Quando constituídas, ocuparam os espaços mais humildes e exíguos nas cooperativas agropecuárias “madrinhas”. Hoje, 35 anos depois, estão nas pequenas comunidades do interior, nas grandes capitais e em plena Avenida Paulista (SP), expondo seus diferenciais aos grandes concorrentes bancários. E financiando o desenvolvimento das comunidades.

Fotos: Assessoria
Eloy Seth- Constituídas nos anos 80 – a chamada década perdida da economia brasileira -, as cooperativas de crédito nasceram com um futuro incerto, pois estavam proibidas de abrir agências, ter talão de cheque, operar com crédito rural e associar outras pessoas além dos agricultores associados à cooperativa onde surgiram. Apesar das proibições legais, precisavam sobreviver para se tornarem instituições de crédito das comunidades onde surgiram, com a missão de financiar a agricultura.
Até se consolidarem como instituições financeiras capazes de oferecer aos associados todos os produtos e serviços bancários percorreram um longo caminho. Mas em 1985 constituíram a central Cocecrer-PR (hoje central Sicredi PR/SP/RJ) e em 1996 uniram-se às cooperativas gaúchas como associadas e donas do primeiro banco cooperativo brasileiro, o Bansicredi. Depois, aos poucos, o Banco Central foi retirando as restrições operacionais do sistema.
Donas de banco, ampliando ano a ano seu patrimônio líquido, as cooperativas chegaram ao novo século mais maduras e eficientes, sempre acompanhadas de perto pelas autoridades, interessadas em reduzir a concentração bancária. Auxiliadas pelo banco, abriram agências na maioria dos municípios paranaenses, onde a economia local permitisse sua viabilização. Eficientes, não tardaria sua entrada em novas fronteiras: São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Novas fronteiras
A entrada em outros estados começou com a união de cooperativas Sicredi do Paraná com cooperativas do mesmo sistema de São Paulo, que encontravam dificuldades de consolidação e crescimento. Expansionismo? – Não, afirma Jaime Basso, presidente da Sicredi Vale do Piquiri ABCD PR/SP e vice-presidente da Central Sicredi PR/SP/RJ: “Olhando pela solidariedade, concluímos que era preciso intervir, incorporando a área de ação. Passamos a atuar em São Paulo, identificando as cooperativas que precisavam de apoio. Foi feito um plano de trabalho e iniciamos nossa atuação naquele estado através da incorporação de cooperativas”.
A Central Sicredi PR realizou um mapeamento, estabelecendo que as cooperativas do Paraná passariam a atuar em São Paulo, com a responsabilidade de realizarem a união com cooperativas dispostas a isso e a expansão para áreas sem cooperativas. Em 2011 decidiu-se que a Central Paraná se uniria com a Central São Paulo, que tinha 15 cooperativas filiadas e cerca de 30 agências.
No ano de 2013 começou a efetiva entrada das cooperativas paranaenses em São Paulo, através de parcerias e fusões, permitindo uma grande expansão, de tal sorte que em 2016 já havia 127 agências com 142.771 mil associados. Parceria semelhante ocorreu com as cooperativas do Rio de Janeiro, que hoje têm 13 agências e 15.242 associados.
As três cooperativas do Sudoeste do Paraná se estabeleceram em regiões distintas: a Sicredi Fronteiras PR/SC/SP (Capanema) instalou-se na região de Jundiaí; a Sicredi Parque das Araucárias (Mariópolis) instalou-se na região de Ribeirão Preto e a Sicredi Iguaçu (São João), se estabeleceu em Campinas e municípios vizinhos. Elas já tem 12 agências em São Paulo, totalizando 11.750 associados e administram R$ 110 milhões.
Na Avenida Paulista
A instalação da agência da Sicredi Vale do Piquiri na Avenida Paulista, em 2013, é emblemática, indicando a longa caminhada desde sua fundação, em 1988, quando ocupou o espaço debaixo da escada que dava acesso ao segundo pavimento da então Coopervale. Hoje mantém estreita essa sua longa parceria com a cooperativa que a criou, a atual C.Vale, oferecendo aos agricultores a totalidade dos recursos de crédito rural e financiamento que demandam.
Jaime Basso considera essencial a entrada do Sicredi em São Paulo, maior centro financeiro do País, não apenas pela visibilidade que proporciona, mas principalmente porque é um centro captador de recursos que podem ser emprestados nos centros tomadores, como a área agrícola do Paraná e outros estados: “Você não consegue estar em todo o Brasil se não está em São Paulo. Só vamos ter uma visibilidade maior se estivermos no maior centro financeiro do Brasil. Outro detalhe é que tem muita poupança em São Paulo e prá nós é de fundamental importância para aplicação no rural, não em São Paulo, mas nas regiões agrícolas”.
A entrada em São Paulo se deu com naturalidade, não com visão expansionista, pois o Sicredi se estabelece apenas onde as comunidades demonstram interesse e estudos apontem viabilidade econômica, que se traduz por um número mínimo de associados e movimentação financeira tal que pague os custos operacionais.
Atuação nas comunidades
“Nós não somos um banco, nós temos um banco” é uma das frases mais ouvidas das lideranças ao falarem para os associados. De fato, as cooperativas são muito diferentes dos bancos na sua essência. O primeiro diferencial é que enquanto o banco é sociedade de capital, a cooperativa é sociedade de pessoas. Os produtos e serviços bancários são os mesmos, mas há outros diferenciais que distinguem os dois sistemas. Apenas as cooperativas têm: Participação nas decisões, gestão democrática, distribuição dos resultados, retenção de recursos financeiros nas comunidades, crescimento coletivo, transparência na gestão e o associado é dono do negócio.
Por isso, as cooperativas são consideradas instituições financeiras das comunidades onde atuam. A sua missão de prover os recursos demandados pelos associados tem uma explicação prática na visão de que liderou o ressurgimento das cooperativas de crédito, Mário Kruel Guimarães: “… O sistema bancário capta recursos nas zonas mais pobres e os transfere para regiões mais ricas, onde pode emprestar com segurança e lucros mais elevados. O capital dos bancos é insignificante em relação ao volume de recursos que aplicam, porque a intenção dos banqueiros não é de operar com o seu dinheiro, mas com o da população”.
Os donos do “banco”
“As cooperativas de crédito cresceram, se desenvolveram e se transformaram em instituições financeiras completas, deixando de ser exclusivamente agrícolas”, afirma Luiz Roberto Baggio, presidente da Sicredi Integração PR/SC e diretor da Ocepar (Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná). E completa: “Considero que os últimos 20 anos foram os melhores para o Sicredi, quando ingressamos no Bansicredi e o governo iniciou a retirada das restrições. Nós nos profissionalizamos e o mercado começou a perceber esse modelo de negócio diferenciado, que hoje faz operações competindo com os grandes bancos sem oferecer riscos”.
Entre os mais de um milhão de associados da Central Sicredi PR/SP/RJ estão Waldomiro Gayer Neto, fruticultor e empresário em Araucária, Paulo Roberto Ficinski Dunin, empresário da área de fruticultura na Lapa, Luciane Maria Kuduvavicz Dranka, agricultora em Quitandinha e Cecília Ribeiro Lemos, comerciante na cidade de Quitandinha. Todos eles têm uma história de amor e sucesso ao lado da Sicredi Integração PR/SC.
Os três primeiros têm em comum o trabalho com a terra e a associação a duas cooperativas: a Cooperativa Agroindustrial Bom Jesus e a Sicredi, ambas com sede na Lapa. A Bom Jesus lhes dá suporte técnico agropecuário e a Sicredi Integração PR/SC o suporte financeiro para manterem suas atividades. Todos atuam com a atividade econômica de maior risco, que é a agricultura, e buscaram na cooperativa Sicredi os diferenciais que os bancos não oferecem: o atendimento personalizado, transparência, gestão democrática e participação no resultados, entre outros.
Campanha de adesão
A associada Cecília Ribeiro Lemos foi a responsável pela permanência Sicredi em Quitandinha quando a cooperativa não estava se viabilizando por falta de adesão, nem achando uma sede adequada para se instalar. Quando ficou sabendo dessas dificuldades, emprestou, sem custos por seis meses, um espaço ao lado de sua loja e fez uma campanha de adesão, iniciando com uma reunião na Associação Comercial. Cada cliente que ia à sua loja perguntava: – Você já se associou ao banquinho?
Entre os possíveis associados que apresentou ao gerente instalado na sala ao lado de sua loja e aqueles que convidou andando pela cidade, dona Cecília agregou 216 novos integrantes, demonstrando sua determinação em não perder os bons serviços do Sicredi. Hoje, não apenas a Sicredi é grata a ela, mas também os associados que conhecem sua história, como Luciane Maria Kuduvavicz: “Se não fosse a dona Cecília, talvez hoje não tivéssemos o Sicredi. Desde que entrou aqui a gente já viu o diferencial de ser uma cooperativa. Tanto que eu não tenho conta em nenhuma outra instituição, só movimento pelo Sicredi por causa do atendimento, que é um diferencial muito grande. Entro lá e me sinto em casa. Todo mundo é conhecido, amigo, todos dispostos a ajudar. A gente movimenta tudo, tem os programas do governo, financia a lavoura, máquina, renova, faz seguro de veículo, da casa, de vida, tem os cartões de crédito e débito, tem tudo no Sicredi”.
A gerente da agência de Quitandinha, Josenilda C. Radulski, reconhece que a credibilidade de dona Cecília facilitou a viabilização da cooperativa na comunidade. Josenilda, nascida no interior do Município e gerente há oito anos, conhece cada uma das 32 comunidades onde vivem os mais de 2.453 associados. E diz que tem muita satisfação de trabalhar na Sicredi, oferecendo produtos e serviços aos associados, “devolvendo para a comunidade os recursos que eles aplicam na cooperativa”, afirma.
Quitandinha é uma das 14 agências da cooperativa espalhadas pelo centro sul, litoral e norte de Santa Catarina, que reúnem mais 24 mil associados e administraram, em 2016, R$ 382,5 milhões em recursos totais. De Canoinhas (SC), a Paranaguá, a Sicredi Integração Paraná Santa Catarina adota um sistema uniforme de atuação com marca, produtos e serviços iguais não apenas aos das outras 30 cooperativas do Paraná, como das 117 cooperativas Sicredi espalhadas pelo Brasil.
Em Araucária, o empresário Waldomiro Gayer Neto, fruticultor e agricultor, aceitou o convite para se associar à Sicredi instalada no município há quase três anos porque já conhecia o trabalho da Cooperativa Bom Jesus, à qual o pai era associado, e também tinha conhecimento do cooperativismo de crédito da Alemanha, de onde veio seu bisavô, Francisco Gayer, um dos pioneiros na fruticultura na região. Hoje, a maior parte da movimentação bancária está no Sicredi, onde financiou a última colheitadeira: “O Sicredi é diferenciado e o atendimento personalizado. É melhor que outras agências pelo atendimento, o que é um facilitador. Tem os produtos que preciso e estou muito satisfeito. Fiz o custeio de inverno e da fruticultura, financiei a proteção contra granizo e fiz seguro da safra. Há uma sintonia com o Sicredi que dá certo”.
No Município da Lapa, o empresário da área de fruticultura Paulo Roberto Ficinski Dulin, é um dos milhares de associados satisfeitos com a atuação da cooperativa à qual se associou há 18 anos: “Eu trabalhava apenas com um banco e pensava que não precisaria de outro, porém em alguns momentos deixamos de ser atendidos em algumas demandas. Houve uma época de retração de crédito em um momento que precisávamos. Foi nessa necessidade que conheci o Sicredi e assim começou a parceria. Hoje cerca de 70% da minha movimentação é com o Sicredi, onde encontro crédito rotativo, seguros, crédito rural entre outros, que contribuem para o desenvolvimento do nosso empreendimento. Me sinto bem atendido, pois há uma relação pessoal, com visitas constantes para ver como estão as coisas e suprir minhas necessidades, gerando assim um relacionamento diferenciado e fortalecimento de parceria”.
O associado Paulo consolidou seu negócio com recursos emprestados da cooperativa. Nos nove meses do ano que processa e comercializa maçã emprega em média 60 pessoas. Agora tem nos planos o financiamento de mais uma câmera de armazenamento de frutas para atender sua demanda e garantir a perenidade do seu negócio. Novamente vai apelar à Sicredi.
Histórias semelhantes às desses associados se repetem às milhares entre os mais de um milhão de adeptos do Sicredi PR/SP/RJ. Porque são donos e corresponsáveis pelas cooperativas que atuam com a missão de aplicar os seus recursos no desenvolvimento econômico e social das comunidades onde atuam.
