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Uma nova ferrovia ligando o porto de Paranaguá até Dourados (MS) — passando por Guarapuava, Cascavel e Guaíra — é encarada como uma das grandes soluções logísticas não só do Paraná, mas também do Brasil. O projeto foi qualificado na carteira do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e está numa lista de obras consideradas prioritárias pelo Ministério da Agricultura para garantir a competitividade e a expansão da produção de grãos no País.
A proposta é criar um eixo logístico revitalizando o trecho hoje administrado pela Ferroeste (entre Cascavel e Guarapuava), que seria integrado ao porto por novos trilhos e expandido até o Mato Grosso do Sul. Há ainda a previsão de um ramal seguindo até Foz do Iguaçu, visando escoar a produção agrícola do Paraguai, e o estudo de uma conexão entre Dourados e Maracaju, integrar a ferrovia. “Este será o segundo maior corredor de exportação de grãos do País”, resume o engenheiro Paulo Henrique Fagundes, coordenador do Plano Estadual Ferroviário.
Nesta semana, ele concedeu entrevista ao JdeB detalhando o processo de elaboração dos projetos e de concessão da nova ferrovia, que vai incluir ainda a desestatização da Ferroeste. Pelo cronograma, a intenção é realizar o leilão na Bovespa no primeiro trimestre de 2022. A previsão é considerada otimista porque o grupo que trabalha no projeto fez sondagens de mercado e verificou que há interesse privado em investir na nova ferrovia.
Além disso, estão em andamento os estudos de viabilidade técnica e econômica, de impacto ambiental e de definição do traçado. “Está sendo finalizada a modelagem da concessão, em novembro devemos ter o pedido de licencia prévia, depois as audiências públicas e em março levar o projeto à Bovespa [leilão]”, complementa Fagundes. A previsão é de R$ 25 bi em investimentos e construção de cerca de 1.200 km de estrada férrea devem reduzir em 28% o custo logístico de grãos e contêineres que chegam a Paranaguá.

Luta antiga da região
A expansão e revitalização da ferrovia poderá dar novo impulso à mobilização para que o Sudoeste também tenha um ramal ferroviário. Esta é a avaliação do presidente da Amsop e prefeito de Bom Sucesso do Sul, Nilson Feversani: “Havendo a construção da ferrovia contemplando o Oeste do Estado, o Sudoeste deve se mobilizar e lutar para ter um braço ferroviário, pois nossa produção está crescendo cada vez mais”.
Desde 2002, através das cartas do Sudoeste, a entidade defende a construção de um ramal ferroviário na região. Em 2009, a reivindicação ganhou força com a possibilidade de investimentos pela própria Ferroeste, que chegou a indicar estudos para o levantamento da capacidade produtiva e de projeção de cargas potenciais na região, mas sem avanços. Alguns anos depois, lideranças políticas se mobilizaram e o governo federal sinalizou que a região seria contemplada com a expansão da ferrovia Norte Sul, num ramal que ligaria o Centro do Paraná até Chapecó, Oeste de Santa Catarina.
Na visão do coordenador do Plano Ferroviário, o Sudoeste paranaense e o Oeste catarinense possuem produção suficiente para viabilizar um ramal ferroviário. “O Oeste de Santa Catarina tem um déficit de produção de milho gigantesco e precisa trazer muitos grãos do Mato Grosso, além de ser um forte produtor de suínos e aves para o mercado externo, assim como o Sudoeste do Paraná, que exporta muitos produtos de agroindústrias e grãos, então há um potencial gigantesco”, disse Luiz Henrique Fagundes.
Novo marco regulatório
Os investimentos na região, no entanto, não devem vir do poder público. Fagundes explicou que, com a aprovação do novo marco regulatório ferroviário, empresas, cooperativas ou consórcios poderão procurar o governo com o projeto para explorar uma nova linha férrea — atualmente as ferrovias, de domínio público, só podem ser operadas por um parceiro privado em regimes de concessão ou permissão, via licitação, para construção e exploração de trechos. Ou seja, se houver interesse privado em construir uma ferrovia, o ramal poderá sair do papel.