As amigas Ana Caroline Basso, Bruna dos Santos, Bruna Silvestro e Paloma Correa Valter voltavam do carnaval em Santa Catarina quando sofreram um acidente e faleceram em São José do Cerrito (SC).

No dia 25 de fevereiro de 2020, o município de Dois Vizinhos chorou a morte das meninas Bruna dos Santos, Ana Caroline Basso, Bruna Silvestro e Paloma Correa Valter, todas com idade entre 24 e 26 anos.
Era quarta-feira de cinzas, as jovens haviam passado o carnaval em Florianópolis (SC) e retornavam para casa. Elas estavam em um GM/Ônix que aquaplanou, rodou na pista, bateu no guard rail e parou. Uma caminhonete, que vinha no sentido contrário, não conseguiu frear e atingiu a parte traseira do veículo. O acidente aconteceu em São José do Cerrito (SC). Apenas Bruna dos Santos não morreu na hora, mas acabou falecendo ao dar entrada no hospital, em Lages (SC).
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Missa da Saudade
Na noite de ontem, 24, na Paróquia Santo Antônio, aconteceu a missa da saudade. As mães Ini Sguissardi dos Santos, Carla Basso, Mariza Silvestro e Rosemeri Amadei, participaram do Programa Sete e Meia e motivaram, inclusive, a população que comparecesse na celebração e fazer a doação de um quilo de alimento não perecível. “Para nós é um dia muito triste, é até difícil falar, o coração aperta, dói”, resumiu Rosemeri.
“Elas participavam de diversos projetos sociais e nós vamos continuar isso. Na nossa cidade, temos muitas pessoas que precisam, mas nem sempre de alimentos, roupas ou calçados. Tem gente que precisa de carinho, amor, de ouvir uma palavra amiga, então, esse projeto das mães é o que vai nos dar força para continuar. A gente quer se doar, levar para quem mais precisa a nossa atenção, o carinho. Com poucas coisas, podemos fazer e, para nós, vai ser muito grande”, acrescentou Mariza.
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Como foi esse ano?
O jornalista Valdir Pagnoncelli perguntou para as mães como está sendo conviver com a perda. Elas também falaram sobre as jovens.
Paloma Correa Valter se formou na Unipar, de Cascavel, no curso de Odontologia. Ela era especialista em harmonização facial e tinha seu próprio consultório em Dois Vizinhos. Filha de Moacir Corrêa Valter e Rosemeri Amadei, proprietários da Auto Escola Dois Vizinhos.
“A dra. Paloma ainda morava conosco, tinha o consultório dela no mesmo prédio. Uma menina maravilhosa, todas eram amigas de uma vida toda. Tiveram uma infância, uma juventude, compartilhavam problemas das faculdades, festas e partiram juntas. Deus as levou, estão no céu. Eu acho que elas tinham uma missão na terra porque não é de propósito elas nascerem e morrerem juntas”, disse Rosemeri.
A mãe acrescentou. “Tá sendo muito, muito difícil conviver com a saudade. A gente tinha planejado parar de trabalhar e, nestes momentos difíceis, não sabemos o que fazer. Se a gente para, não sabe o que vai fazer da vida. Estamos no trabalho para segurar, passar o tempo. Eu tenho outra filha, a Morgana, que está com 23 anos, também cursa Odontologia, vai se formar dentista e vai seguir a carreira da irmã, que fazia harmonização facial. A Paloma tinha uma linda carreira, estava com uma viagem agendada para os Estados Unidos onde faria um curso avançado de harmonização facial e a formação foi adiada por causa da pandemia, então, encaixou tudo para a Morgana fazer o curso em novembro”, disse.
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O relato emocionado dos pais sobre as perdas das filhas
Bruna Silvestro
Bruna era médica formada na UFSC e trabalhava na unidade de Saúde do Bairro da Lapa, em São Jorge. Filha de Nilson Silvestro, chefe do Núcleo Regional de Educação e de Mariza Silvestro que trabalha na Secretaria de Agricultura.
“Falar da Bruna é fácil, ela era muito estudiosa, nunca deu problema. Era meiga, muito decidida, amava ajudar as pessoas, a causa animal, no que precisávamos, e partiu. Ela tinha a vida toda decidida, planejada. Sempre soube que iria cursar Medicina, assim o fez, formou-se e, no dia da formatura, me disse que queria ficar uns meses conosco em casa. Ela veio, ficou seis meses conosco e partiu”, lembrou.
Mariza relatou que os familiares e a Bruna tinham planos distintos: a família queria que ela continuasse os estudos, mas a jovem queria voltar para casa. “Ela graduou e até insistimos para ela continuar os estudos, mas ela queria vir para casa. Ela amava ficar aqui, queria voltar para Dois Vizinhos”, completou.
Mariza também tem outra filha que segue em Florianópolis. “A Laura também é uma menina muito querida, estudiosa, que teve que continuar lá em Florianópolis porque precisa terminar os estudos dela. Ela está fazendo doutorado. Nós, aqui, temos que seguir. Temos só duas opções: cair ou seguir. Estamos tentando seguir. Está fácil? Não, é muito difícil. Tem horas que falta o ar, a tristeza é muito grande. Quando eu levanto, peço para Deus que me dê coragem e força. Peço a ela também, tenho ela dia e noite ao meu lado. Uma mãe e um pai não tinham que perder um filho”, lamentou.
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Ana Caroline Basso
Formada em Arquitetura na Unipar, Ana Caroline concluiu uma formação nos Estados Unidos, em 2018. Seu pai, Anacleto, trabalha no Detran. Sua mãe, Carla, é professora e atua na Escola Presidente Vargas.
“É uma ausência que não tem remédio, não tem o que fazer. A Ana Caroline passou um ano nos Estados Unidos, mas quando sentíamos saudade, dava para ligar e a gente matava a saudade. Agora não tem mais isso. Ela era uma menina muito querida, sempre foram amigas, a Bruna Silvestro era minha afilhada, viviam juntas e o que nos conforta é que elas eram felizes. O que nos segura, são as pessoas que dizem que estão orando, rezando por nós. Essa oração, essa força, nos deixa de pé. Não é fácil, a ausência é muito doída. Você chegar no quarto, sentir o cheiro dela, o quarto está como ela deixou, eu não tenho coragem de mexer porque a gente tem a sensação de que ela vai voltar e ela gostaria de encontrar o quarto como ela deixou”, relatou.
Carla tem outros dois filhos e uma neta. “Sou mãe da Ana Carla, ela tem nossa neta Maria Luiza, um amor de criança, temos o Júnior também. Nós nos abraçamos e tentamos seguir juntos, um dando apoio para o outro. Quando um está meio capenga, o outro tenta erguer.”
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Bruna dos Santos
Formou-se em Odontologia na Unipar em Cascavel. Atuava com odontopediatria e era filha José Odone dos Santos e Ini Sguissardi dos Santos. Ela trabalhava na CliniSan com seu irmão e tinha atuação destacada em trabalhos voluntários e nos conselhos da Acedv/CDL.
Ini também falou sobre a filha Bruna dos Santos. “Falar de nossas filhas, é doloroso. Ao mesmo tempo, a gente, às vezes, fica feliz porque elas realizaram os sonhos delas. Não fizeram tudo o que queriam porque tinham muitos projetos. A Bruna era odontopediatra, atendia na CliniSan, fez a clínica do jeito que ela queria, atendia as crianças com muito carinho. Quando ela terminou a especialização, ela disse que iria fazer outro curso. Eu disse para dar uma pausa, trabalhar um pouco e depois voltar a estudar. A gente sonhava junto porque pai e mãe sonham pelos filhos. Tudo o que você planeja é para os filhos. Essa maneira que elas foram arrancadas de nós, é muito dolorosa. Essa perda da presença física conosco é dolorosa. Passou um ano e nós temos a mesma dor”.
Ela fala sobre a luta para tentar viver sem pensar no acidente. “A gente tenta não ser nós durante o dia. Eu saio pelo comércio, às vezes, e penso que só quero conversar com alguém desde que não toque no assunto. Então a gente vai para casa, chora em silêncio, vai no cemitério, faz as orações, pede para elas, porque se existir um céu, elas estão lá. A gente conversa muito. Não é fácil lutar, a família toda sofre. A gente sente, entre nós pais, entre famílias, tentamos ficar calados e não comentar muito porque, se ficarmos comentando, a gente só chora. Eu sou mãe também do dr. Matheus que é dentista, está terminando pós-graduação de ortodontia e do Lucas que faz Direito. O Matheus continuou com a clínica e, hoje, após um ano, conseguiu tocar”, conclui.