A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio, e a cada três segundos uma pessoa atenta contra a própria vida.

Setembro foi o mês de combate ao suicídio, mas a região Sudoeste do Paraná, que tem um dos maiores índices do estado de mortes auto-infringidas, sequer tocou no assunto. A campanha foi desenvolvida pela Associação Brasileira de Psiquiatria em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e demais entidades. O dia 10 de setembro foi o dia mundial de prevenção ao suicídio e como tema de 2015 a ABP escolheu “Avançar para o Terreno e Salvar Vidas”. Em 2012, cerca de 804 mil pessoas morreram por suicídio em todo o mundo, o que corresponde a taxas ajustadas para idade de 11,4 por 100 mil habitantes por ano – 15,0 para homens e 8,0 para mulheres.
A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio, e a cada três segundos uma pessoa atenta contra a própria vida. As taxas de suicídio vêm aumentando globalmente. Estima-se que até 2020 poderá ocorrer um incremento de 50% na incidência anual de mortes por suicídio em todo o mundo, sendo que o número de vidas perdidas desta forma, a cada ano, ultrapassa o número de mortes decorrentes de homicídio e guerra combinados. Além disso, cada suicídio tem um sério impacto na vida de pelo menos outras seis pessoas.
Segundo o Ministério da Saúde, todos os anos são registrados cerca de dez mil suicídios no Brasil e mais de um milhão em todo o mundo. É uma epidemia silenciosa que preocupa as autoridades de saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda que os veículos de comunicação façam cobertura específica sobre os casos de suicídios, contudo é possível abordar assuntos como a prevenção.
A prevalência do comportamento suicida na população brasileira é muito mais comum do que se imagina. Ao longo da existência, por exemplo, 17% dos brasileiros pensaram, em algum momento, em tirar a própria vida. O suicídio é uma grande questão de saúde pública em todos os países. De acordo com a Organização Mundial de Saúde é possível prevenir o suicídio, desde que, entre outras medidas, os profissionais de saúde, de todos os níveis de atenção, estejam aptos a reconhecerem os fatores de risco presentes, a fim de determinarem medidas para reduzir tal risco e evitar o suicídio.
A cartilha Suicídio: Informando para Prevenir, da ABP, alerta que diversos fatores podem impedir a detecção precoce e, consequentemente, a prevenção do suicídio. O estigma e o tabu relacionados ao assunto são aspectos importantes.
Durante séculos, por razões religiosas, morais e culturais o suicídio foi considerado um grande “pecado”, talvez o pior deles. Por esta razão, ainda há medo e vergonha de falar abertamente sobre esse problema de saúde pública. “Um tabu, arraigado em nossa cultura, por séculos, não desaparece sem o esforço de todos nós. Tal tabu, assim como a dificuldade em buscar ajuda, a falta de conhecimento e de atenção sobre o assunto por parte dos profissionais de saúde e a ideia errônea de que o comportamento suicida não é um evento frequente condicionam barreiras para a prevenção. Lutar contra esse tabu é fundamental para que a prevenção seja bem-sucedida”, diz trecho da cartilha.
No Brasil
O Brasil é o oitavo país em número absoluto de suicídios. Em 2012 foram registradas 11.821 mortes, cerca de 30 por dia, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres. Entre 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes, sendo observado um aumento de mais de 30% em jovens. Os números brasileiros devem, entretanto, ser analisados com cautela. Em primeiro lugar porque pode haver uma subnotificação do número de suicídios, em segundo lugar porque há uma grande variabilidade regional nas taxas.
No Sudoeste
A 8ª Regional de Saúde de Francisco Beltrão tem as maiores taxas de suicídio entre todas as demais no Paraná. Os números são alarmantes. Nos últimos cinco anos, a microrregião de Beltrão figurou três vezes com o maior número de suicídios e duas vezes em segundo (ver tabela).
O médico psiquiatra Cícero Bezerra de Lima salienta que os profissionais de saúde e os familiares devem ficar atentos às alterações psíquicas apresentadas pelo indivíduo. É muito importante, ficar atento a fatores como doença psiquiátrica prévia, se a pessoa alguma vez já tentou o suicídio, se apresenta sinais como desespero, desamparo e desesperança.
O que preocupa a Organização Mundial de Saúde é o alto índice de jovens que tiram a própria vida. Conforme estatísticas do órgão, o suicídio já é a segunda principal causa da morte em todo mundo para pessoas de 15 a 29 anos de idade – ainda que, estatisticamente, pessoas com mais de 70 anos sejam mais propensas a cometer suicídio. O psiquiatra Cícero Bezerra salienta que a combinação em jovens de desesperança, impulsividade e abuso de substâncias químicas (lícitas e ilícitas) pode ser fatal. “No Brasil é a terceira causa de morte violenta entre os jovens. O fim de um namoro, por exemplo, causa desesperança.” As doenças psiquiátricas, como depressão, psicoses, esquizofrenia, transtorno bipolar, entre outras, também levam um grande número de pessoas a tirar a própria vida.
Não há nenhuma explicação científica para a grande quantidade de suicídios que ocorre na microrregião de Francisco Beltrão. “Existe uma relação estreita entre agrotóxico e suicídio que precisa ser melhor estudada, uma vez que este tipo de produto químico afeta diretamente o sistema nervoso central”, comenta Cícero.
O médico psiquiatra afirma que o assunto tem que ser tratado sem preconceito. “Geralmente a pessoa fala sobre o assunto, mas as pessoas próximas não acreditam que ela será capaz. Nestes casos, a família tem ficar atenta e busca ajuda médica.”
Taxa de suicídio por regional de saúde do Paraná
Regional de Saúde 2009 2010 2011 2012 2013
8ª RS Francisco Beltrão 13,41 10,07 11,51 13,23 9,65
6ª RS União da Vitória 10,55 4,84 10,24 11,39 6,94
21ª RS Telêmaco Borba 9,59 4,05 9,77 5,14 7,15
16ª RS Apucarana 8,95 5,48 9,73 8,52 9
14ª RS Paranavaí 8,84 6,91 3,82 6,1 5,52
4ª RS Irati 8,65 6,83 7,41 4,91 7,1
20ª RS Toledo 8,4 7,81 8,85 8,79 8,44
11ª RS Campo Mourão 7,69 4,79 5,4 6,92 5,86
19ª RS Jacarezinho 7,48 6,83 6,46 8,24 9,71
5ª RS Guarapuava 7,41 8,38 7,7 8,37 6,56
7ª RS Pato Branco 7,17 12,01 5,58 3,97 7,27
22ª RS Ivaiporã 6,83 10,05 7,23 8,02 6,43
12ª RS Umuarama 6,03 6,79 4,52 6,01 5,81
15ª RS Maringá 5,89 4,23 4,05 5,61 5,63
1ª RS Paranaguá 5,84 4,15 6,72 6,67 2,84
3ª RS Ponta Grossa 5,82 6,25 5,69 5,31 6,74
10ª RS Cascavel 5,79 5,32 6,47 6,82 7,88
17ª RS Londrina 4,92 5,62 4,9 4,86 5,54
9ª RS Foz do Iguaçu 4,59 6,43 6,67 6,66 5,45
2ª RS Metropolitana 4,47 3,88 3,81 4,41 4,49
18ª RS Cornélio Procópio 4,3 5,75 4,88 4,45 5,63
13ª RS Cianorte 2,11 4,91 6,96 2,76 5,95
Total Paraná 6,09 5,58 5,66 5,98 5,97
Total Brasil 4,89 4,95 5,12 5,32 5,24