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Francisco Beltrão
domingo, 08 de junho de 2025

Edição 8.221

07/06/2025

Sem sensacionalismo, notícias tristes também fazem parte do jornalismo

 

As notícias referentes ao caso Gilmar Reolon estão entre as mais acessadas do site do JdeB. O caso do agricultor que matou seis pessoas e passou três anos escondido no mato é um dos mais bizarros registrados nos 25 anos do jornal. 

 

Folhear os arquivos do Jornal de Beltrão dos últimos 25 anos permite uma viagem ao passado rica em detalhes. Tudo que foi notícia, desde o dia 1º de maio de 1989, e ajudou a construir a identidade da nossa população, saiu estampado nas páginas do JdeB. Fatos positivos e também os negativos, aqueles que não gostaríamos de publicar, mas que, infelizmente, fazem parte da condição humana. Acidentes de trânsito, homicídios, sequestros e latrocínios, estiveram presentes no noticiário desde a fundação do jornal. 
O jornalista Ivo Pegoraro, diretor de Redação do Jornal de Beltrão, lembra que o jornal nunca forçou um sensacionalismo desnecessário em matérias relacionadas à segurança pública, mantendo uma postura ética e respeito aos leitores, até porque parte importante do faturamento vem de anunciantes e assinantes, diferente de publicações de grandes centros que dependem mais das vendas em bancas. Mas o que acontece é preciso noticiar. 
Sequestro
O primeiro caso de repercussão acompanhado pela equipe de reportagem ocorreu em dezembro de 1990. Foi um sequestro, algo inédito até então para a cidade, que tinha 61 mil habitantes. Dois garotos (13 e 16 anos), filhos do subgerente e do gerente da agência do Banco do Brasil, ficaram nas mãos dos sequestradores durante 14 dias. Os adolescentes foram libertados na véspera de Natal, em Campo Erê (SC), mediante o pagamento de resgate. O valor pago foi de 22 milhões de cruzeiros, equivalente a 2.491 salários mínimos da época.
Embora soubessem do crime, os órgãos de imprensa daqui mantiveram uma postura ética, evitando divulgar informações que colocassem em risco a vida dos meninos. Foi uma emissora de TV que quebrou o silêncio sobre o caso, gerando repercussão nacional. A redação do JdeB se tornou QG de operação dos principais meios de comunicação do país. Houve plantão de equipes de reportagens na frente das duas moradias até ocorrer o desfecho. 
Esse caso teve um final feliz, ou seja, os dois garotos saíram ilesos, contudo, muitas outras ocorrências ganharam repercussão e comoveram a sociedade nestas duas décadas e meia. No final dos anos 80 e início de 90, ainda eram corriqueiros os casos de ameaças de morte que repercutiam na mídia. Foi um período de falta de estrutura das polícias e “lendas” de supostos pistoleiros que andavam armados aterrorizando as famílias.  
Casos que se repetem
O que é mais triste de se ver é que os anos passam e algumas fatalidades continuam se repetindo à exaustão, sem nenhuma solução aparente. No dia 27 de outubro de 1990, o Jornal de Beltrão noticiava o assassinato de um taxista por um grupo de jovens que solicitara uma corrida da rodoviária até a Linha Gaúcha. Este tipo de crime voltou a ser noticiado pelo menos uma dezena de vezes.  
O que dizer do trânsito nas rodovias do Sudoeste, então? Para o jornalista Ivo Pegoraro, este é um problema crônico da região e que está refletido nas edições das terças-feiras, quando se faz um resumo das ocorrências do final de semana. Quase sempre há notícias de pessoas, especialmente jovens, que perdem a vida precocemente nas estradas da região. Ele lembra que o caso mais emblemático ocorreu em 29 de abril de 1991, quando um acidente vitimou o cantor e compositor Luiz Gonzaga Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, que tinha 45 anos. 
No trecho da PR 280, entre Renascença e Marmeleiro, ele dirigia um Monza que bateu na caminhonete de Pedro Ciknoviz, de Marmeleiro. Na noite anterior, ele havia se apresentado em Pato Branco; na quinta-feira, dia 25, na Facibel de Beltrão e na segunda-feira o cantor estava se deslocando para Foz do Iguaçu, onde, à tarde, pegaria avião para show em Florianópolis. O jornal lançou uma edição extra para reportar os acontecimentos e acabou inaugurando o período de Jornal de Beltrão bissemanal (às terças e sextas-feiras). Gonzaguinha veio morrer aqui, foi a manchete daquela edição “extra” do Jornal de Beltrão que acabaria iniciando a periodicidade bissemanal.
Joari e Jaqueline 
O assassinato do casal de namorados Joari Sauer, 19, e Jaqueline Machado, 18, mortos a tiros na noite de 3 de setembro de 2006 nas imediações do aeroporto, chocou a população. Um menino de 15 anos foi o autor dos disparos à queima-roupa que matou os dois jovens. O jornalista Badger Vicari, que acompanhou a história, lembra que a polícia demorou cerca de um mês para descobrir a autoria do crime e que, possivelmente, desvendou os homicídios porque o mesmo menor voltou a matar outra pessoa na cidade. 

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Monstro de Marmeleiro
Os jornalistas do Jornal de Beltrão escalados para a cobertura dos crimes de repercussão procuram desvendar todos os detalhes e enriquecer a leitura dos moradores. A jornalista Cristiane Sabadin, por exemplo, acompanhou toda a investigação que apurou o brutal assassinato do menino Renato Renan Poroniczak, 7 anos, no dia 29 de outubro de 2005, em Marmeleiro. Ele foi violentado sexualmente e morto por asfixia por José Airton Pontes, mais tarde condenado a 37,5 anos de detenção. “Lembro de um fato que chocou toda a população do Sudoeste, e a mim pessoalmente. Havia iniciado a carreira de jornalista propriamente dita no Jornal de Beltrão, em março de 2005. Estava sentindo aos poucos o verdadeiro gosto da profissão. Divulgar notícias, eventos, descobrir e denunciar irregularidades, ajudar pessoas desconhecidas com um simples gesto: redigindo uma reportagem. E logo nos primeiros meses de jornalismo descobri o gosto amargo de acompanhar de perto uma tragédia familiar. Foi em outubro, no último dia do mês. Cheguei à redação e recebi a tarefa de noticiar o desaparecimento de um menino de 7 anos em Marmeleiro. Começava ali a primeira experiência traumática de minha jovem carreira.”
Reolon
A história de Gilmar Reolon, desmembrada em várias notícias, teve aproximadamente 150 mil acessos no site do Jornal de Beltrão, recorde absoluto. Quando da sua prisão – 11 de janeiro de 2013 -, os exemplares se esgotaram rapidamente nos pontos de venda, tamanha a curiosidade das pessoas para saber do homem que dizimou a própria família: o pai Otávio Reolon (65), a esposa Gema (41), os filhos Gian Lucas (9) e Gissele (14), a sogra Petronília Casanova (84) e a adolescente Indiamara Pereira dos Santos (13). Reolon foi condenado a 150 anos de prisão e cumpre pena na Penitenciária Estadual de Francisco Beltrão. 

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