Vassoureiros de Eneas Marques produzem 35 mil unidades ao ano
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Valdir e Isaque colhem apenas o cacho da palha. Eles têm 24 ha de área plantada com grão, que é parecido com o processo do milho, ou seja, é cultura de verão. |
A família Correa, que mora na comunidade de Lajeado Bonito, em Eneas Marques, pode ser considerada um exemplo de empreendedorismo rural. Valdir Correa e os filhos Roque e Isaque produzem hoje cerca de 35 mil vassouras de palha por ano. Eles têm uma fábrica completa na propriedade, o processo começa no plantio do grão, ainda em setembro, e termina somente na comercialização do produto, que é entregue a supermercados ou repassadores. Tem trabalho para o ano todo, eles se dedicam à atividade seis dias por semana.
A tradição da família começou há cerca de 50 anos, quando Antônio Acássio Correa, pai de Valdir, se mudou de Tubarão (SC) para Verê. “Quem nos incentivou a plantar vassoura foi o Adão Vassoureiro, que era famoso em Francisco Beltrão. Com o tempo, a gente aprendeu e começou a produzir também”, lembra-se Valdir, que se mudou para Eneas Marques há 35 anos e montou a sua própria fábrica. Seu irmão, Valmir, herdou a estrutura do pai e continua produzindo em Lajeado Grande, comunidade no interior de Dois Vizinhos. Portanto, Roque e Isaque já fazem parte da terceira geração da família que está no ramo. “Espero que meu filho goste da atividade e siga os nossos passos. É um trabalho muito bom, dá uma boa renda e a gente faz os nossos horários”, diz Roque, que tem um filho, Gabriel, de apenas 9 meses de idade. O garoto é candidato a seguir na quarta geração dos vassoureiros.
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Isaque usa uma trilhadeira da Triton para separar a palha da semente, que é vendida para confinamentos de gado como substituto do sorgo. |
Começo difícil
Valdir casou com 23 anos, mas não tinha estrutura para montar a fábrica. A produção de vassouras não era a sua única atividade — ele plantava soja e milho também. “A lavoura me dava uma garantia, pois eu estava começando com as vassouras”, conta. Quando tinha sol, Valdir ia para a roça cuidar dos grãos. Quando chovia, ele entrava no seu galpão e ficava horas e horas costurando e amarrando vassouras. “Nos domingos eu também trabalhava com essa atividade. Tinha os filhos pequenos, precisava botar comida dentro de casa”, diz Valdir.
Mas certo dia o esforço deste pai de família foi recompensado. Teve uma forte geada que atingiu o Norte do Paraná, que era referência na produção de vassouras. Foi aí que Valdir pagou o seu financiamento, vendendo para lá a sua produção a um valor bem acima do praticado no Sudoeste. “Como faltou vassoura lá, até eles plantarem e produzirem de novo, eu tive que ajudar a manter a circulação de mercadorias por lá. Foi muito bom, consegui me estruturar”, lembra-se.
A família Correa começou tudo do zero, ganhando seu dinheiro honestamente, e hoje a história deles é conhecida em todo o município. “Todo mundo aqui nos respeita, não temos um real financiado. A gente pode chegar e abrir uma conta em qualquer loja no comércio que eles sabem que o pagamento é garantido. Isso é trabalho de anos e anos buscando essa credibilidade”, afirma Roque.
Valdir conta que no começo contou com a ajuda do Sebrae de Pato Branco para aprender a administrar as contas da fábrica. “Foi muito bom o aprendizado, até então a gente não sabia administrar essa questão de compra e venda, era tudo muito diferente. Até porque a gente vendia as vassouras nas costas naquele tempo, hoje os compradores vêm buscar em casa”, afirma.
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Valdir leva a palha para um galpão onde é guardado todo o estoque da produção. Agora começa o processo artesanal, que dura 10 minutos. |
Processo de produção
A produção de vassouras é a única atividade na propriedade da família Correa. Desde que o Plano Real entrou, em 1993, a família passou a se dedicar somente às vassouras. “A gente não tinha segurança financeira com o plano cruzado, era muita instabilidade. Mas com o real resolvemos apostar e deu certo.”
Hoje o pai e os dois filhos têm uma logística muito boa para a produção. Eles começam a plantar em setembro, mas não é tudo de uma vez, vai um alqueire por semana. Assim, na hora de colher, eles conseguem fazer tudo com apenas três pessoas trabalhando. “O problema é que a colheita é manual, a gente tira somente aqueles 40 centímetros do cacho da vassoura, o resto fica tudo na lavoura”, diz Isaque.
Depois de colhida, a palha passa por uma trilhadeira para tirar as sementes, que são vendidas posteriormente para confinamentos de gado como alternativa ao sorgo (cerca de 400 sacos por ano a R$ 14 o quilo). Aí começa o processo artesanal: enquanto um dos irmãos amarra a palha ao cabo com um arame em uma máquina artesanal, o outro costura a vassoura para dar a forma. Em seguida, é cortado o excesso de palha na base da vassoura e o produto está pronto para ser vendido. Nesse processo artesanal, os irmãos chegam a fazer 250 vassouras por dia. A família vende até 80 dúzias por semana.
Valdir conta que a demanda é muito grande e que, se tivesse mais mão de obra, poderia vender três vezes mais. “A gente já tentou contratar outras pessoas para aumentar a produção, mas nos incomodamos muito. Então resolvemos nos dedicar somente à produção que temos condições, ficou melhor assim.”
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Roque usa uma máquina feita pelo seu avô (Antônio) para amarrar a palha ao cabo de vassoura, que é comprado em São Lourenço do Oeste (SC). |
Família unida
Acima de tudo, para Valdir, a melhor parte de ter os filhos produzindo vassouras com ele é que a família fica muito unida. “A gente nunca briga, todo mundo se ajuda e quer ver o outro se dando bem. Eu não posso reclamar dos meus filhos, eles são trabalhadores. E nessa atividade, se não trabalhar, não ganha dinheiro”, destaca o pai, satisfeito em olhar tudo o que construiu. “A gente fica feliz quando compara com o que tínhamos no passado. Meu pai ralou bastante para que hoje a gente tivesse essa condição. E nós aprendemos a viver assim, temos reserva de dinheiro em caso de algum ano de crise.”
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Isaque agora costura a palha da vassoura com outra máquina caseira. Ele chega a fazer esse mesmo processo cerca de 250 vezes por dia. |
Sociedade
O sucesso da fábrica de vassouras foi tanto que Valdir tem hoje uma sociedade com os filhos. Roque e Isaque entram com a mão de obra e vendem aproximadamente 24 mil unidades por ano para atravessadores. Valdir, que entrou na sociedade com a estrutura, tem a liberdade de vender tudo o que produz, cerca de 10 mil vassouras por ano. Mas ele atende os supermercados da região com sua produção. “A gente se entende muito bem assim, gostamos muito do que fazemos”, declara Isaque.
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Por fim, Isaque corta o excesso de palha que fica na base da vassoura e o produto está pronto para ser vendido para repassadores ou supermercados. |