A criação de porcos garantiu o sustento da família por anos.

Se há alguém que conhece bem a história do território que hoje forma o município de Cruzeiro do Iguaçu é seu Avelino, o patriarca da família Grassi. Ele tem 94 anos; há 64 reside no mesmo lugar, na linha Alto Erveira, e puxa facilmente na memória datas, nomes e detalhes dos tempos em que o local era um sertão, como ele próprio caracteriza. “Cheguei aqui em 57. Foi comprado 100 alqueires por 100 mil réis do Vicente Barbosa: metade ficou pra mim e metade pro meu irmão Rodolfo. A sanga que tem ali [apontando] era a divisa de Beltrão e Pato Branco. Na sede só tinha o Vicente Cremone e o Belmiro Vieira de morador e foi aberta muita estrada por conta”, lembra.
Inicialmente, a família de Avelino estava estabelecida em Pato Branco. Seus pais vieram do Rio Grande do Sul, com os 13 filhos, para a região, ainda na década de 30, com a mudança puxada de mulas e carretão, por Adolfo Chioquetta. Mas precisavam de mais espaço para trabalhar e a oferta de terras baratas na então Vila Miserável/Divisor motivou a mudança. Naquela época, os Grassi criavam porcos para revender aos safristas, atividade que Avelino desenvolveu por mais 35 anos na nova localidade.
“Desde que a gente morava em Pato Branco plantava milho pra criar porco e vendia [os animais] por altura, por centímetros. Tinha lá 200, 300 porcos, daí vinha o safrista, arrematava, e levava a tropa “pé no chão” até União da Vitória. Ia um ponteiro [homem a cavalo que conduzia a tropa] na frente jogando os grãos de milho no chão, e a tropa tudo atrás, acompanhando. Era uma viagem que durava nove dias, mas a nossa parte era mais a criação: plantava o milho, soltava os porcos pra comer, depois tirava da roça e emangueirava para terminar a engorda. Porco de chiqueiro, o safrista não comprava porque não caminhava”, conta.
Por ser um dos pioneiros da atual Cruzeiro do Iguaçu, seu Avelino se tornou uma referência em diferentes áreas. Ele teve uma atuação importante junto à Igreja Católica — ajudou, inclusive, na construção da primeira capela —, foi, por tempos, da diretoria da Paróquia e próximo do monsenhor Eduardo Rodrigues Machado. Também atuou como inspetor e subdelegado nos anos 70, num período em que os conflitos eram mais simples de se resolver. “O que mais tinha era briga por divisa de terra ou uma criação que escapava e ia no terreno do outro, mas tudo se resolvia na conversa. Sempre que alguém dava a queixa eu ouvia a declaração, fazia a audiência escutando o outro lado e daí dizia quem tava certo e quem tava errado”, explica.
Ao mesmo tempo em que acompanhou o desenvolvimento do município, Avelino Grassi também fez evoluir sua atividade. Primeiro foram os tratores — dos quais se recorda até o preço pago por cada um —, depois a compra de novas áreas e hoje a produção nas terras da família é toda mecanizada. Agora está com feijão plantado. Apesar de ter perdido a companheira de uma vida (dona Helena), ainda considera uma riqueza ter filhos, genros, noras e netos por perto. “Dos 12 filhos, ainda tem dez vivos e a família é a coisa mais importante que a gente pode ter”, finaliza.
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