma boa qualificação, muitas vezes, não aceitam uma vaga oferecida na área, devido ao baixo salário. Vêm de um emprego em que tinham um salário maior e chegam à agência querendo, às vezes, até mais do que recebiam no último emprego. E é aí que esbarram na hora da contratação.” De acordo com Noely, das cerca de 170 vagas disponíveis na Agência do Trabalhador de Francisco Beltrão, hoje, somente duas são para pessoas com ensino superior.

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Experiência é importante
A consultora empresarial Melissa Faust, que também é colunista do Jornal de Beltrão, avalia que é difícil mensurar a capacidade das empresas em absorver os profissionais que se formam todos os anos nas instituições de ensino superior. Para Melissa, sempre que há a necessidade de contratação de alguém com nível superior, as empresas exigem certa experiência na área.

“Vejo que vai muito da postura que o profissional teve como aluno, e do quanto ele aproveitou nesse período para fazer projetos extras e estágios para realmente aprender a ser um profissional com um pouco mais de experiência do que ser apenas um profissional que está saindo da faculdade.”

 

Melissa Faust: Apenas a formação no ensino superior não dá garantia de emprego. É preciso foco.

Formação não garante emprego
Segundo Melissa, ter apenas a formação no ensino superior não é garantia de emprego e, para isso, é preciso que o candidato a uma vaga em que se exija essa formação busque aprimorar seus conhecimentos ainda durante o período de estudos. “A formação não garante que a pessoa tenha os conhecimentos, as habilidades e as atitudes necessárias para se destacar no mercado. Vejo que é muito mais da dedicação do profissional em não desistir.” Melissa dá como exemplo o caso de uma amiga que buscou a formação na área da Enfermagem, mas que, por não ter experiência na área, levou algum tempo para que recebesse uma chance. “Enquanto ela estudava, fazia e vendia doces para ajudar nas despesas de casa e pagar seus estudos. Fez cursos e se especializou na área de doces, mas resolveu focar na área em que se formou, até que recebeu algumas oportunidades. Tudo depende também de como a pessoa quer traçar sua carreira.” 

Foco
Outro ponto importante que Melissa faz questão de frisar é quanto ao foco que os profissionais precisam dar às suas carreiras, antes mesmo de ingressarem num curso de formação. Foi o que ela fez e, hoje, consegue trabalhar na área em que sempre desejou, de forma independente. “Quando entrei na faculdade de Administração, já pensava em ser consultora empresarial, já tinha isso em mente. Comecei como estagiária e me dediquei para ser efetivada até que conseguisse adquirir conhecimento para me tornar uma profissional autônoma.” Ela reforça que simplesmente se formar não garante a ninguém o sucesso como profissional. “Isso acaba levando muita gente a não seguir trabalhando nas áreas em que se formaram e a permanecerem fazendo atividades que já faziam antes de estudar.” (*Com informações da Agência Brasil).

Boa formação e nova oportunidade
Há até cerca de quatro anos, a família da gestora financeira Marinês Mezoni trabalhava com supermercados na região. Em função de um problema de saúde do seu marido, Marinês conta que eles tiveram que se desfazer das empresas para que fosse possível o tratamento. “Tínhamos mercado em Chopinzinho, depois aqui em Francisco Beltrão. De lá pra cá, deixei meu currículo na Agência do Trabalhador e em algumas empresas também, mas infelizmente ninguém chama para trabalhar.” 

Além da formação superior em Gestão Financeira, Marinês tem MBA na área de Contabilidade. Antes de ser empresária do ramo de supermercados, ela trabalhou, por cerca de nove anos, como caixa em um banco.

Pães e perfumes
Diante da falta de oportunidades na sua área de formação, Marinês diz que começou a fazer pães e a vender perfumes. “Faço pão sem glúten e sem lactose para vender na nossa vizinhança, trabalho com catálogo de perfumes e, às vezes, trago carvão do interior para vender aqui em Beltrão. Agora, com meu esposo doente, tenho que me virar. Mas, graças a Deus, tenho saúde e força para poder trabalhar.” Ela fala que ainda espera que apareça uma oportunidade na sua área de formação. “Se aparecer, vou ficar muito grata. Minha experiência é na área financeira e sempre trabalhei com administração de empresas”, completa. 

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