
Folhear os arquivos do Jornal de Beltrão dos últimos 25 anos permite uma viagem ao passado rica em detalhes. Tudo que foi notícia, desde o dia 1º de maio de 1989, e ajudou a construir a identidade da nossa população, saiu estampado nas páginas do JdeB. Fatos positivos e também os negativos, aqueles que não gostaríamos de publicar, mas que, infelizmente, fazem parte da condição humana. Acidentes de trânsito, homicídios, sequestros e latrocínios, estiveram presentes no noticiário desde a fundação do jornal.
O jornalista Ivo Pegoraro, diretor de Redação do Jornal de Beltrão, lembra que o jornal nunca forçou um sensacionalismo desnecessário em matérias relacionadas à segurança pública, mantendo uma postura ética e respeito aos leitores, até porque parte importante do faturamento vem de anunciantes e assinantes, diferente de publicações de grandes centros que dependem mais das vendas em bancas. Mas o que acontece é preciso noticiar.
Sequestro
O primeiro caso de repercussão acompanhado pela equipe de reportagem ocorreu em dezembro de 1990. Foi um sequestro, algo inédito até então para a cidade, que tinha 61 mil habitantes. Dois garotos (13 e 16 anos), filhos do subgerente e do gerente da agência do Banco do Brasil, ficaram nas mãos dos sequestradores durante 14 dias. Os adolescentes foram libertados na véspera de Natal, em Campo Erê (SC), mediante o pagamento de resgate. O valor pago foi de 22 milhões de cruzeiros, equivalente a 2.491 salários mínimos da época.
Embora soubessem do crime, os órgãos de imprensa daqui mantiveram uma postura ética, evitando divulgar informações que colocassem em risco a vida dos meninos. Foi uma emissora de TV que quebrou o silêncio sobre o caso, gerando repercussão nacional. A redação do JdeB se tornou QG de operação dos principais meios de comunicação do país. Houve plantão de equipes de reportagens na frente das duas moradias até ocorrer o desfecho.
Esse caso teve um final feliz, ou seja, os dois garotos saíram ilesos, contudo, muitas outras ocorrências ganharam repercussão e comoveram a sociedade nestas duas décadas e meia. No final dos anos 80 e início de 90, ainda eram corriqueiros os casos de ameaças de morte que repercutiam na mídia. Foi um período de falta de estrutura das polícias e “lendas” de supostos pistoleiros que andavam armados aterrorizando as famílias.
Casos que se repetem
O que é mais triste de se ver é que os anos passam e algumas fatalidades continuam se repetindo à exaustão, sem nenhuma solução aparente. No dia 27 de outubro de 1990, o Jornal de Beltrão noticiava o assassinato de um taxista por um grupo de jovens que solicitara uma corrida da rodoviária até a Linha Gaúcha. Este tipo de crime voltou a ser noticiado pelo menos uma dezena de vezes.
O que dizer do trânsito nas rodovias do Sudoeste, então? Para o jornalista Ivo Pegoraro, este é um problema crônico da região e que está refletido nas edições das terças-feiras, quando se faz um resumo das ocorrências do final de semana. Quase sempre há notícias de pessoas, especialmente jovens, que perdem a vida precocemente nas estradas da região. Ele lembra que o caso mais emblemático ocorreu em 29 de abril de 1991, quando um acidente vitimou o cantor e compositor Luiz Gonzaga Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, que tinha 45 anos.
No trecho da PR 280, entre Renascença e Marmeleiro, ele dirigia um Monza que bateu na caminhonete de Pedro Ciknoviz, de Marmeleiro. Na noite anterior, ele havia se apresentado em Pato Branco; na quinta-feira, dia 25, na Facibel de Beltrão e na segunda-feira o cantor estava se deslocando para Foz do Iguaçu, onde, à tarde, pegaria avião para show em Florianópolis. O jornal lançou uma edição extra para reportar os acontecimentos e acabou inaugurando o período de Jornal de Beltrão bissemanal (às terças e sextas-feiras). Gonzaguinha veio morrer aqui, foi a manchete daquela edição “extra” do Jornal de Beltrão que acabaria iniciando a periodicidade bissemanal.
Joari e Jaqueline
O assassinato do casal de namorados Joari Sauer, 19, e Jaqueline Machado, 18, mortos a tiros na noite de 3 de setembro de 2006 nas imediações do aeroporto, chocou a população. Um menino de 15 anos foi o autor dos disparos à queima-roupa que matou os dois jovens. O jornalista Badger Vicari, que acompanhou a história, lembra que a polícia demorou cerca de um mês para descobrir a autoria do crime e que, possivelmente, desvendou os homicídios porque o mesmo menor voltou a matar outra pessoa na cidade.
Monstro de Marmeleiro
Os jornalistas do Jornal de Beltrão escalados para a cobertura dos crimes de repercussão procuram desvendar todos os detalhes e enriquecer a leitura dos moradores. A jornalista Cristiane Sabadin, por exemplo, acompanhou toda a investigação que apurou o brutal assassinato do menino Renato Renan Poroniczak, 7 anos, no dia 29 de outubro de 2005, em Marmeleiro. Ele foi violentado sexualmente e morto por asfixia por José Airton Pontes, mais tarde condenado a 37,5 anos de detenção. “Lembro de um fato que chocou toda a população do Sudoeste, e a mim pessoalmente. Havia iniciado a carreira de jornalista propriamente dita no Jornal de Beltrão, em março de 2005. Estava sentindo aos poucos o verdadeiro gosto da profissão. Divulgar notícias, eventos, descobrir e denunciar irregularidades, ajudar pessoas desconhecidas com um simples gesto: redigindo uma reportagem. E logo nos primeiros meses de jornalismo descobri o gosto amargo de acompanhar de perto uma tragédia familiar. Foi em outubro, no último dia do mês. Cheguei à redação e recebi a tarefa de noticiar o desaparecimento de um menino de 7 anos em Marmeleiro. Começava ali a primeira experiência traumática de minha jovem carreira.”
Reolon
A história de Gilmar Reolon, desmembrada em várias notícias, teve aproximadamente 150 mil acessos no site do Jornal de Beltrão, recorde absoluto. Quando da sua prisão – 11 de janeiro de 2013 -, os exemplares se esgotaram rapidamente nos pontos de venda, tamanha a curiosidade das pessoas para saber do homem que dizimou a própria família: o pai Otávio Reolon (65), a esposa Gema (41), os filhos Gian Lucas (9) e Gissele (14), a sogra Petronília Casanova (84) e a adolescente Indiamara Pereira dos Santos (13). Reolon foi condenado a 150 anos de prisão e cumpre pena na Penitenciária Estadual de Francisco Beltrão.