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Francisco Beltrão
terça-feira, 01 de julho de 2025

Edição 8.236

01/07/2025

Terezinha Chioquetta Gasparetto: Dos seus 90 anos, já viveu 65 em São João, com sua família de 9 filhos

Terezinha Chioquetta Gasparetto: Dos seus 90 anos, já viveu 65 em São João, com sua família de 9 filhos

Divulgação
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Maria Betin e Albino Chioquetta eram agricultores em Alfredo Chaves, atual Bento Gonçalves (RS), onde casaram. Quando já tinham quatro filhos — Adolfo, Cecília, Ancila e Oliva —, mudaram para Paim Filho, levando a mudança numa carroça e as crianças em cargueiro de cavalos.

Os filhos continuaram nascendo — Armando, Ricieri, Luiz, Albina, Vitorino, Terezinha, Ermelinda, Carolina, Plínio, Porcílio e Albino Ernesto.

Albino vivia no interior de Paim Filho (era distrito de Lagoa Vermelha). Os filhos trabalhavam na roça, Terezinha inclusive. Ele andava sempre a cavalo e fazia muitos negócios. De carroça, levava produtos da agricultura para Marcelino Ramos e voltava com sal, açúcar, ferramentas e muitos outros produtos. E foi com aquela atividade de comerciante ambulante que ele mudou para o Paraná, no início dos anos 40.

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Terezinha permaneceu mais tempo em Paim Filho, onde casou, no ano de 1946, com Antônio Gasparetto, que era de Maximiliano de Almeida, próximo a Paim Filho. Ela era a décima de uma família de 15 irmãos e ele, o antepenúltimo dos 12 filhos de Jacó e Joana Bortot Gasparetto. Lá nasceu a filha mais velha, Osvaldina. Em 1947, mudança para Pato Branco e um ano depois para São João, como pioneiros, no tempo que o local ainda era conhecido por São João das Guavirovas.

Em São João nasceram mais oito filhos: Loiri, Pedro (falecido aos 58 anos: 26.6.51 a 17.3.2010, foi vereador de 1983 a 1996), Neli, Luiz, Neiva, Neide, Altair (popular Vadeco, foi vereador na gestão 01-04, vice-prefeito na gestão 05-08 e é o atual prefeito de São João) e Lianara. Os filhos já lhes deram 25 netos, 28 bisnetos e 2 trinetos.

Além de criar aquela enorme família, o casal sempre participou da vida comunitária, ele como político, ela, pra se ter uma ideia, durante 37 anos foi chefe da cozinha nas festas da Matriz São João Batista — local, inclusive, da missa de seus 90 anos, celebrados dia 8 deste mês, com grande festa (entre os presentes, estavam Ermelinda de Nova Prata e Carolina de Pato Branco, as únicas ainda vivas dos 15 filhos de Maria e Albino Chioquetta).

Depois dos 80, Terezinha também aprendeu a pintar quadros. Ela não parece ter esta idade. Está sempre em atividade. Diz que não consegue ficar com a cabeça parada.

Além de agropecuarista, a família também possuiu serraria, o local do acidente que vitimou Antônio Gasparetto, com apenas 64 anos de idade (3.8.24 a 19.6.89). Ele foi vice-prefeito de Adino Scholz e Sírio Albino Hoffmann, nas gestões 65-70 e 73-77.

Em sua casa, do alto de um morro de onde se vê toda a cidade que ela viu crescer desde as primeiras casas, a mãe, avó, bisavó e trisavó Terezinha, pioneira de São João, agora nonagenária, recebeu o Jornal de Beltrão para esta entrevista.

 

Como lhe contaram que foi a mudança da família de Alfredo Chaves (atual Bento Gonçalves) para Paim Filho? Foi a cavalo e depois, de cargueiro, as crianças maiorzinhas dentro do cargueiro e o neném no colo.

 

Um em cada cesto. Um em cada cesto, e em um cesto tinha dois, os mais pequenos. Quando era chuva eles colocaram tipo uma lona em cima pra não molhar.

 

Por que seu pai mudou para Paim Filho, depois Pato Branco e depois São João? Porque naquela época precisavam de mais terra, e aqui era mais fácil colocar os filhos.

 

E o seu tempo de Nossa Senhora do Rosário, em Paim Filho, como foi? Me lembro como se fosse hoje, de casar dentro da igreja, igrejinha pequena. Nossa vida era boa, porque a gente se reunia sempre, trabalhava muito na roça, só que não existia como hoje tem, quando tu plantava tu tinha coisa pra comer e se não plantava, não tinha. Trigo tinha que plantar e colher pro gasto e levar no moinho pra ter a farinha, o pão, e quando terminava ficava sem, e o milho sempre teve, então a polenta nunca faltou. A criação era à vontade e, que nem a batatinha, plantava, quando terminava não tinha. Era assim, difícil, mas era vida boa, sempre bastante saúde e a gente se reunia entre família boa, tudo italiano, se reunia de noite ou fazia uma festinha, almoçava junto, toda a piazada se reunia, era muita amizade, brincadeira, era muito bonito.

 

A senhora ajudava na roça também? Depois de maiorzinha, sim, e tinha que trabalhar. E não era dizer que a gente tinha que ter calçado pra trabalhar, era descalço, sofrido. Nós ganhava uma muda de roupa bonita, pra uma festa que tinha uma vez por ano, que a nona fazia.

 

No tempo da colheita do trigo todo mundo ia pra roça? Todo mundo ia pra roça. Dia 8 de dezembro meu pai sempre tava de aniversário, então nós ia pra missa, ele ficava e almoçava em Paim Filho pra jogar baralho e nós ia pra casa, daí vinham os sobrinhos dele, a família se reunia e carneava uma novilha mais nova e ele vinha de noite. Daí todo mundo ia pra roça que era cortado o trigo, feitos os feixes uma parte e pôr no galpão pra depois trilhar e o resto ficava pra preparar a janta. Naquela época não era cerveja, gasosa, essas coisas, era as pipa de vinho. Ele chegava superfeliz, meio bêbado, mas alegre.

A senhora foi na aula em Paim Filho? Eu fui na aula na escola que era tudo junto até o quarto ano, e depois teve um ano de colégio, acho que por isso eu fui a única que ganhou colégio. Quando começou as freiras, só que não tinha ginásio, essas coisas, nós estudava dizer história sagrada, então eu estava na história sagrada, lá que eu aprendi muita coisa.

 

Quando a senhora casou, a senhora foi morar na casa do sogro? Sim, tinha dois rapaz e duas moças solteiras ainda, mas de idade já, tinha só dois mais novos do que ele, já era uma família criada.

 

E quando vocês resolveram vir por Paraná, eles vieram também? Não, só nós, ninguém dos parentes dele veio pra cá.

 

O Albino, seu pai, com toda a família que ele tinha, ele gostava de viajar, carroceiro? Não, ele não era carroceiro, ia a cavalo, os filhos que eram carroceiros, naquele tempo não existia caminhão, era com carroça, ele tinha dois ternos de carroça. Três dias de viagem pra chegar em Marcelino Ramos, ele comprava porco, milho, feijão, coisarada e eles transportavam pra Marcelino Ramos, de lá ele abastecia as latas de café, açúcar, sal, querosene, pra depois distribuir pros colonos que vendiam o produto pra ele, de tudo assim era ele que pegava.

 

Ele morava na agricultura, comprava os produtos dos agricultores, levava de carroça pra Marcelino e trazia de volta produtos. É, com carroça de cavalo, sete animal cada carroça, porque caminhava os porco, enchia os tamborzinho de banha, às vezes vinha carga de salame, de charque, milho. E se precisasse um médico bom mesmo, tinha que sair de Paim Filho pra poder vir em Marcelino Ramos.

 

Mas era viagem comprida, não era de ir e voltar no mesmo dia? Não, não dava. Era três dias pra vir as carroças e três dias pra voltar, e ele vinha a cavalo, que ele era o comprador e o vendedor, ele tinha o cavalo dele e o cachorro que acompanhava.

 

Quando vocês vieram pro Paraná o seu pai já estava aqui? Já, ele veio um ano antes que nós, mas ele já veio pra São João e nós ficamos um ano em Pato Branco. Quem foi buscar nós pra entrar de sócio foi o Vitorino, pra lidar com porco, mas não deu certo. Daí o tio Frederico foi pra Pato Branco, ele tinha sete, oito filhos e não tinha escola aqui, aí ele foi procurar nós pra vir cuidar da porcada e da terra dele. Nós viemos morar aqui, em julho de 1948, e ele foi morar em Passo da Pedra, em Pato Branco, e as piazadas tiveram escola lá. Nós ficamos aqui, dentro de três anos ficamos donos da terra, com porco a terra não valia nada, era 94 alqueires.

 

O que a senhora lembra da chegada em São João? Nem me fale, porque não presta nem se lembrar. A tristeza, a pobreza que tinha em São João, tudo gente pobre, tudo casinha de chão, a única coisa tinha uma igrejinha que o padre vinha uma vez a cada seis meses rezar uma missa. E as estrada! Caminhão não entrava, era só carroça mesmo.

 

De Pato Branco pra cá vocês vieram de carroça? Sim, de carroça. Do Rio Chopim pra cá não vinha caminhão, era de carroça. Do Rio Grande viemos de caminhão até Pato Branco e de Pato Branco de carroça até aqui, demorou três dias.

 

Dos seus nove filhos, oito nasceram aqui, e como é que nasceram? A primeira lá foi com o médico, aqui tudo com a parteira Marina Canã. Ela atendia superbem, parece que Deus ajuda num lugar assim, porque se precisasse de um médico não tinha, mas tinha parteira boa. Todos nasceram com ela, ela atendeu muita gente, pela prática que ela tinha.

 

E quando acontecia uma doença, precisava de médico, ia a Pato Branco? Tinha que ir pra Pato Branco.

 

E a sua família, muitas vezes precisou de médico? Até que não foi tanto, depois veio um farmacêutico bom aqui, o João de Deus chamavam, aquele atendia bastante. Ele que atendeu o Pedro, ele tinha aquela doença que tranca (crupe), é uma doença triste, ele ficou como morto quase uma hora e ele conseguiu limpar a garganta dele com uma pena de galinha, molhou no querosene, limpou e o Pedro voltou.

 

Mas deu algum medicamento também? Sim, só não me recordo o que era. Hospital não tinha, nós ficamos com ele internado num hotelzinho que tinha aqui na vila.

 

E quem ficou com as crianças? Nós sempre tivemos bastante peão, sempre tivemos uma mulher trabalhando com nós, e a nona morava perto, ajudava.

 

E a sua casa como que era, cheia de criança? Aquela casa que nós moremos era da falecida tia Herbina, era uma casa feita de madeira serrada a muque, coberta de tabuinha já toda meio podre. Daí nós construímos a primeira casa, foi mandado serrar os cepos, tudo de madeira de cerne, deu um trabalho! Tinha uma serraria em São Francisco, puxavam de carroça. A melhor casa que saiu em São João foi a nossa, todos se admiravam, e conseguiram trazer as telhas de fora. Daí foi construído essa que tá o Luizinho até hoje, uma casa de material, isso em 68. De lá nós resolvemos parar de lutar, peão, tudo, deixamos o filho morar lá e viemos pra cidade, só que, coitado (o marido Antônio), não viveu nem dois anos aqui.

 

Quando chegaram aqui as famílias eram bastante pobres, mas o tio se deu bem. Qual foi a principal atividade dele? De conseguir vida melhor, lutar com porcada. Depois ele alugou terra em Mangueirinha e começaram a comprar máquina, só que nós não tinha terra aqui preparada, e daí ele começou com lavoura em Mangueirinha, tavam em três sócios, compraram dois trator e colheitadeira. Ele e um primo compraram três trator de esteira, daí ele organizou toda a nossa terra. Paramos de lutar lá, lutamos aqui, daí os trator de esteira começaram a destocar pro interior em São João, fez muito destoque aqui. Depois foi terminando, o outro sócio desistiu, ficou só pra nós e o Pedro ficou cuidando também. Por fim foi vendido os trator e foi lutando só com lavoura. Antes de ir alugar terra em Mangueirinha, com gado, fizemos bastante pastagem de invernada, começamos com gado de criar, depois de vender, o gado sempre continuou, só depois que ele faleceu foi vendido, porque não tinha mais quem cuidasse direito, e foi mecanizada a terra que era a fazenda do gado.

 

Logo que chegaram, criavam porco solto? Solto, safra no meio da planta. E vendia tocado até Guarapuava a pé, tropa.

 

O seu pai ajudava também o seu Antônio? Atrás a cavalo, mas ele não lutou com safra, o Antônio que ia, e o velho Vital com os deles, só que não junto.

 

Voltava com uma sacolada de dinheiro? Decerto, sei que nós em seis anos ficamos de dono com 114 alqueires de terra, mas depois nós compramos o jipe e deu meningite na Neiva, nós gastamos muito com ela, que era tudo particular, ficamos 21 dias com ela no hospital em Pato Branco. Daí tivemos que vender terra, porque nós tinha comprado o jipe, não era tempo de safra e o hospital tinha que pagar.

 

Quando vocês compraram o jipe era pouca gente que tinha? Pouca gente que tinha, era novidade um carro aqui, porque no começo, quando precisava de uma corrida daqui a Pato Branco, tinha um jipe aqui em São João que era do Vitor Longo. Ele cansou de levar quando precisava, e depois foi que nós compramos, daí uns quantos já compraram, o tio Albineto comprou uma caminhonetinha, o velho Vital também comprou. Depois foi vendido o jipe e foi pegado uma Rural, porque era maior pra levar a piazada, no jipe ia pouco. Sei que o jipe ele usou na primeira campanha que ele fez na política, que ele era vice-prefeito (1964).

 

 A senhora viu São João crescer. Só cresceu, desde que começou, sempre foi pra frente, e nós tava sem prefeito aqui, daí começou a prefeitura e já se tornou tudo mais fácil. Banco também não tinha, era em Pato Branco, depois veio em Chopinzinho, agora faz tempo que tem aqui. Tivemos a graça de ter até o frigorífico aqui, todo mundo tem trabalho.

 

Está bem diferente de quando a senhora chegou, que a senhora falou que era uma tristeza, agora tem alegria. Agora é, daquele tempo e agora, imagina a diferença.

 

Quanto tempo a senhora demorou pra se acostumar e dizer que ia ficar aqui? Sabe que eu me acostumei meio fácil? Só sofri porque ficamos três meses junto com a minha irmã até eles se ajeitarem, daí pra costurar, pra fazer roupa pros filhos dela, ia lá na nona, que ela tinha máquina, a dona Maria, ia lá costurar. Eu me acostumei mais fácil porque tinha os meus pais aqui e meus irmãos mais novos, e os de Pato Branco, quando era pra vir no aniversário do nono, eles vinham, uma vez por ano, era difícil de vir. Só estavam o Plínio, o Porcílio e o Albino Ernesto junto com eles. Eles eram solteiros, daí o Plínio casou, o Porcílio casou, cada um foi morar na sua casa, que o nono colocou todos eles ali perto, e nós também ficamos ali, tava bom, a gente se acostumou mais fácil, mas foi difícil a vida no primeiro tempo.

 

E a filharada nascendo? Nascendo, aumentando a família, trabalhando sempre, mas era bom.

 

A senhora sempre teve saúde boa? Não, eu tive pontada de pneumonia dupla também. Uma vez fiquei 17 dias internada em Pato Branco, não conseguia mais nem caminhar. A Cecília veio do Rio Grande nos visitar, eu não caminhava, vieram a Pato Branco, tia Olívia, tio Armando (na verdade o irmão, ela chama os irmãos de tios), e eu não conseguia caminhar de fraca que fiquei. Passei começo de leucemia, quando o Michelon, marido da tia Olívia, faleceu, foi da leucemia, ele tinha os glóbulos vermelhos comendo os brancos, e eu tinha os brancos comendo os vermelhos, nós tava os dois internados, mas eu era o começo. Mas eu fiquei muito no hospital em Pato Branco, e eu consegui, o doutor conseguiu dar a volta, e ele não.

 

A senhora correu o risco de não chegar aos 90 então. É, corri. E depois me perfurou hérnia de disco, também perdi minha perna, quando ele (Antônio) faleceu eu não podia quase caminhar sozinha, tinha que estar sempre escorada com outro pra me ajudar. Fiquei seis meses que eles tinham que me carregar, daí comecei com uma cadeira de rodinha a andar dentro de casa. Hoje, por estar com essa idade, ainda consigo fazer alguma coisa. Fazendo meu tricozinho.

 

E os netos e os cachorros? Eu não sou tanto de cachorro, eu não gosto de cachorro dentro de casa, mais de tudo é a nora e a neta, Deus o livre, ela é apaixonada, mas tem que deixar, é gosto, cada um tem seu gosto.

 

E os netos visitam a senhora sempre? Visitam e eu tenho bastante amizade, o gerente da Coasul, os três maior da Coasul são que nem filho, me consideram como se fosse mãe deles, e tem o dr. Valmir, de Chopinzinho, eu sou mãe dele, a mãe dele mora no Rio Grande, os filhos dele me consideram, ele tem dois pequenininhos. Até, sábado (dia da festa dos 90 anos), andavam procurando o pequenininho que queria beijar a vó Terezinha, não tem três aninhos ainda. Os filhos do gerente da Coasul, o mais velho é juiz, mora em Londrina, é casado, eu sou avó dele, ele me liga sempre. A gente se sente feliz por causa da amizade que a gente tem e consideração. Eu sou pronta de ajudar qualquer coisa que precisam, eu sou pronta de ajudar o outro, só se eu não tenho, mas senão eu sempre sou pronta de ajudar.

 

Na política também sempre participou? Sempre, sempre participei.

 

O marido gostava também. Bem por isso, decerto os filhos puxaram bastante pro pai, e eu também acostumei, porque tinha que ajudar.

 

A eleição do Vadeco foi uma alegria. Foi uma alegria, até eu que nunca fui de ir no microfone falar e me fizeram subir no caminhão, me fizeram falar, o Renato, meu afilhado ah, Deus o livre, a madrinha tem que falar. Eu disse o que eu vou falar numa hora daquelas? Agradecer o povo, sofremos ameaça, mas, finalmente, fomos bem.

 

A senhora participa também do grupo de idosos? Não, não gostei, só participo da Legião de Maria, lá rezar eu vou, nós temos uma vez por semana a nossa reza.

 

A senhora vive intensamente a sua casa e a sua família. Minha casa e minha família, já tem que chega o que fazer, sempre tem visita, daí a gente tem companhia.

 

E a senhora teve uma linda festa de 90 anos. Teve uma linda festa, fiquei muito feliz porque deu tudo certo, deu pra aparecer todos, toda a minha família, reuniu todos, só que não pude dar muita atenção, e passou coisa muito bonita no telão, mas também coisa que fez dar risada.

 

O que a nona e o nono disseram quando a senhora apareceu com outro namorado? O nono conhecia porque ele viajava com carroça pra Maximiliano, ele conhecia a família dele, daí ele deixava os cavalos da carroça no potreiro onde que era do tio Gasparetto. E esse outro rapaz que eu namorava, ele era muito metido, então o meu pai conheceu e disse não, eles são de gente boa, e eu não conhecia. Tinha uma professora que parava lá em casa, uma tal de Liró Costa Milan, de Paim Filho, ela parava lá em casa pra ir dar aula na nossa escola. Fazia três meses que tava enamorando e o outro fez sucesso, aquele outro queria casar comigo, eu sei que daí parou aquele e meu pai confirmou, três meses depois que tava enamorando que eu queria contar a essa professora, tinha uma irmã que morava em Maximiliano de Almeida, tinha uma loja. Numa segunda-feira ela veio e disse ontem nós fomos pra Maximiliano de Almeida, me contaram que esse teu namorado é casado. Eu falei tá louca. Ela sim, é casado, eu disse será que é possível que tô namorando um homem casado? Fiquei apavorada, daí eu disse pro meu pai pai, a Liró falou que o Toni é casado. Ele disse eu não sei, sei que lá tem umas moças, tem. Daí eu disse mas vou perguntar pra ele. Ele veio e o que ele fez? Disse diga pra ela que sábado de tarde eu vou vir pra cá e daí vou pousar, daí ela vai vir aqui e eu vou perguntar quem que falou pra ela que eu tô casado. Ela queria atrapalhar o meu namoro, ela queria ela com ele, ela já tinha experimentado. Daí ela veio, não sabia que ele ia vir, ele perguntou pra ela qual será que é a minha mulher que tô casado? Conhece ela? Ela disse eu não. Daí eu disse como é que você veio me falar que ele era um homem casado, que eu tava namorando um homem casado? Daí ele disse assim só se eu for casado com você. Ela disse não, não, mas me contaram. Então ele disse antes de vir tu tava atrapalhando o nosso namoro, mas tu não vai conseguir. Mas eu enamorei uns par de rapaz. Tinha o irmão do tio Michelon, ele era alfaiate, aquele o meu pai não queria, sei que namorei uns par de rapaz, eu era perseguida pra enamorar.

 

Era das mais bonitas filhas do seu Albino? Que não, tinha de mais bonita, eu era a mais feia, eu me acho sempre a mais feia de todas nós irmãs, a tia Hervina era a mulher mais bonita que tinha, ela tinha o rosto mais comprido, a Lia puxou pra ela bastante, a neta dela, que a Luciana vai ser bisneta dela, aquela também é muito bonita, mora em Chopim.

 

Mas brigavam pela senhora. É, queriam casar com a filha do Albino. Uma vez meu pai me tirou da escola, ele não queria mais me deixar estudar no colégio porque os rapaz, me mandavam cartinha e as freiras contaram, disse vou te tirar do colégio. Eu dizia mas eu não tô enamorando. Claro que a gente respondia as cartinha, se for contar da minha vida, é muita coisa, Deus o livre.

 

Depois de casados teve períodos de ciúme entre a senhora e o seu Antônio? Sabe que não? Porque ficamos pouco tempo lá e daí viemos aqui no mato. Ter ciúme pra que se não tinha nada, a única coisa era junto com a família mesmo.

 

Como é que a senhora e o seu Antônio se conheceram? Numa festa lá perto de Paim Filho. Tava eu e uma irmã da tia Idolinda, eu tinha outro namorado, e eu não conhecia o Antônio. Quando nós tava numa bodeguinha vendendo negócio de pesca, nós estava em três, e daí essa Eulália, irmã da Idolinda, dos Guzo de Pato Branco, aquela era prima dele, ele (Antônio) tava na festa e daí ela veio e me disse Terezinha, tem um primo meu que quer conversar com você. Daí eu disse ué, eu não sei qual que é. E ela disse vou te mostrar. Ele não veio, ele pediu pra ela me levar onde que ele estava. Eu fui. Daí nós saímos para conversar, sentamos dentro de uma escola, foi difícil o nosso namoro. Colocamos duas moças cuidar na barraquinha e nós saímos, e o outro namorado, quando viu, enloucou. Tava eu, o tio Vitorino e a tia Aires, nós tinha ido a pé, e o Antônio tava a cavalo, porque ele foi de longe, era uma hora e meia a cavalo. Diz que quando ele não me viu mais lá, ele começou a procurar, daí nós ficamos dentro da escola porque ele ficou brabo, e combinamos de ir pra casa dele, já que ele queria conversar comigo e lá não dava. Já era meio tarde, o Vitorino foi a cavalo e eu, a Aires e ele fomos a pé. No outro domingo nós tínhamos festa na outra capela e lá eu tinha que trabalhar também, a autoridade e o padre iam almoçar na nossa casa. Daí diz que quando ele chegou, logo depois de meio-dia, nós subimos a pé na igreja. Quando chegamos, o outro tava lá, minha nossa, pintou o diabo, tocaram de mandar ele embora e já tinha polícia, almoçavam na casa do meu pai todos eles. E ele tinha um burro que vinha na frente, empinava aquele burro, brabo! Daí que nós começamos, nós se enxergava a cada 15, 20 dias, um mês, até mais às vezes, e daí deu certo o nosso namoro.

 

E o outro desistiu? Teve que desistir, mas ele fez espera. Depois ele tocava de cortar umas tábua pro vizinho, subia por um carreiro a cavalo, pra não passar ali naquela esquina.

 

A senhora não gostava dele ou gostou mais do Antônio? Gostei mais do Antônio, nós não se conhecia e deu certo, como que pode! Fazia um ano nós já era noivo, daí faleceu a mãe dele e tinha que esperar um ano pra casar, demoramos um ano, tivemos que esperar.

 

E a morte do Antônio, como foi? Foi um acidente numa serraria, até hoje não sei onde que pegou, porque não me deixaram ver e depois não quis nem que me contassem, que pra nós foi a coisa mais triste do mundo, com tudo o que ele fez, e numa hora triste acontecer o que aconteceu pra ele. Só o Vadeco que viu.

 

Como foi aquele dia? De manhã ele foi na lavoura, tava o trigo bonito. E daí ele veio embora almoçar e disse Terezinha, o trigo tá a coisa mais linda! Ele trouxe umas frutas de lá, porque tinha uma bergamota diferente que aqui não tem. Já tava pronto o almoço, aí ele almoçou e, claro, eu tinha que deitar, eu quase não podia caminhar, e ele também deitava de meio-dia, daí aqueles dias ele disse assim o Vadeco vai carregar a madeira com o caminhão e eu vou descer lá, pegar o caminhão pra ir na serraria que a madeira tá pronta, era madeira de fazer o mangueirão do gado. Daí ele saiu, me disse que ia lá em baixo pra mandar o Vadeco, só que eu pensei que eles tinham ido, aí ele veio pra São João, mas não veio em casa, ele foi lá que o Pedro trabalhava. Ele saiu dali e foi lá pra serraria e o Vadeco tava lá. No outro dia eu tinha que fazer almoço pra turma do núcleo de Pato Branco, e eu tinha empregada, e tinha fogo na lenha na outra casa. De noite ele queria comer peixe e tinha que fazer a polenta lá, e eu tinha tirado a carne pro outro dia, o almoço era pra seis. Eu bati um bolo, deixei no forninho assando e fui levar o peixe pra empregada fazer e ia começar a polenta. Quando ia indo ali, chegaram o Vadeco e o Luiz com a caminhonete. Eu disse Vadeco, e o pai onde que tá, que tu tá com a caminhoneta dele? Daí ele disse o pai ficou, ele já vai vir. Naquilo eu vi que chegou o Nilton aqui e mais três, quatro, e eu Vadeco, cadê o pai? Ele disse mãe, o pai tá no hospital, ele se machucou, e eu comecei a gritar. O Nilton veio e disse tia, o tio se foi. Pensa, foi um gritedo só, por quê? Porque nós dois se dava muito bem! Eu disse não pode ter acontecido nada com ele. Eu queria ir no hospital, e o Nilton disse tia, não, o tio não tá no hospital. Meu Deus do céu, eu tinha a Bíblia aberta, sempre tenho na mesa da sala, joguei a Bíblia e disse ele tá com o crucifixo no pescoço, ainda morrer na serraria, por quê? Sei que o padre e uma irmã que tavam ali, o padre Germundo, juntou a Bíblia e começaram a me aconselhar. Reuniu muita gente, daí eles contaram que levaram no IML de Pato Branco, imagina como a gente fica, não foi fácil pra aceitar aquilo, porque no domingo ele tinha ido na missa, tinha ido comungar, todo feliz da vida, todo o domingo assava carne, reunia os filhos, e depois ver ele chegar num caixão, não é fácil. Até hoje parece que ele tá pra chegar, ainda tá ali a caminhonete dele, não deixei vender, não fazia nem um ano que nós tinha comprado. A vida foi muito triste. Depois outra que a gente também não aceitou foi a morte do Pedro, porque a gente nunca deveria perder um filho antes.

 

O Pedro foi doença. Foi doença, câncer, ele durou 71 dias, que ele foi pra Curitiba, ele veio duas vezes pra casa… Eu tava deitada de meio-dia, a Neiva tava aqui, foi avisado que era pra ela vir. O Vadeco tava arrumando uma gaiola pros passarinho e eu fui deitar, daí vi que me chamou mãe! E eu tava deitada no meu quarto, era umas duas horas, de novo mãe! Eu disse o que, Vadeco? Pensei que era o Vadeco que me chamava. Ele chamou de novo daí eu disse Vadeco... daí vi que não me respondeu, levantei, a empregada tava lavando a área, disse Vanilda, cadê o Vadeco? Ela disse o Vadeco saiu. E a Neiva? Ela disse a Neiva também, tô só eu lavando a parede aqui. Eu disse, meu Deus, o Pedro que me chamou então, e foi ele mesmo. O Vadeco veio, a Neiva fez o chimarrão e eu disse o Pedro me chamou.

 

A sua vida teve alegrias e tristezas. Teve muita tristeza, só que tem uma coisa em mim, acho que Deus me dá muita força, eu não sou capaz de guardar rancor dessas coisas, sempre tenho uma intenção positiva, negativa não, e sempre parece que tem uma coisa que me ajuda, porque numa hora que precisa eu oro, peço Jesus me ajude, e ele me atende. Eu sou feliz por causa disso aí que a gente tá envolvido, feliz, tem as horas de tristeza, tem as horas de choro, mas a vida é assim. Só penso que pela minha idade Deus está me dando muita força ainda.

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