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Francisco Beltrão
sábado, 14 de junho de 2025

Edição 8.226

14/06/2025

Tatuagem depois dos 50 anos é opção natural para geração mais madura

Tatuagem depois dos 50 anos é opção natural para geração mais madura

Rafael Marques, da Bisnaga Tattoo, durante sessão no estúdio. O cliente, com 52 anos, está fechando as costas.
O desenho: um anjo templário.  

 

Uma mulher com 51 anos, mãe de três filhos, tomou a decisão após passar da idade “da loba”. Quem diria que dona Neli Bondan Ramos, após conferir em casa as tatuagens feitas pelos filhos, pudesse agora se orgulhar de ter a sua primeira marca de expressão. Ela garante que sempre achou bonito, mas hoje, mais experiente, teve coragem: “Achei que era a hora de fazer”.

Mesmo antes, quando eram apenas os filhos e os amigos dos filhos que curtiam a arte pelo corpo, Neli garante que jamais teve preconceito. Mas sempre preferiu os desenhos mais delicados, por isso, quando chegou seu grande dia, escolheu uma borboleta e um ramo de flores. “Tenho certeza que não vou me arrepender, foi uma decisão bem amadurecida.” E ela não pensa em parar por aí. “Quero tatuar o nome dos meus netos, prestando assim uma homenagem a eles.”

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Uma senhora de 78 anos também decidiu se libertar. Ela reside em Curitiba e fez sua primeira tatuagem com o tatuador Dago, do Dago Tattoo Studio de Francisco Beltrão. Quando indagada pelo motivo que a levou a se tatuar na terceira idade, logo veio a resposta: “Sou viúva há dois anos. Antes meu marido não deixava fazer porque dizia que não tinha idade pra essas coisas. Hoje sou livre, não devo satisfação. Meus filhos já estão criados e eu me sustento. Então, simplesmente, sem avisar ninguém, resolvi fazer”. A senhora tatuou um ramo de flores no pé.

Dago está há 15 anos na profissão e afirma que, durante todo esse período, o número de pessoas mais velhas que procuraram o serviço aumentou consideravelmente. “Não sei ao certo o motivo, mas posso garantir que muitas pessoas que já passaram dos 50 estão fazendo sua primeira tatuagem. Esse número vem crescendo e a maioria dos que procuram são mulheres”, diz Dago.

Para o tatuador, talvez seja fácil de compreender. “As mulheres conseguem ver e aceitar com mais naturalidade que os tempos mudaram e que a arte da tatuagem também. Hoje, essa arte abrange um público bem diferente.”

 

Maturidade e libertação

Apesar do grande número de adeptos da tatuagem se formar após os 50, é fato que são os mais novos que aderem à arte na pele. Mas essa mudança de comportamento, que vem despertando nas pessoas mais velhas a vontade de se expressar por meio da arte milenar, se dá pela libertação que naturalmente vem com os anos vividos.

Conforme Dago, mulheres e homens nessa faixa etária têm experiência de vida muito maior e não precisam mais pedir permissão, nem esperar a aprovação da família e da sociedade. “A maioria dessas pessoas já alcançou o sucesso profissional e está bem na vida social. Para alguns é uma forma de libertação, de mostrar que são donos do próprio corpo. Sem falar que pessoas entre 40 e 50 anos, hoje, cuidam da saúde e estão em plena forma física para mostrar suas tatuagens sem nenhum receio.”

 

Mídia ajuda a divulgar tatuagem

Elio, do estúdio Elio´s Faktory, conta que desde a abertura do estúdio já teve a oportunidade de tatuar três ou quatro pessoas mais velhas. O interesse desse público vem crescendo devido ao auxílio da mídia. Aos poucos, as expressões artísticas na pele se tornam comuns aos olhos de quem assiste televisão e lê jornal, afinal, muitos artistas famosos, apresentadores e personalidades são tatuados. “Programas de TV e internet principalmente”, comenta o tatuador. “Na real, eu vejo que a informação, internet sobretudo, foi o que fez com que as pessoas tirassem a ideia de marginalização desse tipo de arte”, declara Elio.

 

Estilo das tatuagens do pessoal “velha guarda”

Na opinião de Elio, pessoas com mais de 50 geralmente optam em tatuar nomes de familiares. “É este estilo que mais procuram.” No Dago, a preferência das mulheres é pelas iniciais de nomes, também de pessoas da família. Quando partem para o desenho, preferem estrelas e borboletas. E, nesse sentido, há duas utilidades: embelezar a pele e esconder cicatrizes de cirurgias plásticas, reparadoras ou adquiridas na infância.

Quanto aos homens, a maioria decide gravar o nome dos filhos e prefere desenhos maiores, feitos no braço. “Fazem a tatuagem para aparecer mesmo. Nada de desenho pequeno”, enfatiza Dago.

 

Tatuagem consciente

Rafael Marques, da Bisnaga Tattoo, acredita que uma tatuagem na pele, após os 50 anos, é personalidade pura. “Tatuagem tem tudo a ver com moda e o público mais velho percebe isso.” Para Rafael, uma pessoa mais velha se tatua por vários motivos: influência dos filhos, dos amigos e mais: pelo fato de acreditar que essa é a hora correta para tal decisão. “O preconceito ainda existe, mas uma pessoa madura sofre menos que os mais novos.”

Um dos “jovens” clientes de Rafael tem 52 anos e está fechando as costas no estúdio. Escolheu desenhar um anjo templário, numa referência aos cavaleiros templários.

O tatuador diz que é com grande emoção que aplica sua técnica na pele dessas pessoas, que no auge da vivência resolveram aderir à arte da expressão corporal por meio da tatuagem. “É incrível a sensação.”

 

 Maria Albertina Carneiro tem 48. Ela é cartorária e reside
em Barração. Procurou o Dago essa semana para fazer  
as iniciais dos filhos.

Paixão se tornou trabalho

Osni Irineu Freitas, hoje com 56 anos, fez sua primeira tatuagem quando completou 50. Atualmente, está com oito tattoos pelo corpo e ainda pretende fazer mais. Cada desenho tem seu significado especial: a primeira, um dragão no braço direito, tem as iniciais da esposa e das filhas — o dragão remete à força.

O pai de família também decidiu homenagear sua mãe reproduzindo a imagem de Nossa Senhora de Lurdes. O primeiro neto, o qual Osni tem como filho, ganhou uma caricatura. A mais recente, no pescoço, traz a frase “rock n’roll” e demonstra sua paixão por este estilo musical, desde a juventude.

Por que Osni resolveu fazer só depois dos 50 anos? No fundo, ele admite que sempre gostou da arte da tatuagem, mas confessa também que em sua época havia pouco profissionalismo e algumas tattoos chamavam a atenção não pela beleza. Sua vontade se tornou realidade quando, pelo destino, começou a trabalhar justamente nessa área. “Me apaixonei pelo universo da tatuagem.” Osni é pai de Bruna, casada com Dago.

 

Tatuagem nessa fase da vida precisa de cuidadoespecial?

A opinião dos tatuadores é unânime: em qualquer idade, os cuidados com a pele devem ser os mesmos na hora de optar pela tatuagem. Elio explica que a tattoo é algo superficial, atinge somente a segunda das três camadas da pele. “Quando feita por um profissional, a cicatrização se dá de maneira perfeita, sem maiores cuidados, incluso sobre cicatrizes, estrias, celulite, queimaduras, peles escuras ou até mesmo peles supersensíveis.”

O ideal, conforme Elio, é que a pessoa se informe antes de procurar o tatuador, ou seja, saiba mais sobre seu trabalho. “Não é uma boa se aventurar.”

E tem outro detalhe: deparar-se com clientes vaidosos nessa fase da vida é corriqueiro. Segundo Dago, as pessoas mais velhas estão cuidando da pele, da aparência e optam, quase sempre, por tatuar áreas do corpo que estejam firmes. Elas querem beleza e qualidade, afinal, é um registro na pele.

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